Um dia
muito triste na cidade
de Vinhedo
Moro num Condomínio na
cidade de Vinhedo-SP.
Tenho meu pequeno
escritório em casa que
fica na rota dos aviões
que chegam ao aeroporto
de Viracopos, em
Campinas. Seu barulho
distante não me
incomoda.
Os aviões vêm voando
baixo, passam por cima
das casas térreas e vão
sumindo no horizonte em
direção ao aeroporto.
Costumava brincar e
dizer “Um dia desses um
avião vai entrar aqui na
sala”.
Ontem [dia 9 de agosto
de 2024], porém, foi um
dia diferente. Ouvi o
avião se aproximar e
falei com a moça que
trabalha aqui: “Nossa,
este vem muito baixo” e
levantei-me para o ver
passar. E ainda
acrescentei “É da
Esquadrilha da Fumaça?”,
devido ao som forte e
peculiar dos aviões da
Esquadrilha, que - de
quando em quando - dá
shows maravilhosos aqui
em Vinhedo. Mas, não. O
barulho era assustador e
parecia ferro contra
ferro. A aeronave passou
por cima da piscina e
arremeteu para a direita
para abrir a curva para
o aeroporto e foi nesse
momento que caiu.
Horrorizada, parecia que
o meu cérebro tinha
travado, meu coração
batia apressado e eu
estava vendo um filme de
terror. Uma grossa
coluna de fumo escuro se
elevou no ar e ouvia o
pessoal gritando
desesperada ao longe.
O resto está amplamente
noticiado. 62 pessoas,
jovens médicos,
oncologistas,
empresários, a
tripulação, enfim... uma
tristeza só.
Tenho um filho, nora e
quatro netos que viajam
constantemente e
confesso que tenho um
medo terrível e faço
minhas preces e peço
ajuda sempre, e até eles
regressarem não sossego.
Assim, acordei hoje de
madrugada para iniciar o
meu trabalho diário e
comecei a chorar, a
soluçar copiosamente e
só pedia que Deus
ajudasse aquelas mães,
os pais, os avós,
filhos, irmãos e
chorava, chorava por
demais e tive que, eu
própria, me policiar
porque comecei a
sentir-me muito mal. Eu
via rostos de jovens que
nem conhecia e só pedia
por eles e sentia no
peito como se fossem
minha família também.
A muito custo consegui
me acalmar e, mais
tarde, achei que deveria
escrever o texto que se
segue:
REFLEXÃO
Tivemos ontem a maior
lição que nos foi dada
com o acidente aéreo
que, dolorosamente,
ceifou a vida de
pessoas, pessoas como
nós.
O acidente em si com a
perda enorme de pessoas
em questão de escassos
minutos nos deixou
atordoados, em choque.
Acordo de madrugada para
começar o meu dia e hoje
chorei, chorei muito por
essas vidas que, de um
momento para o outro, em
questão de rápidos
minutos, foram retiradas
desta Terra, deste
planeta. Mas, que algo
nos tenha sido ensinado.
Veja o leitor como a
vida é efêmera, fugaz,
ela se esvai num segundo
não nos dando tempo
sequer para remediar,
para um pedido de
perdão, para um
agradecimento, para um
rápido “me perdoe” ou um
“eu te amo e sempre te
amarei”.
Quantas ofensas, quantas
brigas inúteis, fúteis,
desnecessárias quando um
beijo e um abraço seriam
suficientes, ou um
valioso “perdoa, se te
ofendi”, um abraço
amigo!
E no campo material
quantas coisas sonhamos
fazer e não o fizemos
com a desculpa de “não
tenho tempo, amanhã eu
faço”; ou ainda “vou me
corrigir” e, num
segundo, volta a fazer o
mesmo.
Tudo na vida é um
aprendizado. Abra
mais seu coração e feche
mais seus olhos. Arrependa-se,
peça perdão, mesmo
quando tiver razão.
Valoroso é aquele que
tem essa capacidade.
Num segundo tudo isso
foi cortado na vida dos
passageiros e
tripulantes do avião.
Choro o desgosto da mãe,
do pai, dos filhos, dos
avós, dos amigos e deixo
aqui o meu profundo e
doloroso respeito às
famílias, não a fria
expressão “minhas
condolências”, mas
deixo, sim, e
compartilho com vocês, o
choque do acontecido, e
a dor enorme que os
rasgou aos pedaços e
deixou seus corações
sangrando...
Que Deus, nosso Pai,
alivie a sua dor imensa,
e que nós, que aqui
ficamos, nos
solidarizemos com as
famílias e que tenhamos
aprendido a lição imensa
que nos foi dada: a
lição de que devemos
viver intensamente,
porque a vida escorre
por entre os dedos e se
esvai no infinito quando
menos se espera.
Viva intensamente.
Não vegete, não
procrastine e perdoe e
agradeça!
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