O possível e o impossível
“Esforçar-se retamente é saber aplicar a capacidade dos
seus recursos naquilo que propicia felicidade real,
duradoura, sem as aflições dos prazeres fugidios, que
necessitam de repetir-se sem cessar, não lhes aplacando
a sede, antes aumentando-a, perturbadoramente.” –
Joanna de Ângelis, pelo médium Divaldo Franco
Aquele senhor espírita estava acabrunhado, pensativo,
voltado para dentro de si mesmo. Na mesa do café da
manhã a esposa percebeu o estado de ânimo do marido e
abriu diálogo:
- O que está se passando? Algum problema no emprego?
Algum problema com sua saúde?
- Não. Não. Está tudo bem.
- Tudo bem é evidente que não está. O seu humor está
para baixo. O que está ocorrendo?
- Estive pensando comigo mesmo. Já imaginou quantas
pessoas morrem de fome no mundo? Quantas crianças partem
do corpinho frágil por falta de alimentação adequada? E
o que nós espíritas estamos fazendo para que isso não
ocorra?
- E o que mais o aflige no momento?
- Fico imaginando os milhares de enfermos nos mais
diversos hospitais. O hospital do câncer, do fogo
selvagem, dos tuberculosos, dos hansenianos e aidéticos
que ainda necessitam de internação...
- Mais alguma coisa o aflige, meu bem?
- Sim. Muita coisa mais. Já imaginou quantos lares são
visitados pela morte no mundo, já que milhares de almas
desencarnam por dia? Quantas casas visitadas por esse
tipo de dor! Quanto sofrimento naqueles que ficam e que
não podemos consolar!
- Lembra-se de mais alguma coisa que o incomoda e
entristece no momento?
- Sim. Os lares desfeitos pela separação de casais.
Quantas crianças sem a presença da mãe ou do pai
diariamente! E nada podemos fazer mesmo como espíritas.
- Não concordo com você, meu amor. Podemos sim fazer um
pouco. Aquilo que é possível e que Deus espera de
nós.
- Como assim?
- Veja bem: em relação à fome no mundo, evidentemente
que não podemos exterminá-la, mas podemos estender o
prato de comida a um semelhante que nos bata à porta.
Será um faminto a menos.
- É verdade.
- Em relação aos enfermos espalhados nos mais diversos
hospitais e mergulhados em dolorosas provações, não
podemos consolar a todos. Mas podemos visitar alguma
pessoa doente em seu lar ou no hospital de nossa cidade
e levar-lhe a nossa solidariedade. Será um doente a
menos na solidão.
- É claro que sim.
- Quanto à visita da morte não podemos estar em cada lar
onde ela deixa instalada a dor e a saudade, mas podemos
visitar algum lar de nossa cidade onde alguém
desencarnou. Será uma família a menos sem consolo.
- Muito bem lembrado, meu bem.
- Em relação aos lares desfeitos pelos casais que se
separam, podemos cuidar do nosso e dar o bom exemplo aos
nossos filhos para que seus futuros lares sejam sólidos,
estáveis, imunes a esse tipo de dor causada pela
separação. É a parte que Deus espera de nós, meu amor.
- Ou seja, realizarmos o possível, não é mesmo?
- Sim. Aquela cota que está ao nosso alcance e que Deus
espera que realizemos. Do que foge do nosso alcance, Ele
cuida, pode ter certeza...
°°°°
Acalma-te e serve.
Não fizeste o Sol que te ilumina.
Não fabricaste o ar que respiras.
Não criaste o solo em que te apoias.
Não teceste a vestimenta das flores que te rodeiam.
Não pares de trabalhar.
A vida te pede o bem que se te faça possível.
O impossível virá de Deus.
(Emmanuel, em Recados do Além)
ºººº
Quantos convites à prática de coisas pequenas e
importantes recebemos a partir de quando o Sol nos
desperta iluminando a nossa janela todas as manhãs!
Um bom dia a alguém. Uma palavra amiga. O saber ouvir
alguém necessitado de desabafar. Um agradecimento pela
mesa do café da manhã. Agradecer pelo emprego para onde
nos dirigir. Ser grato pela presença dos filhos e da
esposa na estrutura de um lar. Os companheiros de
trabalho que encontramos. A flor solitária que enfeita
nosso caminho sem nada exigir. Agradecer pelo pássaro
que voa ensinando-nos a confiar na Providência Divina. A
brisa que acaricia nosso rosto nos dias de verão. O
agasalho aconchegante nos dias de inverno.
Entretanto, muitas vezes, a vaidade e o orgulho do homem
direcionam seus pensamentos para realizações grandiosas
enquanto ele deixa fugir no rolar das horas as pequenas
realizações. Fixamos as grandes tarefas, as grandes
realizações e passamos indiferentes pelas pequenas
coisas que podemos fazer por um mundo melhor.
É preciso realizar no mundo de Deus as coisas possíveis
que estão à nossa espera para que o impossível aconteça
pelas mãos do Criador.
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