Especial

por Gebaldo José de Sousa

Gratidão

 

A gratidão não é apenas a maior de todas as virtudes, mas a origem de todas as outras.” – Cícero.


“Os infelizes são ingratos; isso faz parte da infelicidade deles.”
 - Victor Hugo, na obra Os Trabalhadores do Mar.


Uma pessoa inesquecível

Seu nome não importa; o que importa são seus atos.

- Ao refletir sobre sua vida, somava a maioria das bênçãos recebidas. Era grato por elas. Não se lembrava de todas, mas reconhecia sua importância.

Ele se reconhecia frágil. Não lhe faltou consolo nas inúmeras vezes em que dele precisou! Muitos lhe deram colo e carinho! Em outras, incentivaram-no a ser útil (“... no limite das forças...”) – conforme proposto na questão 683 de O Livro dos Espíritos – a si, à própria família (foi arrimo) e ao próximo em geral.

Quem age assim, busca fazer aos outros o que deseja para si – nos termos do Mandamento do Mestre Jesus! Ao aplicar-se aos estudos, ao aprendizado em geral; e ao trabalho, para contribuir com a melhoria da Terra – belíssimo planeta que nos acolhe e de cuja importância os seres humanos não se deram conta, nem da ligação que há em tudo; por isso, polui céus, terra, rios e mares, com lixo de toda ordem.

Graças a Deus, hodiernamente muitos jovens cuidam de despoluir rios, mares, céus e terra, além do replantio de áreas devastadas pelo imediatismo e ambição humanos.

– Reconheceu a verdade de que é necessário ler bons livros.

Ao proceder assim, pensa melhor, redige com clareza, comunica mais e é melhor entendido.

– Sempre estudou em escolas púbicas.

À época, a qualidade da educação era melhor do que a oferecida hoje, a altos custos, nas ‘modernas’ escolas privadas! Ambição desmedida de ‘empresários’ do ensino só não conservou a qualidade que havia no passado!

– Num ano de sua vida, por favor de seu diretor – o bondoso Padre Bruno Mariano, sereno e de olhar inesquecível –, frequentou, de forma gratuita, escola salesiana, em regime de internato, com a qualidade das escolas públicas. Também os livros didáticos eram de boa qualidade, qualidade que falta aos ‘modernos’!

– No curso secundário (1ª à 4ª série) estudou na excelente Escola Técnica Federal de Goiás, em Goiânia, que oferecia aos alunos diversos cursos profissionalizantes.

Optou pelo de Eletrotécnica. Mas a vida o levou a outros caminhos. Outros colegas optaram por variados cursos: Medicina, Direito, Magistério, entre outros. Esse ou aquele adotou o ofício do curso profissionalizante – servindo a si, à própria família e à comunidade em geral!

O ensino de todas as matérias foi excelente! Ali, os professores, de boa formação, eram muito didáticos! Um orientador educacional substituía qualquer deles, em suas ausências. Em muitos casos, era melhor do que os titulares!

À época amavam lecionar: recebiam o respeito de alunos e o dos respectivos pais! Agiam como verdadeiros pais! Ofereciam não só as lições de suas matérias, mas excelente formação moral!

Modernamente não há essa reverência pelos educadores, tanto por parte dos alunos quanto de seus próprios pais! São agredidos de todas as formas – até fisicamente! Fato esse que desestimula a escolha desse curso indispensável à formação dos profissionais de todas às áreas, e à vida!

Os verdadeiros mestres educam respeitando os discípulos. Os que amam a bela arte do ensino jamais agridem!

Excelente história ilustra esse fato:

– Um aluno, com inveja de vistoso relógio do colega, furtou-o. Seu dono denunciou o fato. O velho e sábio professor, afirmou: - Vou encontrá-lo! Fechem seus olhos até que eu os libere! E revistou um por um, até o último. Ao final, afirmou: – Eu o achei! Abram seus olhos. Mas não revelou quem portava a bela peça. O autor do furto, em particular, perguntou ao mestre por que ele não indicou o ladrãozinho! Sua resposta foi maravilhosa: – Eu também estava de olhos fechados!

Este aluno, pela bela lição recebida, adotou o magistério, como profissão! E informou ao mestre a decisão de se tornar Professor!

Outro relato referente a determinado aluno:

- Ele trabalhava numa empresa e, por isso, ganhava bom salário. Certo dia, quase ao final do recreio, pagava picolés aos colegas. Um deles o avisou de que a próxima aula era com aquele professor rígido! “Deixe-o comigo!”, disse o rapaz.

Todos entraram para a sala e ele ficou rente à porta de entrada. Quando o professor entrou na sala, todos se levantaram. E antes que o mestre reclamasse dos picolés, ele estendeu a mão e lhe disse: – Trouxe este para o senhor!

Não havia como recusar e todos degustaram a preciosa dádiva!

Mas voltemos ao nosso personagem.

- Convidado a fazer teste para admissão em um Banco, pediram-lhe duas cartas de apresentação. Ele recorreu a dois professores da Escola. Um deles não lecionara para ele. Conheciam-se.

Ambas as missivas, de rara beleza, salientavam virtudes, muitas das quais até hoje não conquistou! Numa delas estava um termo jamais esquecido: ‘de hábitos morigerados’! Ao lê-las, percebeu que devia educar-se muito, para um dia ser o que diziam, generosamente dele, de suas qualidades! Em momentos de raros desalentos, recorria a elas, para reanimar-se!

– Seus professores, todos eles, são lembrados com imensa gratidão e carinho. Sobretudo dois deles, que ministravam aulas de Português.

O primeiro, na 1ª e 2ª séries. Estimulava a participação nas aulas (‘Quem se habilita?’) e o amor à poesia. O outro apoiava-se na Gramática Metódica da Língua Portuguesa e em duas Antologias Remissivas, de autoria do Professor Napoleão Mendes de Almeida, profundo conhecedor do idioma pátrio.

Detalhavam, ilustravam e explicavam os ensinos dos textos, tanto de escritores brasileiros quanto de portugueses, referidos na Gramática!

- Nas aulas de matemática, os livros tinham linear clareza, desdobrando as questões passo a passo e, assim, facilitando o entendimento aos aprendizes.

Nos atuais, aqueles que se destinam aos professores é que contêm esses desdobramentos! Nos dos alunos não há essa clareza. Procedem ao contrário do que deviam!

 

O genial Ludwig van Beethoven

Quem ignoraria a genialidade de Beethoven?

Pois o nosso personagem não incorreria nesse erro. É por isso que as notas seguintes evocam algo sobre a vida e a obra do excepcional compositor alemão.

Filho de Johann van Beethoven e Maria Magdalena van Beethoven, ele nasceu em 17 de dezembro de 1770, em Bonn, Alemanha, e faleceu em 26 de março de 1827, em Viena, Áustria.

Beethoven é considerado compositor romântico ou compositor do período clássico que fez parte da transição para a era romântica. Schubert também participa dessa fase de transição.

Sua produção divide-se em 3 fases:

– A primeira, influenciada pelo classicismo (Mozart e Haydn), vai de 1792 a 1800.

– A segunda, conhecida como fase heroica, de 1800 a 1814.

– A terceira, na maturidade, é a fase em que desenvolveu sua própria linguagem e estilo, de 1814 a 1827.

Entre suas produções, Beethoven compôs 32 sonatas para piano. A denominação de uma de suas composições mais conhecidas e bonitas, Moonlight Sonata, provém de uma observação feita pelo crítico musical e poeta alemão Ludwig Rellstab, que em 1832 (cinco anos após a morte de Beethoven) descreveu o famoso movimento de abertura como algo semelhante ao luar tremulando no Lago Lucerna.

Sua primeira grande obra orquestral, a Primeira Sinfonia, estreou em 1800 e seu primeiro conjunto de quartetos de cordas foi publicado em 1801. Apesar da deterioração de sua audição durante esse período, ele continuou a reger, estreando sua Terceira e Quinta Sinfonias em 1804 e 1808, respectivamente. Seu Concerto para violino apareceu em 1806. Seu último concerto para piano (nº 5, Op. 73, conhecido como O Imperador), dedicado ao seu frequente patrono, o arquiduque Rodolfo da Áustria, estreou em 1811, sem Beethoven como solista. Ele estava quase completamente surdo em 1814 e então desistiu de se apresentar e aparecer em público. Ele descreveu seus problemas de saúde e sua vida pessoal insatisfeita em duas cartas, seu Testamento de Heiligenstadt para seus irmãos e sua carta de amor não enviada a uma desconhecida intitulada "Amada Imortal".

Depois de 1810, cada vez menos envolvido socialmente, Beethoven compôs muitas das suas obras mais admiradas, incluindo sinfonias posteriores, música de câmara madura e as últimas sonatas para piano. A sua única ópera, Fidelio, apresentada pela primeira vez em 1805, foi revista para a sua versão final em 1814. Compôs Missa solenis entre os anos de 1819 e 1823 e a sua Sinfonia final, n.º 9, um dos primeiros exemplos de sinfonia coral, entre 1822 e 1824. Escritos em seus últimos anos, seus últimos quartetos de cordas, incluindo o Grosse Fuge de 1825–1826, estão entre suas realizações finais. Após vários meses de doença, que o deixou acamado, faleceu em 1827.

Concluindo estas notas, eis a carta-testamento que Beethoven dirigiu aos seus irmãos:

“Ó homens que me tendes em conta de rancoroso, insociável e misantropo, como vos enganais. Não conheceis as secretas razões que me forçam a parecer deste modo.

Meu coração e meu ânimo sentiam-se desde a infância inclinados para o terno sentimento de carinho e sempre estive disposto a realizar generosas ações.

Considerai que de seis anos a esta parte vivo sujeito a triste enfermidade, agravada pela ignorância dos médicos. Iludido constantemente na esperança de melhora, fui forçado a enfrentar a realidade da rebeldia desse mal, cuja cura, se não de todo impossível, duraria talvez anos!

Nascido com temperamento vivo e ardente, sensível mesmo às diversões da sociedade, vivo obrigado a isolar-me numa vida solitária. Por vezes, quis colocar-me acima de tudo, mas fui duramente repelido ao renovar a triste experiência da minha surdez.

Como confessar esse defeito de sentido que devia ser em mim mais perfeito que nos outros, de sentido que foi, tempos atrás, tão perfeito como poucos homens dedicados à mesma arte possuíam! Não me era possível contudo dizer aos homens: Falai mais alto, gritai, pois estou surdo.

Perdoai-me se me vedes afastado de vós! Minha desgraça é duplamente penosa, pois, além do mais, faz com que seja mal julgado.

Para mim já não há encanto nas reuniões dos homens, nem nas palestras elevadas, nem nos desabafos íntimos. Só a mais estrita necessidade me arrasta à sociedade.

Devo viver como um exilado. Se me acerco de um grupo, sinto-me preso de pungente angústia, pelo receio de que descubram meu triste estado. E assim vivi esse meio ano em que passei no campo.

Mas que humilhação, quando, ao meu lado, alguém percebia o som longínquo de uma flauta e eu nada ouvia! Ou escutava o canto de um pastor e eu nada escutava!

Esses incidentes levaram-me quase ao desespero e pouco faltou para que, por minhas próprias mãos, pusesse fim à minha existência. Só a arte me amparou! Pareceu-me impossível deixar o mundo antes de haver produzido tudo o que sentia me haver sido confiado.

Paciência é só o que aspiro até que as parcas inclementes cortem o fio de minha triste vida.

Melhorarei, talvez, e talvez não! Mas terei coragem.

Na minha idade, já obrigado a filosofar, não é fácil e mais penoso ainda se torna para o artista.

Meu Deus! Sobre mim deita o Teu olhar!

Ó homens! Se vos cair isto um dia debaixo dos olhos, vereis que me julgastes mal!

O infeliz consola-se quando encontra uma desgraça igual à sua. Tudo fiz para merecer lugar entre os artistas e entre os homens de bem!

Peço-vos, meus irmãos, assim que fechar os olhos, fazer-lhes em meu nome o pedido de descrever minha moléstia e juntai a isto que aqui escrevo, para que o mundo, depois da minha morte, se reconcilie comigo.

Declaro-vos ambos herdeiros de minha pequena fortuna. Reparti-a honestamente e ajudai-vos um ao outro.

A ti, Karl, agradeço as provas que me destes ultimamente! Meu desejo é que seja a tua vida menos dura que a minha. Recomendai a vossos filhos a virtude.

Só ela poderá dar a felicidade, não o dinheiro. Digo-vos por experiência própria.

Só a virtude me levantou de minha miséria. Só a ela e à minha arte devo não ter terminado em suicídio meus pobres dias.

Adeus e conservai-me a vossa amizade. Minha gratidão a todos os meus amigos. Sentir-me ei feliz debaixo da terra, se ainda vos puder valer.

Recebo com felicidade a morte. Se ela vier antes que realize tudo o que me concede minha capacidade artística, virá cedo demais e eu a desejaria mais tarde. Entretanto, sentir-me-ei contente pois ela me libertará de um tormento sem fim. Venha quando quiser e eu corajosamente a enfrentarei.

Adeus e não vos esqueçais de mim na eternidade.

Sede felizes!” (Ludwig Van Beethoven)

    

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita