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por Almir Del Prette

 

O espírita empático e assertivo


A pergunta “quem é o espírita?” pode sugerir muitas respostas. “Seguidor da doutrina espírita” seria a resposta mais óbvia que, entretanto, é circular, ou seja, o termo espírita é o seguidor, ao mesmo tempo em que aquele que segue é o espírita. Procurando fugir dessa tautologia, pode-se adiantar que esta questão (quem é o espírita?) pode ser estudada na visão de diferentes disciplinas científicas, tais como religião, sociologia, psicologia, antropologia etc.

Allan Kardec, que na juventude foi discípulo de Pestalozzi (1), eminente educador que revolucionou a educação no século XVIII, evitou o pensamento circular afirmando que “reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más” (2). Em outras palavras, a designação de espírita pode ser considerada apropriada para quem assim se identifica, pautando seus comportamentos segundo os preceitos espíritas. Isso implica, como características elementares: (a) estudo permanente da doutrina espírita; (b) autoanálise contínua; e (c) prática dos preceitos relacionados à caridade, tais como engajamento em tarefas junto a algum grupo ou instituição beneficente, espírita ou não.

Nessa perspectiva, a pergunta sobre quem é o espírita exige uma reflexão sobre possíveis atributos que poderiam ser desenvolvidos no estudo e prática do Espiritismo. Dois desses atributos, empatia e assertividade, vêm sendo objeto de estudos na Psicologia, na Antropologia e na Educação.

A prática espírita tem, no Centro Espírita, um amplo campo para a atuação de seus adeptos, podendo incluir a frequência a: 1) sessões mediúnicas/passes; 2) palestras; 3) assembleias; 4) evangelização infantojuvenil; 5) mocidade; 6) congressos. Nesses estratos, a participação deve ultrapassar a prática alienante do burocracismo para ir ao encontro da definição de Kardec sobre as características do espírita. Nessa incursão preliminar, partindo da afirmação kardeciana, entende-se que a empatia e a assertividade são características presentes no cotidiano espírita e no homem de bem.

Na análise de possíveis atributos da definição de espírita, podemos considerar a empatia e a assertividade, que entendemos desempenham papéis fundamentais para a definição do que é ser espírita.

A empatia, o que é? O termo empatia vem do grego (empáheia) com o significado de “entrar no sentimento do outro” (3). Atualmente define-se empatia como a capacidade de sentir com o outro e são três seus componentes: (a) o afetivo, perceber os sentimentos do outro, sejam de satisfação ou de sofrimento; (b) o cognitivo, compreender a perspectiva do outro, percebendo seu estado emocional; (c) o comportamental expressivo, participando do sentimento positivo do outro ou se solidarizando com o mal-estar do interlocutor. A empatia pode ser exercida no cotidiano doméstico, no trabalho profissional, na escola (de qualquer nível) e nas diversas atividades do Centro Espírita. Crianças com pouco menos de três anos são capazes de expressar empatia, por exemplo, se entristecer quando percebe um familiar triste.

O que é assertividade? Assertividade é uma subárea da Psicologia e foi desenvolvida, nos Estados Unidos, por um psicólogo sul-africano chamado Joseph Wolpe. A assertividade se opõe à agressividade e, também, à passividade/subserviência. Wolpe, em seus estudos, logo identificou que pessoas subservientes são extremamente ansiosas e apresentam grande dificuldade nas relações interpessoais. Também as agressivas, que frequentemente obtêm concordância com suas ideias, muitas vezes são evitadas pelas demais. A área da assertividade foi divulgada em boa parte do mundo ocidental, chegando ao Brasil na década de 1970. O assertivo é definido como aquele indivíduo que expressa suas ideias e sentimentos, de maneira honesta, mesmo diante de um grupo de indivíduos que o pressiona.

A assertividade se opõe à passividade e à agressividade, o que motivou o psicólogo Michael Emmons e o Reverendo David Richardsom a publicar em 1981 o livro The Assertive Christian (4). Jesus deixou vários exemplos de comportamentos assertivos, muitas vezes associados com os empáticos. Conforme os evangelhos (5) durante seu julgamento, diante de Pilatos, representante de César na Palestina, Jesus se manteve calmo, sem ceder ao autoritarismo, tendo Pilatos que admitir não ver nenhuma ameaça provinda daquele prisioneiro.

Concluindo...

Uma boa maneira de desenvolver a empatia e a assertividade é observar o comportamento das pessoas empáticas e assertivas. Entre os assertivos e empáticos históricos, não há dúvida de que Jesus é o principal modelo. Entretanto, em nosso meio, no Centro Espírita ou fora dele, encontramos pessoas empáticas e assertivas. Observando e aprendendo, aos poucos vamos desenvolvendo comportamentos empáticos e assertivos. Crianças cujos pais são empáticos e assertivos geralmente se comportam dessa maneira.  

A definição de Kardec sobre o espírita pode, inicialmente, gerar um certo desassossego, ou seja, se me aprovo ou não como espírita. Isso também pode ser uma questão valiosa para nosso aprimoramento e sentir que estamos fazendo parte, mesmo que aos poucos, do grupo de espíritas verdadeiros.

 

Notas e referências:

(1) Johann Heinrich Pestalozzi ficou conhecido a partir de sua pedagogia humanista não punitiva, de respeito ao educando que empregava em seu educandário em Iverdun (Suíça). Segundo seus biógrafos ele defendia o uso da empatia na relação com o aluno.

(2) Kardec. A. (2.023). O Evangelho Segundo o Espiritismo. Brasília, F.E.B. p.338 (impressão letras grandes).

(3) Del Prette, A. & Del Prette, Z (2011). Habilidades sociais: O modelo de Jesus. Petrópolis: Vozes.

(4) Emmons, L. M. & Richardson, D. (1981). The Assertive Christian. Library of Congress Catalog Card Number 80.53557.

(5) Bíblia Sagrada. Edições Paulinas: Sociedade Bíblica Católica Internacional. Evangelho segundo São Mateus, p.1277.


 

 

     
     

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