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por Nubor Orlando Facure

 

O aborto e a psicologia fetal


Tem-se tornado comum a leitura, na imprensa, de opiniões de médicos defendendo com equívocos a “normalização” do aborto. Colocam-se em defesa da mulher, de suas prerrogativas sociais e de seus direitos à saúde, dignas do reconhecimento de todos nós. Porém, parecem ignorar totalmente que a maior vítima do aborto será sempre a criança que está por nascer.

Numa análise superficial da evolução recente da Medicina, podemos notar uma sequência de contribuições importantíssimas ocorridas na área da contracepção, para poder dispor a própria mulher da opção de engravidar ou não. Do ponto de vista social, a evolução foi também notória. O nível de informação da menina-moça de hoje é quase completo e desinibido. 

Reduziram-se as pressões sociais contra a mulher solteira que engravida, e as relações sociais que regem o “convívio afetivo” entre pessoas que se afeiçoam estão cada vez mais liberais e criativas.

O caminho a percorrer, tanto na área médica como social, ainda deverá ser longo, até que toda questão da gravidez “não esperada” seja resolvida. Ainda teremos que redigir o “Estatuto da Criança que está por nascer” e a sociedade deverá compartilhar com a mulher-mãe o compromisso da vida de maneira solidária.

Venho nos últimos anos estudando o “Complexo cérebro-mente” procurando identificar como se processa esta relação entre os fenômenos físicos e sua transformação em respostas ou percepções psicológicas. Parece muito claro que o cérebro, por si só, não é capaz de justificar toda a capacidade da Mente Humana e o conhecimento científico é muito limitado para alcançar as razões filosóficas da natureza humana e do seu destino.

Tenho uma visão espiritualista que me permite identificar a mente como uma entidade corporificada que instrumentaliza o cérebro para se inserir na realidade física em que vivemos. A mente humana tem-se aprimorado dentro do mesmo processo que forçou, pela seleção natural, a evolução das formas físicas dos organismos que vivificam o nosso mundo biológico.

Na semiologia neuropsicológica, frequentemente se confunde a mente com os nossos processos psicológicos, parecendo que estes às vezes são a causa e não o efeito. 

A instrumentação neurológica de hoje só nos permite identificar os fenômenos psíquicos através da semiologia grosseira de estímulo-resposta, provocando reações através do cérebro. Ainda falta muito para aprendermos a avaliar, por exemplo, o conteúdo da consciência, a extensão dos fenômenos intuitivos e o grau superlativo das nossas percepções interiores.

Para Freud, o “Aparelho Psíquico” de cada um de nós começa a se estruturar apenas após o nascimento através da atividade motora. O gesto da criança que toca o seio materno vai-lhe inspirando segurança e, com os movimentos do corpo, ela vai-se relacionando com o mundo exterior. A partir daí passa a fazer identificações e expor suas inclinações.

A Neuropsicologia de hoje está, no entanto, antecipando cada vez mais o aparecimento de expressões do psiquismo no ser humano. Bem antes do nascimento, as manifestações de vivência agradáveis ou não da mãe já imprimem na mente da criança que vai nascer reações que logo após o parto podem ser semiologicamente confirmadas.

Análises com figuras ou retratos mostrando, por exemplo, o rosto da mãe podem ser estímulos eficazes para o recém-nascido que, se supõe, pode até distinguir um rosto com um sorriso de outro que expressa seriedade. Estímulos sonoros correspondentes à voz humana também podem ser discriminados pelo recém-nascido, especialmente quando se trata da voz da sua própria mãe. Nos congressos de neuropediatria já estão incluídos em sua temática estudos e trabalhos sobre o Psiquismo Fetal. Esta é uma área tão intrigante como foram as revelações sobre o Inconsciente após os estudos de Freud. Antes dele ninguém podia suspeitar de uma ligação materno-infantil tão fortemente ligada à sexualidade, nem se poderia compreender as paixões que o Complexo de Édipo esclareceu.

É claro que continuamos com perguntas fundamentais aguardando novas revelações.

Qual é a essência do “Psiquismo Fetal”, quando ele se inicia e qual a sua interdependência com os pais? 

Parece que estão certos os orientais que começam a contar a idade de suas crianças pela data da concepção.

A confirmação de um “Psiquismo Fetal”, intimamente ligado ao “Psiquismo Materno”, implica mais um motivo para nossa meditação quando falamos de aborto.


  
    

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita