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por Mário Frigéri

 

Jesus, o pão da vida


Desde os tempos antigos, o pão tem sido alimento essencial para a Humanidade, preparado a partir dos grãos da terra, como trigo e cevada, que são moídos e transformados em farinha. De mistura com água, sal e fermento, a farinha é amassada e moldada com cuidado antes de ser levada ao forno até adquirir crosta dourada e interior macio. Desse processo simples resulta um alimento que tem o condão de saciar a fome e trazer sensação de conforto e bem-estar para o corpo físico. O aroma do pão fresco, saído do forno, é capaz de despertar memórias e sentimentos de aconchego, ligando-nos às nossas raízes e à generosidade da Natureza que nos oferece suas dádivas. Assim, o pão material, presente em tantas culturas ao longo dos séculos, simboliza o sustento diário e a gratidão pelos dons recebidos da terra.

Enquanto o pão material é feito a partir dos grãos da terra, o pão da alma, oferecido por Jesus, vai além da matéria e alimenta o Espírito. Esse pão celestial, simbolizado nas palavras “Eu sou o pão da vida”, traz grande revolução na maneira de compreender o alimento, elevando-o a uma dimensão superior da existência. Onde o pão terreno fortalece os músculos e energiza o corpo, o pão divino preenche os vazios do coração, nutre a fé e oferece a promessa de Vida Eterna. Jesus, ao se apresentar como o pão da vida, convida-nos a olhar para o Infinito, além das necessidades físicas, e a buscar a satisfação completa que só pode ser proporcionada por sua doutrina, onde encontramos o verdadeiro significado e a plenitude do ser. Esse contraste revela a profunda interconexão entre o material e o espiritual, mostrando-nos que, assim como o corpo necessita de pão para viver, a alma anseia pelo amor divino para enfolhar, florescer e frutificar.

No coração das palavras eternas do Evangelho segundo João, capítulo 6, encontramos uma das declarações mais profundas e tocantes de Jesus: “Eu sou o pão vivo que desceu do céu”. Esse simples, porém, poderoso enunciado nos convida a uma jornada de introspecção e compreensão, onde o alimento físico se transforma em símbolo de nutrição espiritual. Ao refletirmos sobre esse capítulo, somos convidados a saborear a essência do amor divino, que sacia a fome mais profunda existente nos refolhos de nossa alma.

Em um mundo repleto de carências e inquietações, Jesus se apresenta como o sustento eterno, capaz de preencher nossos vazios existenciais com a luz da esperança e do amor. Suas palavras, tão leves quanto uma brisa matinal, e tão poderosas quanto o nascer do Sol, nos envolvem num abraço celestial, oferecendo-nos a verdadeira epifania do ser.

No capítulo 6, após a multiplicação dos pães e peixes, o Senhor revela a seus discípulos e à multidão presente àquele evento a verdadeira natureza de sua missão. Ao dizer “Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome, e quem crê em mim nunca terá sede”, ele nos convida a entender que, além do sustento material, existe um alimento espiritual que somente seu coração pode oferecer. Esse pão divino é a manifestação do amor de Deus, que alimenta nossas almas e nos proporciona a paz que o mundo não pode dar.

Jesus nos ensina que o pão que ele oferece não é apenas para saciar a fome temporária, mas principalmente para nos dar a vida eterna. Assim como o maná no tempo dos hebreus os sustentou na jornada pelo deserto, o pão da vida nos sustenta na jornada pelo oásis da fé. Com essa oferenda, o Cristo nos convida a um relacionamento íntimo consigo, onde encontramos a verdadeira satisfação e plenitude.

Nos dias da travessia pelo deserto, os israelitas recolhiam o maná, que era um alimento que surgia com o orvalho da manhã, caindo suavemente sobre a terra. Colhido com sentimento sagrado, era transformado em pão, proporcionando o sustento necessário à jornada de cada dia. Esse milagre diário simbolizava a provisão de Deus e a confiança em seu cuidado. Contudo, por mais milagroso que fosse, o maná atendia somente as necessidades temporárias do corpo. Em contraste, Jesus se apresenta como o verdadeiro pão do céu, não para alimentar por um dia, mas para saciar eternamente a fome da alma. Enquanto o maná era presente passageiro, o pão de Jesus é dom perene, oferecendo vida, mas vida em plenitude. Essa transformação do conceito de pão revela a profundeza do amor divino, que cuida do corpo, mas também eleva o Espírito e cuida de suas necessidades eternas.


O pão de que o mundo precisa

Quando a multidão que havia participado da multiplicação dos pães ouviu Jesus declarar que ele era o pão vivo que desceu do céu, seus corações foram profundamente tocados. E, comovidos, clamaram: “Senhor, dá-nos sempre desse pão!”. Nesse momento, a fome física se transformou em fome espiritual, e a mentalidade humana ascendeu a novo patamar pela graça divina. A compreensão do pão passou de necessidade diária para anseio eterno pela presença do Cristo em suas vidas. As palavras de Jesus despertaram nas almas nova consciência, revelando que a verdadeira satisfação não está no pão que perece, mas no alimento espiritual que ele veio oferecer. Esse toque divino trouxe nova transformação interna, um estado indescritível de alma, que abriu os olhos e corações para a realidade do amor celeste, oferecendo um caminho de plenitude e vida eterna.

Nos versos 52 a 58, Jesus revela um mistério profundo e sagrado, ao afirmar que sua carne é verdadeira comida e seu sangue, verdadeira bebida. Ele nos convida a participar de sua própria vida, a comungar de sua essência divina. “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele.” Nesse convite sublime, somos conclamados a uma união íntima e transformadora com ele, onde sua vida se torna nossa e nós nos tornamos dele, como parte de seu Ser eterno. Ao comer desse pão vivo, entramos numa comunhão que se sublima através do tempo, onde somos nutridos pela verdade e pelo amor de Deus. Esse alimentar-se espiritualmente simboliza a aceitação total de seus ensinamentos e a incorporação de sua presença em cada fibra de nosso ser, proporcionando-nos o sustento e a promessa de Vida Eterna, uma vida em plenitude com Deus.

Nos versos 60 a 66, muitos discípulos, incapazes de compreender a alteza e profundidade das palavras do Cristo, afastam-se, murmurando sobre o quanto era duro aquele discurso. Esse afastamento revela a dificuldade humana em aceitar e integrar verdades espirituais que desafiam a compreensão do intelecto. A mensagem do Cristo exige, acima de tudo, abertura de coração e uma fé que transcenda o entendimento racional. O afastamento dos discípulos não deve ter por entendimento que uma parte da Humanidade esteja destinada a não compartilhar dos benefícios divinos, mas sim que o caminho da fé é estreito e a porta do céu é apertada, exigindo coragem plena e entrega total. Com sua mensagem sublime, ele nos convida a um compromisso profundo e transformador. E, embora alguns possam se afastar, a graça divina permanece à disposição de todos. Aqueles que perseveram e buscam compreender, mesmo diante de enormes dificuldades, encontrarão a verdadeira vida e integração no Cristo.

Ao refletirmos sobre essa passagem, somos chamados a reconhecer a importância de buscar Jesus em nossas vidas diárias. A verdadeira fome que sentimos não é por alimento físico, mas por significado, propósito e conexão com o divino. Jesus nos oferece essa conexão, sendo ele mesmo o caminho, a verdade e a vida, com vistas à compreensão real de nossa existência e à nossa relação com Deus.

Em um mundo tão sedento de amor e compreensão, a mensagem do Divino Mestre como o pão da vida nos lembra que temos acesso a uma fonte inesgotável de graça e misericórdia. Ele é o alimento que fortalece nossas almas e nos capacita a enfrentar os desafios da vida com fé e coragem. Ao aceitarmos o pão do céu, somos renovados e transformados, encontrando em Jesus a verdadeira razão de ser.


Pão do céu e água da vida

Ao nos debruçarmos sobre essas palavras do Evangelho somos convidados a uma experiência transformadora. “Eu sou o pão da vida” é afirmação contundente e tocante chamado à comunhão profunda e íntima com o Pai. É um convite para permitir que nossas vidas sejam moldadas e nutridas pelo amor incondicional do Cristo, a fim de podermos irradiar, por onde passarmos, a luz do Senhor em um mundo que tanto necessita de sua graça.

Lembremo-nos também de que ele se apresenta como o pão que desceu do céu e como a água da vida. Pão e água são os elementos fundamentais para a vida humana, sustentando o corpo e saciando a sede. Da mesma forma, o pão do céu e a água da vida oferecidos por ele são essenciais para a completude da alma. Representam a nutrição espiritual completa, onde o alimento divino e a fonte inesgotável de vida eterna se unem para nos proporcionar uma existência plena e abundante. Assim, Jesus nos convida a vivenciar essa transformação profunda, onde somos nutridos e saciados em nossa essência mais íntima, encontrando nele tudo o que nos é mais precioso para a verdadeira vida.

 

Pão de luz

 

“Eu sou o pão vivo que desceu do céu.” Jesus (João, 6:51.)

 

Jesus é meu pão de luz,

O mais sublime alimento:

Nele eu encontro o sustento

Que me faz tão leve a cruz.

 

Jesus é meu pão do céu,

Sol gentil da caridade,

Que suavemente invade

O meu coração fiel.

 

Jesus é meu pão da vida,

Celestial substância

Que transforma toda ânsia

Numa paz enternecida.

 

Jesus é oculto maná

Que a minha alma acalenta:

Quem de Jesus se alimenta,

Só por Jesus viverá.

 

O mundo às vezes seduz

Com faiscante farelo,

Mas para meu grande anelo

Só existe um pão – Jesus.

 

Espero um dia, assim,

Bradar do último aclive:

– Já não sou mais eu quem vive;

É Jesus que vive em mim!

 

Mário Frigéri, poeta, escritor, autor e youtuber, reside em Campinas-SP.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita