Oração, fé e silêncio
Quando surge a dúvida sobre a oração, o Mestre da Vida,
Jesus, dá-nos como principal indicação o silêncio.
No primeiro conselho, diz-nos para nos recolhermos aos
nossos aposentos e mantermo-nos em silêncio, que nosso
Pai em silêncio escutará.
No segundo, diz-nos para não proferirmos muitas
palavras, ou seja, remete-nos novamente para o silêncio
mental, pois Deus já sabe o que precisamos.
Para nós, a ideia do silêncio é tão difícil e absurda,
porque não nos parece nada que em algumas traduções da
Bíblia o tenham trocado por secreto, como se estar
mentalmente com Deus não fosse o secreto o suficiente, e
ainda temos que nos trancar no quarto.
Qual o silêncio que o Mestre nos tenta indicar que nos
aproxima de Deus?
O nosso pensamento surge com base em nosso conhecimento,
nunca fora deste. Ninguém consegue pensar sobre o que
não sabe, tente pensar numa linguagem que não conhece,
dirá que é impossível.
Para além disso, o pensamento e a nossa personalidade,
que gera novos pensamentos, constroem-se com base em
nossos impulsos e desejos. Se nós nos apaixonarmos,
queremos muito estar com aquela pessoa e nossa mente
roda à volta disso.
O pensamento é desgastante e intenso. Diz a psicologia
que temos entre 45.000 a 60.000 pensamentos por dia,
quando só temos 1.440 minutos no mesmo período de tempo.
Podemos constatar essa intensidade quando estamos com
algum problema, a cabeça fica cansada com a força com
que acontecem aqueles pensamentos à volta disso. Quando
o pensamento “adoece” ou se dedica ao que é agonizante,
chamamos de depressão; se se dedica a gostos maldosos,
apelidamos de doença psíquica, mas todos estes problemas
demonstram a incapacidade de controle que temos sobre o
nosso próprio pensamento, permitindo este guiar-nos.
Jesus disse-nos “vós sois escravos” e aconselhou-nos a
“vigiar”, pois não sabemos o que vem do que consideramos
nosso, o pensamento.
Se no pensamento nasce tudo, em especial o que é
negativo, pois vivemos uma época planetária onde o mal é
maior que o bem, no silêncio nascem a paz, harmonia, a
humildade e o amor.
Se alguém me faz mal e eu permito que o impulso da
resposta nasça, serei agressivo para essa pessoa,
correndo o risco de ganhar mágoa e ódio.
Se me mantenho firme em meu silêncio, perceberei que foi
um impulso mental daquela pessoa, por qualquer motivo
não o conseguiu travar. Sentirei compaixão pela sua
ignorância, pois daqueles atos aumentará a sua
infelicidade, e não guardarei nada dentro de mim, pois
nenhuma ideia acontece no silêncio.
O silêncio não é um silêncio forçado pela mente, mas um
silêncio de desapego do mundo material, onde nada
queremos a não ser paz e amor.
Quando estamos com um problema e temos a coragem de o
entregar nas mãos de Deus, não podemos pensar mais
neste, pois pensar nele é mantê-lo vivo em nós e a
entrega a Deus é contrária a este movimento. Entregar
nas mãos de Deus é ter Fé, é este silêncio, pois
confiamos plenamente em Deus, tendo consciência da sua
Omnipotência.
Se sentimos ódio por alguém, o perdão é este silêncio,
que vem calar aquela voz que se levanta quando nos
lembramos do que aconteceu ou quando vemos a pessoa e
aquele mau sentimento renasce. Ao desapegarmo-nos e
abandonarmos aquele ódio acontece o silêncio sobre
aquele assunto, a paz.
Por isso o silêncio ser a vibração que nos aproxima de
Deus. Este silêncio é construído pelo Jejum dos vícios
físicos, pois nascem insistentemente em nossa mente
antes da prática, e dos vícios morais, como o orgulho, o
egoísmo, a avareza, a maledicência e todos os outros.
Tente-se lembrar de um vício que não nasça no
pensamento. Como acontece o ódio? Ou o orgulho? Ou o
egoísmo? Ou desejo pelo álcool? Qualquer um.
A cura a estes vícios inicia através da vigia, para que
nos possamos aperceber deles, termos consciência destes.
Depois, o início da oração, pedido de força a Deus, a
“força e coragem” que é o terceiro conselho de Jesus à
oração. A seguir, colocarmos o problema nas mãos de
Deus, Fé, resignação ou indulgência, três termos que
representam o ato do silêncio, consoante a situação.
Jesus dá-nos o exemplo, em Mateus 26:36, quando sentiu
grande angústia pelo que se aproximava e pediu a Deus
que afastasse aquele cálice que aparecia em seu puro
ser. Depositou o problema nas mãos de Deus, rogando que
fosse feita a Sua vontade e não a dele, ficando uma hora
em silêncio. Quando voltou encontrou Pedro a dormir e
relembrou-lhe que o hábito da vigia era importantíssimo
para que permanecessem fora da tentação, pois esta
aparece em nós, sobre a mente, pois a carne é fraca, mas
no silêncio nos encostamos ao espírito, que está pronto.
A humanidade não tem o hábito do silêncio, pois não lhe
parece nada pôr o olhar com os olhos do pensamento ou
raciocínio. Como é respondido em O Livro dos
Espíritos acerca da pergunta “O que é o Espírito?” A
Espiritualidade Superior disse que para nós nada é, mas
este é alguma coisa. No silêncio existe um vazio e esse
vazio é existir em paz, mas quando raciocinamos sobre
este, não nos parece nada, o que torna tão difícil o
alcance da paz na humanidade por ignorância deste.
Damos um enorme valor ao funcionamento do pensamento, o
pai de toda a maldade humana, pelo seu funcionamento
descontrolado.
Faz parte da enorme ilusão que vivemos e teremos de a
ultrapassar para crescermos como seres. Sei que pode
parecer estranha esta afirmação, mas como pensa que
iremos deixar para trás esta forma de funcionamento
autodestrutiva que a humanidade continua inserida?
O cultuar do silêncio nos levará a uma forma de estar
onde colocaremos o pensamento como nossa ferramenta, e
este só aparecerá quando nos for necessário.
O mais engraçado é que há muita gente que acredita que
isto já acontece, que o pensamento só aparece quando
quer. Esta é a maior das ilusões na humanidade, a que
nos faz cair nas doenças psíquicas sem forma de sairmos
delas, pois acreditamos que o pensamento é um
instrumento nosso, logo somos conduzidos por este,
quando o deveríamos usar apenas quando fosse útil.
Experimente estar atento à sua mente, vigie como Jesus
aconselhou e tire as suas conclusões.
O autor reside em Lisboa, Portugal.
|