A mala pesada
“As expiações são impostas, irrecusáveis, por
constituírem a medicação eficaz, a cirurgia corretiva
para o mal que se agravou.” –
Joanna de Ângelis
A família ia realizar uma viagem para fora do país.
Todos preparavam as suas malas com muita alegria. Aquela
seria a primeira vez e a expectativa das novidades a
serem vividas trazia uma euforia muito grande. Entrando
no quarto dos filhos para supervisionar a arrumação das
malas a fim de que nada fosse esquecido, o pai verificou
que uma filha adolescente montava uma bagagem muito
pesada. Muitos aeroportos de outros países eram grandes.
Acontecia de ter que se arrastar as malas durante
distâncias consideráveis. O cansaço da viagem juntamente
com o peso da bagagem imporia grandes esforços mesmo às
pessoas jovens. Com a finalidade de poupar a filha desse
incômodo, o pai alertou:
– Minha filha. Diminua as coisas que está levando porque
as malas terão que ser transportadas por distâncias
grandes dentro de determinados aeroportos. Você irá se
cansar após longas horas de viagem. Agora tudo é festa,
mas quando tiver que puxar a bagagem de um lado para
outro verá que não é tão fácil assim.
– Ora, papai! – retrucou a adolescente eufórica pela
viagem – o senhor não entende que as mulheres precisam
combinar uma série de coisas? Sapatos, roupas variadas,
bolsas etc. Como levar pouca coisa se a moda impõe a
nós, mulheres, determinadas normas que não existem para
os homens?
– Apenas estou lhe avisando que puxar de um lado para
outro a bagagem pesada irá cansá-la. Leve vestimentas
mais simples e em menor quantidade. Você vai entender o
que estou falando quando passar suas mãos na alça e
puxar a sua mala.
– Desculpe, papai. Não vou me vestir fora da moda.
Prefiro fazer força.
– Você é quem sabe. Avisada você foi.
E como o pai previu, ocorreu. As muitas horas de viagem
aérea para chegar até o destino. A má acomodação do
corpo na poltrona da aeronave. O sono mal dormido
impunha cansaço ao corpo, mesmo dos mais jovens. O
aeroporto muito grande exigia o deslocamento de uma
região distante de outra para novo embarque e a jovem
começou a reclamar.
– Papai, estou cansada! Não dá para o senhor levar um
pouco a minha mala?
– Não lhe avisei, minha filha? Vou ajudá-la um pouco
porque também tenho minhas bagagens e sou mais velho do
que você. Infelizmente terá que levar tudo o que trouxe,
apesar de alertada, por sua própria conta pela maior
parte do caminho. Da próxima vez, escute as palavras do
seu pai.
***
Caro leitor, amiga leitora, você é capaz de identificar
nas figuras acima a nossa pessoa?
Quem seria o pai que procurou alertar a filha quanto ao
peso da bagagem, senão os Espíritos amigos quando nos
avisam sobre as consequências dos nossos erros?
Quem seria a mala pesada que temos que carregar pelos
caminhos da jornada física, senão a nossas expiações que
vamos ajuntando e colocando dentro da mala de nossa
consciência culpada?
Quem seria a jovem teimosa, senão cada um de nós quando
troca o correto pelo erro mesmo quando alertado pela voz
da consciência?
Quando “aterrissamos” no aeroporto da Terra através da
reencarnação, quanto mais pesada a mala dos erros, tanto
mais esforço teremos que desenvolver para podermos
chegar ao local certo que a Providência Divina
determinou para cada um de nós.
Vamos aliviar o peso da mala para a próxima
reencarnação? Vamos colocar nessa mala as boas escolhas
que transformam nossa mala espiritual em objeto leve de
ser transportado?
Muita gente engana-se ao acreditar que os Espíritos
carregarão nossa mala de imperfeições. Eles não farão
isso. Muitas pessoas se decepcionam injustamente com a
Doutrina Espírita porque vão ao Centro Espírita e os
problemas continuam. Lógico que continuem. Os problemas
são construções nossas e não dos Espíritos. A eles
compete dar sugestões para que carreguemos nossas malas
até esvaziá-las dos erros que aí colocamos livremente.
Auxiliam-nos através das sugestões para que nossa
escolha caia sobre o certo e afastemo-nos do erro. O
erro é o peso desnecessário que ajuntamos e que teremos
que transportar em nossa caminhada terrestre. Jesus foi
claro quando afirmou que aqueles que desejassem segui-Lo
que tomasse a sua própria cruz e o fizesse. Jesus não se
propôs a carregar a nossa cruz, aquela cruz que
confeccionamos através dos erros livremente cometidos.
Que tal começarmos hoje mesmo a nos “vestir” conforme
recomenda a nossa consciência e não como recomenda a
“moda” dos interesses do mundo? Dessa forma estaremos
preparando uma bagagem mais leve para as futuras
reencarnações.