Tema: Egoísmo
O peixe egoísta
— Papai, aconteceu de novo! — disse Téo, com olhar
preocupado. — O Guloso comeu quase tudo!
|
Téo tinha ganhado um aquário com vários filhotes de
peixe e estava cuidando deles com bastante
|
dedicação. |
|
Olhava todos os dias se a bombinha que oxigenava a água
estava funcionando bem, fazia a limpeza periodicamente,
organizava a decoração e, principalmente, observava seus
peixinhos.
Ele já conhecia o comportamento e as preferências de
cada um e começou a notar que um deles sempre comia mais
do que os outros. Por isso, Téo passou a chamá-lo de
Guloso.
Quando Téo colocava a comida no aquário, Guloso corria
para comer o máximo que conseguia e só depois deixava os
outros comerem. Dava empurrões e golpes duros nos outros
peixes quando eles se aproximavam da comida.
Téo já estava ficando preocupado com os outros peixes
que não conseguiam comer direito.
Com o passar dos dias, Guloso se desenvolveu bastante e
já estava bem maior do que os outros. Com isso, além de
conseguir nadar mais rápido, seus golpes machucavam mais
ainda seus companheiros.
Os outros peixes já tinham até medo de Guloso.
Procuravam, quanto possível, ficar longe dele. Alguns
até se escondiam atrás da vegetação.
Guloso percebia que era o maior e mais forte do aquário
e isso o fazia ficar cada vez mais orgulhoso e mandão.
Olhava seu reflexo no vidro e se achava lindo, forte e
brilhante. Nem percebia que estava com boa aparência,
mas não tinha nenhum amigo. Nenhum dos outros peixes o
admirava nem gostava dele.
Téo estava ficando muito triste. Percebia que seus
peixes não estavam bem. Alguns estavam pequenos,
passando fome. Também não brincavam, nem se divertiam
com nada. Viviam amedrontados, fugindo dos esbarrões
arrogantes do Guloso.
A situação não podia ficar assim. Por isso, o pai de Téo
comprou um outro aquário, bem menor, e Guloso foi
transferido para ele.
Guloso não gostou da ideia de se mudar. Quando percebeu
que estava sendo capturado com uma redinha, lutou e se
debateu quanto pôde, mas não adiantou. Teve que se mudar
e ir morar sozinho no aquário vizinho.
Foi então que tudo mudou. Os peixinhos do aquário
ficaram tão felizes que passaram a se divertir o dia
todo. Brincavam de esconde-esconde, de pega-pega, e
conversavam bastante, nadando juntos. Quando Téo chegava
com a comida, eles subiam juntos até a superfície da
água e dividiam a comida, ficando todos satisfeitos.
Estavam todos felizes.
Todos, menos Guloso. Ele agora não comia mais tanto
quanto antes. Téo colocava bem menos comida no seu
aquário do que no aquário maior.
Além disso, Guloso ficava sozinho, sem ter o que fazer a
não ser assistir aos seus antigos companheiros vivendo
felizes no aquário vizinho. Foi um período triste, que
Guloso nunca imaginou que pudesse vir a passar.
Ele viveu ao lado dos outros, porém separados, por
vários meses. Guloso não só emagreceu como mudou
bastante seu temperamento. Ele sentia muita falta de
companhia. Como ele gostaria de poder nadar com outros
peixes da sua espécie novamente. Mas ele havia tido
bastante tempo para pensar e acabou percebendo que tudo
isso tinha acontecido devido ao seu próprio
comportamento.
Guloso já estava conformado com seu destino, achando que
viveria daquela forma para sempre. Porém, um dia, o pai
de Téo trouxe um peixe de outra espécie, que não poderia
ser colocado no mesmo aquário que os outros.
Guloso então foi levado de volta para o aquário grande
para dar lugar ao novo morador.
Téo e seu pai resolveram dar mais uma oportunidade para
Guloso, para não precisarem de três aquários.
— Vamos lá de volta, Guloso! Mas quero ver você se
comportar! Vou estar de olho em você! — disse Téo, antes
de colocá-lo na água.
Guloso ouviu as palavras de Téo, mas nem precisava. Ele
estava muito diferente agora. Deixava os outros peixes
comerem primeiro e era educado. Pedia “por favor” quando
queria alguma coisa e “obrigado” quando alguém o
ajudava...
Com o passar dos dias, os outros peixes viram que Guloso
estava mesmo mudado. Passaram a chamá-lo para as
brincadeiras e rodas de conversa.
Guloso não era mais guloso. Nem mandão, nem agressivo,
nem o maior e mais bonito do aquário. Mas passou a ter
muitos amigos, a viver em paz e a ser um dos peixes mais
felizes também!