Expiação ou escolha
As pessoas que possuem algum conhecimento sobre Doutrina
Espírita costumam questionar-se sobre as dificuldades
que passam na atual existência física. Costumam
perguntar a si mesmas até que ponto essas dificuldades
são provenientes de um processo expiatório ou de uma
escolha realizada no plano espiritual antes da
reencarnação, com o objetivo de acelerar a sua evolução.
Fica difícil responder a essa pergunta de imediato, uma
vez que cada caso é um caso diferente. Cada história tem
suas particularidades e precisamos compreender que os
espíritos fazem escolhas de acordo com a sua evolução
moral e seu desejo sincero de progredir.
Existem muitos casos em que os espíritos solicitam
passar por desafios ao longo da existência física para o
seu crescimento pessoal, enquanto outros, reencarnam
carregando um sentimento de culpa muito grande, fato
esse, que vai dificultar a convivência com as pessoas,
para que ele aprenda a conviver e aceitar.
Allan Kardec no Livro dos Espíritos procura nos
esclarecer que a justiça divina oferece ao homem a
possibilidade de promover seu processo de equilíbrio
para com as Leis Morais e com a sua consciência, ao
escrever:
Quando na erraticidade, antes de começar nova existência
corporal, tem o Espírito consciência e previsão do que
lhe sucederá no curso da vida terrena?
“Ele próprio escolhe o gênero de provas por que há de
passar e nisso consiste o seu livre-arbítrio.”
Não é Deus, então, quem lhe impõe as tribulações da
vida, como castigo?
“Nada ocorre sem a permissão de Deus, porquanto foi
Deus quem estabeleceu todas as leis que regem o
Universo. Ide agora perguntar por que decretou Ele esta
lei e não aquela. Dando ao Espírito a liberdade de
escolher, Deus lhe deixa a inteira responsabilidade de
seus atos e das consequências que estes tiverem.1
O espírito que deseja retornar ao mundo físico para uma
nova jornada de experiencias e avançar na sua evolução
pessoal, vai solicitar uma oportunidade de acordo com
seu merecimento.
O processo de expiação envolve sentimentos adoecidos que
o espírito é portador como culpa, remorso e mágoas, que
nem sempre ele se dá conta, pois pode ter reencarnado
com limitações e lembranças atávicas de outras vidas.
Mas o que nos chama a atenção é a forma como o indivíduo
vai vivenciar essas emoções, pois segundo Kardec, essas
lembranças têm uma finalidade terapêutica, para que o
espírito possa perceber que precisa se modificar em
algum aspecto da sua vida pessoal.
Podemos observar também no Livro dos Espíritos, a
seguinte pergunta, que complementa nossa reflexão:
Que consequência produz o arrependimento no estado
corporal?
“Fazer que, já na vida atual, o Espírito progrida, se
tiver tempo de reparar suas faltas. Quando a consciência
o exprobra e lhe mostra uma imperfeição, o homem pode
sempre melhorar-se.” 1
O arrependimento vai ajudar ao homem refletir em seus
atos e suas ações, alguns avançam mais rapidamente,
enquanto outros apresentam maior resistência, devido
seus apegos, suas paixões e limitações.
Vivemos em um Mundo de Provas e Expiações e as
dificuldades fazem parte do nosso processo evolutivo. O
desconhecimento das verdades espirituais contribui para
o sofrimento da Humanidade que associa felicidade à
posse ou ao acúmulo de bens materiais, em um mundo
transitório, onde possuímos bens temporários, até o
nosso desencarne.
Emmanuel por intermédio da mediunidade de Chico Xavier,
nos deixou interessantes passagens no livro Justiça
Divina para a melhor compreensão da nossa realidade
espiritual, quando nos disse:
“Todas as contas a resgatar pedem relação direta entre
credores e devedores.
É por isso que te vês, frequentemente, na Terra, diante
daqueles a quem deves algo.
No lar ou nas linhas que o margeiam, é fácil
reconhecê-los, quando entregas desinteresse e dedicação,
recolhendo aspereza e indiferença.
Muitas vezes, trazem nomes queridos no recinto
doméstico, e assemelham-se a impassíveis verdugos,
apresando-te o coração nas grades do sofrimento.
Em muitos lances da estrada, são amigos a quem te dás,
sem reserva, e que te arrastam a dificuldades de longo
curso”. 2
Não é uma tarefa fácil, uma vez que a distância entre a
expiação por sentimento de culpa ou a escolha consciente
em passar por uma dificuldade corretiva é muito tênue no
mundo material. Apenas no mundo espiritual é possível
ter uma visão mais dinâmica a ponto de perceber que o
espírito faz uso do seu livre-arbítrio para passar por
uma situação de sofrimento.
Mais uma vez Emmanuel, pela psicografia de Chico Xavier,
nos ofereceu uma interessante obra para nossa reflexão,
onde procura por intermédio de uma visão espiritual dar
a verdadeira dimensão das atitudes humanas que favorecem
a superação dos obstáculos em nossas existências, quando
escreveu:
“Fora da carne, compreende-se a excelência da abnegação
e do sacrifício em prol de outrem. A maioria das nossas
obras pessoais são como bolhas de água sabonada que se
dispersam nos ares, porque, visando ao bem-estar e ao
repouso do “eu”, têm como base o egoísmo que atrofia a
nossa evolução. Toda a felicidade do Espírito provém da
felicidade que deu aos outros, todos os seus bens são
oriundos do bem que espalhou desinteressadamente”. 3
O estudo do Espiritismo nos permite uma melhor
compreensão da realidade que estamos inseridos. Como não
temos uma visão dinâmica da nossa história espiritual,
nos resta fazer o que está ao nosso alcance para estar
em paz com a nossa consciência.
Bibliografia:
1) Kardec,
Allan; O Livro dos Espíritos; 2ª p. - Cap. VI –
Escolha das provas - P. 258; 4ª p. – Cap. II - Expiação
e arrependimento – P. 992; FEB.
2) Xavier,
Francisco Cândido; Justiça Divina (1962); Cap. 14
- Quitação; FEB.
3) Xavier,
Francisco Cândido; Emmanuel (1937); Cap. VII
- O Labor das Almas - Necessidade do Sacrifício;
FEB.
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