Natural de Araraquara (SP), onde também reside,
José Henrique Martiniano de Oliveira (foto) é
engenheiro e músico. Vincula-se à Sociedade
Beneficente Obreiros do Bem, na mesma cidade
onde reside, onde já exerceu a função de diretor
de patrimônio, mas atualmente concentra seu
trabalho em palestras e preparação de ambientes
com música presencial. Entrevistamo-lo
especialmente pela produção de um documentário e
de uma minissérie sobre o centenário de
nascimento do escritor, tradutor e editor
Wallace Leal Valentim Rodrigues, que nasceu em
11/12/1924. Zé Henrique, como é mais conhecido,
recentemente também musicou 11 poemas do livro Parnaso
de Além-Túmulo, num trabalho musical de
excelência.(2)
Como e quando conheceu o Espiritismo?
Lendo O Livro dos Espíritos, que ganhei
de um amigo em 1997. Sou de formação católica e
minha família toda é católica, mas quando li
esse livro achei-o impressionante, extremamente
racional e as respostas dadas pelos espíritos
eram muito interessantes e faziam muito sentido
para mim. Então comecei a frequentar, fazer
cursos, participar de encontros, seminários,
congressos etc.
Como foi seu envolvimento com a música?
O meu envolvimento com a música é anterior ao
Espiritismo. Na verdade, não sou um espírita que
se tornou músico, mas um músico que se tornou
espírita. Toquei profissionalmente em muitos
lugares como bares, bailes, festivais,
acompanhei artistas etc. Mas quando me tornei
espírita e tive contato com o livro Parnaso
de além-túmulo em 2010, fiquei emocionado
com os poemas e resolvi musicar alguns. Assim
surgiu o meu primeiro CD espírita: “Número
infinito” sobre poemas de Augusto dos Anjos,
psicografados por Chico Xavier. Depois disso
vieram o CD “Mensagem dos poetas mortos” sobre
psicografias de autores diversos e “Parnaso
cantado” sobre psicografias de vários poetas do
livro Parnaso de além-túmulo.
E como percebe a conexão entre a música e o
conhecimento espírita?
A música complementa de forma eficiente as
palestras e os estudos, pois acrescenta algo que
não é racional, mas emocional. O nosso cérebro
possui dois hemisférios distintos. O esquerdo é
dedicado à parte racional, enquanto o direito, à
parte emotiva. Então quando estamos estudando ou
ouvindo uma palestra, usamos o lado esquerdo do
cérebro. Mas quando se toca uma música ou se lê
uma poesia ou se faz qualquer outra atividade
artística, ela vai direto ao lado direito do
nosso cérebro, nos trazendo as emoções. As duas
partes do cérebro são importantes e se
complementam. Mas devemos lembrar que a música
também pode causar desconforto a algumas pessoas
que não gostam daquele tipo de música.
No centenário do grande tradutor, autor, editor,
entre outras qualificações, do genial Wallace
Leal V Rodrigues, em 2024, como foi se
interessar por colher depoimentos de pessoas que
com ele conviveram?
Sempre gostei muito da literatura de Wallace
Leal. Ele tem um estilo de escrever como dos
grandes escritores. Escreve com arte, pois ele é
um artista. Me identifico muito com ele, pois
também sou dessa área das artes. Wallace
trabalhou com teatro e cinema; também fez música
e a sua literatura é extremamente sensível e
bela, sem perder a essência, o conteúdo.
Em que resultarão as gravações desses
depoimentos?
Nós entrevistamos, até o momento, 24 pessoas
ligadas a Wallace Leal de alguma forma. Amigos,
vizinhos, parentes, palestrantes espíritas,
pessoas ligadas ao teatro, ao cinema, pessoas
que trabalharam ou conviveram com ele. Gravamos
mais de 40 horas de entrevistas e dividimos o
material em 10 episódios de acordo com os
assuntos. Desse material sairão um documentário
e uma minissérie em capítulos. Serão abordados
vários temas, como teatro, cinema, livros
publicados, suas influências e até suas
encarnações pregressas.
Qual a observação mais potente que colheu nessas
narrativas, considerando a versatilidade
artística e cultural do homenageado?
O que mais me impressiona é a qualidade de sua
literatura. Mas também a sua versatilidade,
tendo em vista que atuou no teatro, no cinema,
fez poesia, escreveu livros, traduziu livros de
vários idiomas, organizou livros e, apesar de
todo esse cabedal cultural e intelectual, ainda
se dedicou a atividades assistenciais, como o
famoso enxoval de bebês carentes, que ele fundou
há 70 anos na Obreiros do Bem de Araraquara e
que existe até hoje.
Em sua opinião, o que se destaca mais: a
sensibilidade, a vastidão cultural, a bondade
pessoal ou o legado por ele deixado?
Eu acho que apesar de tudo que ele realizou no
plano da caridade, da cultura, da bondade, o que
o torna mais importante é o seu legado. São
muitos os livros que ele deixou, mais de 30, que
ele escreveu, traduziu ou organizou. Ele
alavancou a Casa Editora O Clarim, que ficou
muitos anos sem publicar livros, após a morte do
grande bandeirante da divulgação espírita
Cairbar Schutel.
Suas palavras finais.
Eu recomendo que todos assistam ao documentário
e à minissérie on-line que trarão importantes
informações sobre essa grande figura do
Espiritismo. (1) Poderemos conhecer
um pouco mais da obra e da personalidade de
Wallace Leal, através de depoimentos de muitas
pessoas que conviveram com ele e compartilharam
desde grandes feitos, até os bastidores, coisas
domésticas do dia a dia, do modo como ele via a
vida e os problemas que enfrentou.
Temos também fotos raras desde a infância até
sua morte, cartas, documentos e até a voz do
Wallace gravada numa entrevista que ele concedeu
a Hernani Guimarães Andrade. Vamos todos
prestigiar Wallace Leal.
Notas do entrevistador:
(1) O
documentário e a minissérie estarão disponíveis
a partir de outubro/24 no canal no YouTube
intitulado INSTITUTO CAIRBAR SCHUTEL, em
playlist específica: Centenário de Wallace Leal.
(2) Sugerimos
visitarem o canal no YouTube ZÉ HENRIQUE
MARTINIANO, em que se encontra o acervo musical
do entrevistado, constando inclusive os 11
poemas musicados de Parnaso de Além-Túmulo e
igualmente os trailers do documentário
Centenário de Wallace Leal, além de outros
acervos.
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