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por Bruno Abreu

A forma como olhamos faz toda a importância


Não existe maldade na Terra senão no ser humano. Na mente humana nascem as atrocidades que sabemos acontecerem todos os dias.

Por incrível que pareça, não são muitos os motivos que nos levam a esta forma de funcionamento autodestrutiva.

Se formos analisar, são atos nascidos das emoções negativas de orgulho, egoísmo, ganância e pouco mais.

Estas emoções nascem por vivermos cegamente a servir uma individualidade me vez de um todo.

Quando nos sentimos a parte da humanidade, ou seja, um ser individual, nascem em nós o egoísmo, o orgulho, a ganância, todas as emoções que nos individualizam e estas são a maldade que existe na humanidade.

A ideia da individualidade é altamente destrutiva e acontece pelo desejo de posse, estando ligada a forma de vida material.

Sei que parece impossível não sentirmos esta individualidade, mas existem caminhos que nos afastam dela.

Olhemos para uma árvore de fruta. Podemos ver as frutas penduradas em sua árvore e pensamos que é uma laranja, mas pode uma laranja existir sem essa árvore.

Quando se separa inicia a sua decadência, pois é alimentada pela árvore em seu ciclo.

Quando olhamos para um corpo humano que rotulamos com um nome, criamos a ideia que é uma individualidade separado de tudo, mas poderia este corpo existir sem o planeta? Ou este corpo faz parte da evolução planetária e se sustenta deste?

Ao olharmos de forma tão global, podemos perceber que o corpo para o planeta é como uma célula para o nosso corpo, visto de forma microscópica. Sem o corpo a célula não existe, sem o planeta o corpo não existe, pois até os Astronautas que vão para o espaço tem de levar condições terrenas para sobreviverem.

Muitas das coisas na Terra não são percetíveis pelos sentidos, o que nos faz imaginar de que somos separados do restante, mas a única coisa separada é a ideia que caracteriza o Ego. Esta separação ilusória, ideia que acompanha a humanidade desde que é inteligente, deveria ter terminado quando a ciência comprovou que não existiam espaços vazios no universo, em especial, no nosso planeta.

O problema é o apego à posse dos bens materiais, onde está incluído o poder. Dá-nos tanta satisfação que mantemos a ideia da individualidade em chama acesa.

No campo mental, pois a individualidade é criada neste campo, com forma-pensamento, através do caráter, estamos todos ligados a uma energia mental que nos mantém num funcionamento idêntico, que reveste o planeta como se fosse uma atmosfera.

Cada forma-pensamento alimenta essa atmosfera, que por sua vez, nos alimenta a nós.

O pai da psicologia analítica chamou-a de inconsciente coletivo, onde permanecem os arquétipos e tudo o resto.

Na Doutrina Espírita falamos em atmosfera moral, que caminha com a humanidade, pois é elaborada por esta. Esta atmosfera, atrai os espíritos de baixa moral, pela forma que é constituída.

O Mestre Jesus alerta-nos para este problema, com a indicação de “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação”. Esta vigia é feita sobre a nossa mente, sobre o que aparece nesta e este movimento mostra-nos que nós, para além de criadores, somos antenas captadoras de emoções, sentimentos e pensamentos.

Porque o Mestre nos aconselharia a vigiar a mente ou o pensamento se tudo fosse criado por nós? Se assim fosse aconselharia a vigiarmos as criações.

Quem já fez ou experimentou um pouco de meditação, ou tentou ficar uns minutos sem pensar, percebeu que rapidamente está inundado por pensamentos.

A mente é uma antena que capta o que lhe aparece e se afiniza, tal como os olhos veem para onde se viram ou os ouvidos ouvem o que aparece dentro de determinados parâmetros, sem qualquer escolha.

Nós vivemos e agimos de determinada forma individual por acharmos que tudo o que aparece em nossas mentes é nosso e por isto, somos facilmente obsidiados.

Esta atmosfera moral que nos liga a todos, faz com que o homem de uma grande cidade seja idêntico ao homem do outro lado do planeta em um meio muito rural e despovoado.

A forma de vida pode ser diferente, pois o meio que o rodeia é um pouco diferente, mas o interior destas pessoas, o que os motiva e o que o que impulsiona a sua constituição, é precisamente igual, pois se alimenta desta atmosfera mental e mantêm os padrões de funcionamento idênticos. Todos os seres humanos, com raras exceções como o Mestre Jesus, são movidos pelo tipo de emoções como o egoísmo, orgulho, ganância, desejo de poder.

Não existe separação psíquica a não ser na ideia de que esta existe. Se em vez de olharmos o caráter, espreitarmos para além deste, o que o constituiu em conjunto com o meio ambiente inserido, vemos que somos formados pela mesma força.

É claro que existem pessoas de mais elevação moral que outras, mas... como acontece essa diferença?

Esta é uma conquista atual ou de vidas passadas. Determinados pensamentos surgem em nossas mentes e pelo desapego conquistado na libertação de tais defeitos, colocamos de lado este tipo de pensamento.

Paulo de Tarso afirma que “Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém”. Nós escolhemos o que nos convém ou não, mas quase tudo nos aparece em nossas mentes, daí a importância do “Vigiai e Orai para que não entreis em tentação”.

Esta é a maior dificuldade na Terra, suportar a chuva de pensamentos que nos incentivam ao apego terreno. O melhor chapéu de chuva, é a atenção ou vigia, desenvolvido através do hábito e exercícios de atenção. O resultado, o crescimento espiritual, que Jesus chamou de desapego. O pensamento aparece, não nos move porque já não somos apegados a este defeito, por conquista anterior, mantendo em ativo a mente saudável.

Mesmo na sabedoria do silêncio, nunca seremos uma individualidade separada do Universo, pois segundo o Mestre tornamo-nos unos com Deus.

Sermos individualidades separadas de um todo, tornamo-nos tóxicos, pois a ideia da individualidade alimenta as emoções egoístas e orgulhosas da humanidade.

Veja a individualidade da seguinte forma. Quando olhamos para este corpo vemos algo separado, mas quando abrimos, vemos os órgãos como individuais, o coração, o fígado etc. Então esses órgãos parecem individuais, que trabalham para o todo do corpo. Mas quando olhamos esses órgãos de forma mais próximos vemos células que se tornam individuais, mas essas células trabalham para um todo, como o órgão, que trabalham para um todo, como o corpo. Porque paramos no corpo?

Muitos astronautas falam que do espaço o planeta parece um todo, fazendo de nós parte, e podemos ver facilmente que o que fazemos influencia o todo, fazendo de nós uma pequena parte e não seres isolados.


Bruno Abreu reside em Lisboa, Portugal.

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita