1- Sempre houve calamidades
A nossa História é pontilhada por desastres climáticos,
geológicos, doenças enigmáticas e conflitos bélicos. Terremotos,
incêndios de grandes proporções, tsunamis, pragas, pestes,
guerras... são apenas alguns exemplos dos chamados desastres
naturais ou provocados, que causam devastação e morte, isso
ajuizando os efeitos materiais, pois decorrem deles também
imensas consequências morais.
Forças da Natureza ainda incontroláveis pelo homem, governadas
por leis imutáveis criadas por Deus, regendo o comportamento da
Terra, estão por trás dos cataclismos naturais, gerando medo e
pavor em muitos - crentes ou descrentes em Deus.
Na antiguidade, esses flagelos provocavam imenso temor e pânico
para os frágeis humanos, ignorantes dos mecanismos controladores
dessas forças naturais, totalmente imprevisíveis e
descontroladas, com o passar do tempo, ainda geram apreensão e
ansiedade, contudo, a compreensão hoje em dia das causas destas
chamadas catástrofes estão sendo mais bem conhecidas e, por meio
de estudos e pesquisas cada vez mais avançados, o homem, usando
a sua inteligência, descobriu pouco a pouco como se defender e
tratar, mesmo parcialmente, com estas agora não tão inesperadas
calamidades.
2- Por quais razões acontecem tantas calamidades?
Hoje, graças ao advento da Terceira Revelação - a Doutrina
Espírita -, sabemos por quais razões o Criador permite que esses
mecanismos saneadores, atingindo a Humanidade em larga escala,
aconteçam com certa regularidade e por meio de variadas formas.
Entretanto, com que fim Deus castiga a Humanidade por
meio de flagelos destruidores?
“Para fazê-la progredir mais depressa. [...]”1
Acelerar o progresso, este é o sábio objetivo de Deus ao
permitir que, por meio de suas imutáveis leis físicas
controladoras da Natureza, sejamos atingidos pelas assim
denominadas calamidades.
Mas, efetivamente, como esse progresso se materializa:
Para o homem, os flagelos não seriam também provações morais, ao
fazerem que ele se defronte com as mais aflitivas necessidades?
“Os flagelos são provas que dão ao homem oportunidade de
exercitar a sua inteligência, de demonstrar sua paciência e
resignação ante a vontade de Deus, permitindo-lhe manifestar
seus sentimentos de abnegação, de desinteresse e de amor ao
próximo, caso o egoísmo não o domine.”2
3- Como podemos identificar estes esperados progressos?
Pela resposta dos Luminares, observam-se três mecanismos onde se
pode compreender o modo como esse progresso ocorre:
a. Dão ao homem oportunidade de exercitar a sua inteligência –
Como exemplo significativo deste exercício, pode-se tomar o
Japão como um caso direto desse objetivo. Avançadas tecnologias
de engenharia civil desenvolvidas há anos pelos japoneses visam
minimizar os prejuízos materiais e mortes causados pelos
desastres naturais, frequentes naquele arquipélago do pacífico.
Hoje, muitas edificações continuam integras naquele país, após
significativos abalos sísmicos, graças a dispositivos
engenhosamente elaborados e instalados nessas estruturas, sendo
considerado o país mais bem preparado para suportar terremotos.
Não temos controle sobre as condições interiores da Terra –
magma e placas tectônicas -, mas quando elas nos surpreendem,
por meio de vulcões e terremotos, e isso faz parte do processo
evolutivo, nos dão a oportunidade de trabalhar mais a nossa
inteligência visando lidar e atenuar os seus efeitos
devastadores.
b. Dão ao homem oportunidade de demonstrar sua paciência e
resignação ante a vontade de Deus – Pode-se tomar o Brasil
como exemplo concreto desse objetivo. O povo brasileiro, após a
ocorrência de catástrofes naturais, dá depoimentos onde
expressam, caso sejam crentes, a confiança em Deus, sem
condená-lo por conta das perdas materiais e mesmo humanas,
comuns após episódios deste tipo. Afirmam também, geralmente,
que vão se recuperar e começar tudo de novo. Agindo assim, o
homem progride moralmente.
c. Dão ao homem oportunidade de manifestar seus sentimentos
de abnegação, de desinteresse e de amor ao próximo, caso o
egoísmo não o domine – Mais uma vez, o Brasil pode ser usado
com modelo. O povo, diante de catástrofes, se movimenta de
variadas formas para auxiliar e apoiar os atingidos pelas
calamidades, patenteando a solidariedade, compaixão e a piedade.
Agindo assim, o homem progride moralmente. Infelizmente, só não
se manifestam, como bem destacado na resposta dos Espíritos, os
egoístas. Os últimos se contentam em destacar - confortavelmente
sentados em suas poltronas -, a responsabilidade dos
administradores municipais, estaduais e federais, como únicos
culpados pelas consequências consideradas catastróficas desses
fenômenos.
4- Alguém morreu antes da hora?
Há outra linha de questionamento trazendo certo desconforto
quando se busca explicar as muitas mortes ocorridas nestes
cataclismos: Haveria mortes ocasionais? Quem estava no local,
talvez desavisado, foi surpreendido pelo acaso?
De início, destacamos que o espírita está muito bem informado
sobre a inexistência do acaso, sendo assim, não é possível
ocorrer uma morte acidental. Contudo, a grande maioria
desconhece os postulados espíritas, desta forma, para fornecer
uma rápida explicação, não podemos admitir, pela razão, que Deus
não tenha controle sobre sua criação, afinal, Ele não é
onipresente, onipotente e onisciente? Se Ele é detentor desses
três atributos, entre outros, não se pode jamais imaginar alguém
morrendo inesperadamente, em resultado de estar na hora, dia e
local errados, como se diz no dia a dia: foi azar, ou
pior, foi uma fatalidade! E mais, a morte nos alcançará mais
cedo ou mais tarde, seja por um flagelo ou por outra causa
qualquer, ninguém se esquiva dela.
A literatura espírita é rica em exemplos nos auxiliando na
construção da resposta à esta outra indagação.
Há algumas décadas,
particularmente em 17/12/1961, houve um incêndio em um circo na
cidade de Niterói. É fato pouco conhecido que o
médium fluminense Raul Teixeira, então um jovem niteroiense, com
doze anos, católico, ainda longe de suas lides espíritas, havia
adquirido ingresso para, junto como alguns outros amigos,
assistirem à apresentação do Gran Circus Norte-Americano,
naquela tarde de domingo. Devido ao atraso de seu pai no retorno
do trabalho, responsável por levá-lo ao espetáculo, ele não pode
comparecer a tempo, escapando da morte certa, mas não seus
amigos. Neste caso, compreendemos que quando não chegou a hora,
ninguém morre.3
Àqueles interessados em mais
detalhes sobre essa chamada desgraça, sugerimos a leitura
da mensagem Tragédia no circo.4
5- O magnetismo
Outro aparente enigma é saber como as pessoas que tiveram suas
existências interrompidas foram reunidas na mesma hora, dia e
local de forma, aparentemente fortuita, para juntas passarem
pela mesma experiência onde aconteceram os chamados desastres?
Em resposta a esta dúvida, lembramos que o Espiritismo e o
Magnetismo são ciências irmãs, afirmou Allan Kardec, como nesta
passagem:
O Espiritismo e o magnetismo nos dão a chave de uma porção de
fenômenos sobre os quais a ignorância teceu uma infinidade de
fábulas, em que os fatos são exagerados pela imaginação. O
conhecimento esclarecido dessas duas ciências que, a bem dizer,
formam uma só é o melhor preservativo contra as ideias
supersticiosas, porque, ao mostrar a realidade das coisas e suas
verdadeiras causas, revela o que é possível e o que é
impossível, o que está nas Leis da Natureza e o que não passa de
uma crença ridícula.5
É o magnetismo que explica como pessoas totalmente estranhas
entre si, morando em diversos pontos do Globo, decidem, por
exemplo, viajar para a Tailândia e se hospedar em um resort de
luxo localizado em Phuket, exatamente nos dias em que ocorreu o
devastador tsunami responsável por ceifar mais de 200.000 vidas
em várias regiões da Ásia. Algumas, reencarnaram sabendo que,
possivelmente, morreriam afogadas, outras não, e, não fazendo
nada para alterar o rumo dessa expiação, foram capturadas pelas
leis do magnetismo e levadas a decidir viajar justamente naquela
época e para aquela determinada região. Em relação aos
habitantes locais foram, ao longo do tempo, se estabelecendo na
região, por força do mesmo magnetismo.
A obra Transição Planetária traz informação pertinente ao
abordar exatamente a visão espírita sobre o tsunami de 2004:
Curiosamente ampliou os esclarecimentos, informando que os
ocidentais em férias que se fizeram vítimas, mantinham profunda
ligação emocional com aquele povo e foram atraídos por forças
magnéticas para resgatar, na ocasião, velhos compromissos que
lhes pesavam na economia moral.
— Nada acontece, sem os alicerces da causalidade! — concluiu.6
6- A Natureza não escolhe o tipo e local
da calamidade
Outro aspecto muito pertinente a se destacar nessa breve
análise, se prende a forma como as pessoas enxergam esses
cataclismos, referenciando os mesmos por meio de expressões
como: Onda assassina – Fúria dos oceanos – Tsunami da morte e
destruição – A ira da Terra expeliu línguas de fogo – Ventos
traiçoeiros – Chuvas inclementes..., quando a Natureza não tem
virtudes nem vícios, não possui nenhuma predileção ou
preferência, é totalmente neutra, age ou reage conforme o homem
vive na Terra, pois as leis físicas são imutáveis e funcionam de
acordo com as condições ambientais que criamos na superfície do
planeta.
7- O homem e a Natureza
E, nessa hora, oportunamente, indagamos: Como lidar com a
Natureza se muitos até agora, em pleno século XXI, não creem
que, em função da forma como estamos vivendo, o seu equilíbrio
está sendo desestabilizado? E, como resposta, temos, por
exemplo, tempestades anormais com ventos jamais vistos!?
Os Polos estão derretendo e o que fazemos? Aquecemos mais ainda
o planeta queimando com volúpia matas e florestas, sem a mínima
consciência e remorso de que toda a vegetação existente no orbe
é obra de Deus, não nos pertence em última instância, ela existe
para nos ajudar a bem viver nessa morada do Pai e o homem, em
total desconsideração e descaso, mesmo se auto declarando
religioso, destrói sistematicamente os recursos que a Terra
oferece para que vivamos em equilíbrio, muitas vezes visando
aumentar lucros pela insaciável exploração das valiosas riquezas
do planeta.
Perguntamos, afinal, quem de fato é o Flagelo destruidor da
Terra: A Natureza, ou o homem? No passado, Átila ganhou a
alcunha - O flagelo de Deus! Certamente, não de Deus, mas o Rei
dos Hunos fez-se flagelo da humanidade por si mesmo.
8- Ação dos Espíritos sobre os fenômenos
da Natureza
É bem conhecido o chamado milagre ocorrido no Mar da
Galileia quando Jesus acalmou as águas e dominou os ventos. Uma
das possibilidades explicando este insólito evento foi a ação
maciça de milhares de Espíritos atuando de forma coordenada
sobre os elementos atmosféricos – temperatura, umidade, radiação
solar e pressão atmosférica -, conforme este texto:
Na produção de certos fenômenos, das tempestades, por exemplo, é
apenas um Espírito que age, ou eles se reúnem em massa para
produzi-lo?
“Reúnem-se em massas inumeráveis.”7
É fato que os Espíritos não agem por conta própria quando atuam
na forma como se comporta a Natureza, seguem sempre a sábia
vontade do Criador.
9- Deus não é vingativo
No passado, foi comum o entendimento de que por conta dos
possíveis pecados cometidos, a divindade promovia castigos aos
pecadores por meio de cataclismos.
Sabemos que Deus é sinônimo de amor, além disso, Jesus nos fez
vê-Lo na posição de Pai de todos, e não mais uma entidade
vingativa como era aceita nos tempos bíblicos. Tudo mudou a
partir da mensagem do Evangelho. Desta forma, não se compreendem
mais as catástrofes climáticas como um elemento de punição do
Amor Infinito.
Por outro lado, a dor e a aflição fazem parte do processo
evolutivo.
A humanidade precisa urgentemente mudar, superando as condutas
egoístas e orgulhosas que caracterizam os habitantes da Terra,
caso contrário, as calamidades se manterão, mas não com o
objetivo de punir os pecadores, mas com a nobre função da
educação de almas que insistem em ferir com a espada.
A misericórdia divina sempre atua para facilitar o nosso
processo evolutivo e, quanto mais rápido nos alinharmos com as
diretrizes de Deus, mais cedo a Terra migrará de mundo de provas
e expiações para mundo de regeneração, pois ela também evolui,
estado desejado por todos os que almejam uma vida melhor em paz
e harmonia.
10- Por que há tantas mortes?
Diz-se que começamos a morrer a partir do momento do nascimento,
sendo assim, a morte é certa para todos. Entretanto,
questiona-se por qual razão seria preciso ocorrer tantas mortes
para se promover o progresso do orbe.
É uma questão recorrente, típica de pessoas que não aceitam ou
não compreendem a continuidade da vida, a imortalidade da alma,
a reencarnação, enxergando na morte um fato definitivo gerador
apenas de tristeza, pesar e destruição.
Caso refletissem um pouco concluiriam: Deus não pode desejar o
sofrimento de suas criaturas, principalmente, daquelas que
permaneceram vivas após a passagem dos cataclismos e desastres,
conduzindo os entes queridos para o lado escuro da morte.
Estaríamos mais tranquilos se pudéssemos entender que estas
desencarnações em massa, encerram apenas um ciclo de aprendizado
para todos os envolvidos. São os chamados resgates coletivos,
mecanismo divino frequentemente utilizado para sanear uma região
dos habitantes que insistem em se conduzir fora do fazer ao
próximo como a si mesmo.
Contudo, é de se ressaltar que os efeitos, individualmente
falando, são muito diversos, pois cada qual recolhe o
ensinamento do fato de acordo como o seu grau de evolução. Isso
se aplica tanto aos que atingiram o fim de suas jornadas,
àqueles que sobreviveram após a passagem do cataclismo, bem como
para todos os que se ligam aos chamados mortos por laços de
amizade, afinidade ou mesmo sentimentais.
E mais, a perturbação pós-morte, também será única para cada
qual, dependendo diretamente da forma como vinham se conduzindo
em suas particulares existências.
Mas, são destruídos também animais irracionais e elementos da
vegetação. Isso não estaria fora do esperado?
Em relação aos irracionais, conforme aprendemos dos Imortais,
são rapidamente reencaminhados para novas etapas de aprendizado,
no que tange às plantas e os vegetais, um sábio já disse: na
natureza nada se cria, tudo se transforma. É sob esta última
lei divina que devemos entender o resultado dos cataclismos que
nos alcançam.
Neste sentido, a Doutrina Espírita apresenta um conjunto
inigualável de explicações, não só possibilitando a justa
compreensão dos desígnios divinos, bem como apresentando as
condições capazes de nos consolar pelo esclarecimento sobre o
acontecido.
Como reflexão final, não temamos a morte, exceto se estivermos
agindo de forma criminosa ou delituosa, e, se desse
comportamento advier a desencarnação, neste caso, morremos antes
do tempo previsto, mas mesmo assim, jamais ao acaso. Todos os
mortos, ao longo de nossa História, nas diversas calamidades,
sejam elas quais forem, daqui não partiram fora da hora.
Referências:
1 KARDEC,
Allan. O Livro dos Espíritos.
Trad. Evandro Noleto Bezerra. ed. 3. (Edição comemorativa do
Sesquicentenário). Brasília/DF: FEB, 2006. q. 737.
2 KARDEC,
Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. Evandro Noleto
Bezerra. ed. 3. (Edição comemorativa do Sesquicentenário).
Brasília/DF: FEB, 2006. q. 740.
3 Acesso
em 06/06/2024. link-1
4 XAVIER,
Francisco Cândido. Cartas e crônicas. Pelo Espírito Irmão
X. ed. 4. Rio de Janeiro/RJ: FEB, 1979. Tragédia no circo.
cap. 6.
5 KARDEC,
Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. Evandro Noleto
Bezerra. ed. 3. (Edição comemorativa do Sesquicentenário).
Brasília/DF: FEB, 2006. q. 555.
6 FRANCO,
D. Pereira. Transição Planetária. Pelo Espírito Manoel
Philomeno de Miranda. ed. 2. Salvador/BA: LEAL, 2010. Roteiros
terrestres. cap. 4.
7 KARDEC,
Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. Evandro Noleto
Bezerra. ed. 3. (Edição comemorativa do Sesquicentenário).
Brasília/DF: FEB, 2006. q. 539.