Artigos

por Ricardo Orestes Forni

 

O possível e o impossível

 

“Esforçar-se retamente é saber aplicar a capacidade dos seus recursos naquilo que propicia felicidade real, duradoura, sem as aflições dos prazeres fugidios, que necessitam de repetir-se sem cessar, não lhes aplacando a sede, antes aumentando-a, perturbadoramente.” – Joanna de Ângelis, pelo médium Divaldo Franco  


Aquele senhor espírita estava acabrunhado, pensativo, voltado para dentro de si mesmo. Na mesa do café da manhã a esposa percebeu o estado de ânimo do marido e abriu diálogo:

- O que está se passando? Algum problema no emprego? Algum problema com sua saúde?

- Não. Não. Está tudo bem.

- Tudo bem é evidente que não está. O seu humor está para baixo. O que está ocorrendo?

- Estive pensando comigo mesmo. Já imaginou quantas pessoas morrem de fome no mundo? Quantas crianças partem do corpinho frágil por falta de alimentação adequada? E o que nós espíritas estamos fazendo para que isso não ocorra?

- E o que mais o aflige no momento?

- Fico imaginando os milhares de enfermos nos mais diversos hospitais. O hospital do câncer, do fogo selvagem, dos tuberculosos, dos hansenianos e aidéticos que ainda necessitam de internação...

- Mais alguma coisa o aflige, meu bem?

- Sim. Muita coisa mais. Já imaginou quantos lares são visitados pela morte no mundo, já que milhares de almas desencarnam por dia? Quantas casas visitadas por esse tipo de dor! Quanto sofrimento naqueles que ficam e que não podemos consolar!

- Lembra-se de mais alguma coisa que o incomoda e entristece no momento?

- Sim. Os lares desfeitos pela separação de casais. Quantas crianças sem a presença da mãe ou do pai diariamente! E nada podemos fazer mesmo como espíritas.

- Não concordo com você, meu amor. Podemos sim fazer um pouco. Aquilo que é possível e que Deus espera de nós.   

- Como assim?

- Veja bem: em relação à fome no mundo, evidentemente que não podemos exterminá-la, mas podemos estender o prato de comida a um semelhante que nos bata à porta. Será um faminto a menos.

- É verdade.

- Em relação aos enfermos espalhados nos mais diversos hospitais e mergulhados em dolorosas provações, não podemos consolar a todos. Mas podemos visitar alguma pessoa doente em seu lar ou no hospital de nossa cidade e levar-lhe a nossa solidariedade. Será um doente a menos na solidão.

- É claro que sim.

- Quanto à visita da morte não podemos estar em cada lar onde ela deixa instalada a dor e a saudade, mas podemos visitar algum lar de nossa cidade onde alguém desencarnou. Será uma família a menos sem consolo.

- Muito bem lembrado, meu bem.

- Em relação aos lares desfeitos pelos casais que se separam, podemos cuidar do nosso e dar o bom exemplo aos nossos filhos para que seus futuros lares sejam sólidos, estáveis, imunes a esse tipo de dor causada pela separação. É a parte que Deus espera de nós, meu amor.

- Ou seja, realizarmos o possível, não é mesmo?

- Sim. Aquela cota que está ao nosso alcance e que Deus espera que realizemos. Do que foge do nosso alcance, Ele cuida, pode ter certeza...

 

°°°°

 

Acalma-te e serve.

Não fizeste o Sol que te ilumina.

Não fabricaste o ar que respiras.

Não criaste o solo em que te apoias.

Não teceste a vestimenta das flores que te rodeiam.

Não pares de trabalhar.

A vida te pede o bem que se te faça possível.

O impossível virá de Deus.


(Emmanuel, em Recados do Além)


ºººº


Quantos convites à prática de coisas pequenas e importantes recebemos a partir de quando o Sol nos desperta iluminando a nossa janela todas as manhãs! 

Um bom dia a alguém. Uma palavra amiga. O saber ouvir alguém necessitado de desabafar. Um agradecimento pela mesa do café da manhã. Agradecer pelo emprego para onde nos dirigir. Ser grato pela presença dos filhos e da esposa na estrutura de um lar. Os companheiros de trabalho que encontramos. A flor solitária que enfeita nosso caminho sem nada exigir. Agradecer pelo pássaro que voa ensinando-nos a confiar na Providência Divina. A brisa que acaricia nosso rosto nos dias de verão. O agasalho aconchegante nos dias de inverno.

Entretanto, muitas vezes, a vaidade e o orgulho do homem direcionam seus pensamentos para realizações grandiosas enquanto ele deixa fugir no rolar das horas as pequenas realizações. Fixamos as grandes tarefas, as grandes realizações e passamos indiferentes pelas pequenas coisas que podemos fazer por um mundo melhor. 

É preciso realizar no mundo de Deus as coisas possíveis que estão à nossa espera para que o impossível aconteça pelas mãos do Criador.


 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita