A verdadeira propriedade
“Caixão não tem gaveta” é um ditado bem popular.
No entanto, não é de hoje que temos teimado em
contrariá-lo. Vejamos, por exemplo, as imagens do
chamado Vale dos Reis, no Egito, com suas tumbas e
sarcófagos, muitos destes trabalhados ricamente, em ouro
e lápis-lazúli, onde os corpos dos antigos faraós,
mumificados, eram depositados juntamente com grãos,
utensílios variados, animais também embalsamados pelo
antigo procedimento, joias, móveis e até mesmo
carruagens. (1)
Nos dias atuais, um breve passeio, presencial ou
virtual, pelos cemitérios das grandes cidades, nos
proporcionará uma amostra do apego às vaidades humanas,
seja de quem partiu, seja dos que ainda ficaram ou
ficarão por aqui por um tempo: são os mausoléus,
verdadeiros monumentos em mármore ou granito, com
estátuas e outros adereços; pensemos em quantas casas
poderiam ser construídas com as verdadeiras fortunas ali
empregadas, as quais abrigariam famílias de baixa renda,
ao invés dos cadáveres de algumas famílias.
Garanto que o dinheiro assim empregado representaria a
verdadeira homenagem ao defunto e, quem sabe, poderia
aliviar-lhe a consciência acaso atormentada, do lado de
lá do túmulo.
A verdade é que quase nada do que é material nos
pertence e poderá nos acompanhar em nossa última viagem.
Digo quase, porque ainda nos utilizaremos de um corpo
espiritual, o envoltório do espírito, o perispírito, que
ainda é matéria, porém, mais sutil do que esta que nos
serve no momento.
Até mesmo o corpo físico deverá aqui ser deixado.
Diante disso, nem sei por qual motivo dizemos: meu
corpo, minha casa, meu carro, minhas roupas.
Nosso eu é tão inflado, que abarca até mesmo as pessoas
que a Divindade concedeu convivessem conosco: meus
filhos, minha esposa, minha família.
Concluímos, assim, que não somos proprietários, mas,
sim, usufrutuários, mordomos, administradores dos bens
que Deus nos emprestou.
O que nos pertence, sem sombra de dúvida, é o nosso
acervo espiritual, as nossas conquistas e as nossas
falhas morais, nossas virtudes e nossos vícios.
As nossas melhores energias, portanto, devem ser
empregadas em enriquecer tal patrimônio imaterial,
aprimorando o nosso caráter e adquirindo conhecimentos.
O título deste artigo, como muitos já sabem, foi
extraído dos itens 9 e 10 do capítulo XVI de O
Evangelho segundo o Espiritismo, Instruções dos
Espíritos: “Não se pode servir a Deus e a Mamon”.
E como nos ensina Emmanuel, no capítulo 7 do livro Religião
dos Espíritos, “compreendamos, com a segurança da
lógica e com a harmonia da sensatez, que, em verdade,
não se pode servir a Deus e a Mamon, mas que é nossa
obrigação das mais simples colocar Mamon a serviço de
Deus.”
(1) O
lápis-lazúli é uma rocha metamórfica de cor azul, que
pode ser opaca ou translúcida, e é composta
principalmente por lazurita e calcita. É usada como gema
ou rocha ornamental desde antes de 7.000 anos a.C.
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