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por Flávio Bastos do Nscimento

 

A verdadeira propriedade


“Caixão não tem gaveta” é um ditado bem popular.

No entanto, não é de hoje que temos teimado em contrariá-lo. Vejamos, por exemplo, as imagens do chamado Vale dos Reis, no Egito, com suas tumbas e sarcófagos, muitos destes trabalhados ricamente, em ouro e lápis-lazúli, onde os corpos dos antigos faraós, mumificados, eram depositados juntamente com grãos, utensílios variados, animais também embalsamados pelo antigo procedimento, joias, móveis e até mesmo carruagens. (1)

Nos dias atuais, um breve passeio, presencial ou virtual, pelos cemitérios das grandes cidades, nos proporcionará uma amostra do apego às vaidades humanas, seja de quem partiu, seja dos que ainda ficaram ou ficarão por aqui por um tempo: são os mausoléus, verdadeiros monumentos em mármore ou granito, com estátuas e outros adereços; pensemos em quantas casas poderiam ser construídas com as verdadeiras fortunas ali empregadas, as quais abrigariam famílias de baixa renda, ao invés dos cadáveres de algumas famílias.

Garanto que o dinheiro assim empregado representaria a verdadeira homenagem ao defunto e, quem sabe, poderia aliviar-lhe a consciência acaso atormentada, do lado de lá do túmulo.

A verdade é que quase nada do que é material nos pertence e poderá nos acompanhar em nossa última viagem.

Digo quase, porque ainda nos utilizaremos de um corpo espiritual, o envoltório do espírito, o perispírito, que ainda é matéria, porém, mais sutil do que esta que nos serve no momento.

Até mesmo o corpo físico deverá aqui ser deixado.

Diante disso, nem sei por qual motivo dizemos: meu corpo, minha casa, meu carro, minhas roupas.

Nosso eu é tão inflado, que abarca até mesmo as pessoas que a Divindade concedeu convivessem conosco: meus filhos, minha esposa, minha família.

Concluímos, assim, que não somos proprietários, mas, sim, usufrutuários, mordomos, administradores dos bens que Deus nos emprestou.

O que nos pertence, sem sombra de dúvida, é o nosso acervo espiritual, as nossas conquistas e as nossas falhas morais, nossas virtudes e nossos vícios.

As nossas melhores energias, portanto, devem ser empregadas em enriquecer tal patrimônio imaterial, aprimorando o nosso caráter e adquirindo conhecimentos.

O título deste artigo, como muitos já sabem, foi extraído dos itens 9 e 10 do capítulo XVI de O Evangelho segundo o Espiritismo, Instruções dos Espíritos: “Não se pode servir a Deus e a Mamon”.

E como nos ensina Emmanuel, no capítulo 7 do livro Religião dos Espíritos, “compreendamos, com a segurança da lógica e com a harmonia da sensatez, que, em verdade, não se pode servir a Deus e a Mamon, mas que é nossa obrigação das mais simples colocar Mamon a serviço de Deus.”

 

(1) O lápis-lazúli é uma rocha metamórfica de cor azul, que pode ser opaca ou translúcida, e é composta principalmente por lazurita e calcita. É usada como gema ou rocha ornamental desde antes de 7.000 anos a.C.


 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita