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por Bruno Abreu

 

Oração, fé e silêncio


Quando surge a dúvida sobre a oração, o Mestre da Vida, Jesus, dá-nos como principal indicação o silêncio.

No primeiro conselho, diz-nos para nos recolhermos aos nossos aposentos e mantermo-nos em silêncio, que nosso Pai em silêncio escutará.

No segundo, diz-nos para não proferirmos muitas palavras, ou seja, remete-nos novamente para o silêncio mental, pois Deus já sabe o que precisamos.

Para nós, a ideia do silêncio é tão difícil e absurda, porque não nos parece nada que em algumas traduções da Bíblia o tenham trocado por secreto, como se estar mentalmente com Deus não fosse o secreto o suficiente, e ainda temos que nos trancar no quarto.

Qual o silêncio que o Mestre nos tenta indicar que nos aproxima de Deus?

O nosso pensamento surge com base em nosso conhecimento, nunca fora deste. Ninguém consegue pensar sobre o que não sabe, tente pensar numa linguagem que não conhece, dirá que é impossível.

Para além disso, o pensamento e a nossa personalidade, que gera novos pensamentos, constroem-se com base em nossos impulsos e desejos. Se nós nos apaixonarmos, queremos muito estar com aquela pessoa e nossa mente roda à volta disso.

O pensamento é desgastante e intenso. Diz a psicologia que temos entre 45.000 a 60.000 pensamentos por dia, quando só temos 1.440 minutos no mesmo período de tempo.

Podemos constatar essa intensidade quando estamos com algum problema, a cabeça fica cansada com a força com que acontecem aqueles pensamentos à volta disso. Quando o pensamento “adoece” ou se dedica ao que é agonizante, chamamos de depressão; se se dedica a gostos maldosos, apelidamos de doença psíquica, mas todos estes problemas demonstram a incapacidade de controle que temos sobre o nosso próprio pensamento, permitindo este guiar-nos.

Jesus disse-nos “vós sois escravos” e aconselhou-nos a “vigiar”, pois não sabemos o que vem do que consideramos nosso, o pensamento.

Se no pensamento nasce tudo, em especial o que é negativo, pois vivemos uma época planetária onde o mal é maior que o bem, no silêncio nascem a paz, harmonia, a humildade e o amor.

Se alguém me faz mal e eu permito que o impulso da resposta nasça, serei agressivo para essa pessoa, correndo o risco de ganhar mágoa e ódio.

Se me mantenho firme em meu silêncio, perceberei que foi um impulso mental daquela pessoa, por qualquer motivo não o conseguiu travar. Sentirei compaixão pela sua ignorância, pois daqueles atos aumentará a sua infelicidade, e não guardarei nada dentro de mim, pois nenhuma ideia acontece no silêncio.

O silêncio não é um silêncio forçado pela mente, mas um silêncio de desapego do mundo material, onde nada queremos a não ser paz e amor.

Quando estamos com um problema e temos a coragem de o entregar nas mãos de Deus, não podemos pensar mais neste, pois pensar nele é mantê-lo vivo em nós e a entrega a Deus é contrária a este movimento. Entregar nas mãos de Deus é ter Fé, é este silêncio, pois confiamos plenamente em Deus, tendo consciência da sua Omnipotência.

Se sentimos ódio por alguém, o perdão é este silêncio, que vem calar aquela voz que se levanta quando nos lembramos do que aconteceu ou quando vemos a pessoa e aquele mau sentimento renasce. Ao desapegarmo-nos e abandonarmos aquele ódio acontece o silêncio sobre aquele assunto, a paz.

Por isso o silêncio ser a vibração que nos aproxima de Deus. Este silêncio é construído pelo Jejum dos vícios físicos, pois nascem insistentemente em nossa mente antes da prática, e dos vícios morais, como o orgulho, o egoísmo, a avareza, a maledicência e todos os outros.

Tente-se lembrar de um vício que não nasça no pensamento. Como acontece o ódio? Ou o orgulho? Ou o egoísmo? Ou desejo pelo álcool? Qualquer um.

A cura a estes vícios inicia através da vigia, para que nos possamos aperceber deles, termos consciência destes. Depois, o início da oração, pedido de força a Deus, a “força e coragem” que é o terceiro conselho de Jesus à oração. A seguir, colocarmos o problema nas mãos de Deus, Fé, resignação ou indulgência, três termos que representam o ato do silêncio, consoante a situação.

Jesus dá-nos o exemplo, em Mateus 26:36, quando sentiu grande angústia pelo que se aproximava e pediu a Deus que afastasse aquele cálice que aparecia em seu puro ser. Depositou o problema nas mãos de Deus, rogando que fosse feita a Sua vontade e não a dele, ficando uma hora em silêncio. Quando voltou encontrou Pedro a dormir e relembrou-lhe que o hábito da vigia era importantíssimo para que permanecessem fora da tentação, pois esta aparece em nós, sobre a mente, pois a carne é fraca, mas no silêncio nos encostamos ao espírito, que está pronto.

A humanidade não tem o hábito do silêncio, pois não lhe parece nada pôr o olhar com os olhos do pensamento ou raciocínio. Como é respondido em O Livro dos Espíritos acerca da pergunta “O que é o Espírito?” A Espiritualidade Superior disse que para nós nada é, mas este é alguma coisa. No silêncio existe um vazio e esse vazio é existir em paz, mas quando raciocinamos sobre este, não nos parece nada, o que torna tão difícil o alcance da paz na humanidade por ignorância deste.

Damos um enorme valor ao funcionamento do pensamento, o pai de toda a maldade humana, pelo seu funcionamento descontrolado.

Faz parte da enorme ilusão que vivemos e teremos de a ultrapassar para crescermos como seres.  Sei que pode parecer estranha esta afirmação, mas como pensa que iremos deixar para trás esta forma de funcionamento autodestrutiva que a humanidade continua inserida?

O cultuar do silêncio nos levará a uma forma de estar onde colocaremos o pensamento como nossa ferramenta, e este só aparecerá quando nos for necessário.

O mais engraçado é que há muita gente que acredita que isto já acontece, que o pensamento só aparece quando quer. Esta é a maior das ilusões na humanidade, a que nos faz cair nas doenças psíquicas sem forma de sairmos delas, pois acreditamos que o pensamento é um instrumento nosso, logo somos conduzidos por este, quando o deveríamos usar apenas quando fosse útil.

Experimente estar atento à sua mente, vigie como Jesus aconselhou e tire as suas conclusões.

 

O autor reside em Lisboa, Portugal.


 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita