Teimosia e presunção no
cérebro
Insistentemente somos somos bombardeados por desafios
das mais diversas procedências – internas e externas –:
nossas contrariedades, nossas perdas afetivas, nossas
doenças, o ambiente hostil, as palavras dos amigos que
tentam nos corrigir, as críticas e o azedume dos
inimigos.
Imediatamente o cérebro dispara os mecanismos de defesa:
Para
manter a integridade do EU
Para
sustentar a lealdade com as nossas crenças
Para
manter elevada a nossa autoestima
Para
confirmar nossa sensibilidade social.
A integridade do Eu
Diante de
experiências amargas:
Cobranças,
acusações, surpresas, o amigo que nos trai, a reprovação
no concurso, o dinheiro perdido, a casa assaltada - em
todas elas meu cérebro teima em resistir – mobilizo os
mecanismos de defesa para manter a integridade do Eu –
prevenindo-me da loucura.
A reação
de cada um de nós costuma ser parecida:
Tomamos a
decisão de esquecer os fatos. Vamos trocar ódio por
amor, sujeira por ordem, crueldade por gentileza,
exigências por submissão. É melhor nos isolarmos por um
tempo. Que tal substituir dificuldades instransponíveis
pela escalada de uma montanha? Podemos usar a fantasia
da felicidade aparente. Podemos viajar nos nossos
sonhos. Faremos tudo para não infantilizarmos nossas
atitudes.
A lealdade com as nossas crenças
Cada um de
nós se sustenta em crenças, às quais nos apegamos com
unhas e dentes. Sem elas não encontraríamos razões que
justificassem este mundo caótico e inseguro em que
vivemos – mesmo quando as evidências sugerem o contrário
- mantermos fidelidade às próprias crenças é menos
opressivo:
Sempre que
passo mal do estomago ou tenho minhas dores de cabeça eu
confio mais num chazinho caseiro
Viajar de
carro é muito mais seguro
Os
políticos, além de não fazerem falta, estão sempre
mentindo
A
televisão só mostra porcaria
As escolas
de hoje não ensinam como as de antigamente
Não fui
aprovado pela empresa porque não tinha “padrinho”
Não
continuei esse namoro porque não gosto de me apaixonar
Pelo que
falam dela, a filha da vizinha só não é santa
Ele só te
agrediu porque eu não estava lá
Meu
cérebro é complacente e admite uma certa cumplicidade
comigo ao adotar essas crenças - elas aliviam minhas
angústias.
A presunção da autoestima
Errei
grosseiramente – fui agressivo demais ao repreender uma
funcionária – o pior é que todos viram o exagero –
adeus, portanto, para a presunção - minha aura de
bonzinho foi para o espaço. Meu cérebro mobiliza,
correndo, mil justificativas. Estava preocupado com as
contas do banco, com as notas da escola do filho, não
sei como fui ficar tão nervoso por tão pouco – isso não
é do meu feitio.
O que não
posso é pedir desculpas – minha autoestima não
permitiria. Humilhação demais eu nunca suportei:
Não fui ao
casamento da prima Carol, afinal ela não me mandou
convite
Não falei
sobre minha cirurgia, afinal isso é assunto meu
Não farei
discurso de despedida, afinal não gosto de me expor.
A sensibilidade social
Somos
sensíveis ao apoio social. A interpretação que os amigos
fazem de nós – garantindo aprovação ou reprovação – é
indispensável para nossa vida mental.
Na escola
compartilhamos as notas e reclamamos das exigências dos
professores.
No
trabalho dividimos tarefas e organizamos encontros.
Nas festas
de família trocamos notícias e prometemos novos
encontros.
No cenário
político compartilhamos com o exagero dos impostos.
Na
modernidade dos costumes ressaltamos o despreparo da
juventude de hoje.
Dessa ou
daquela maneira estamos, sempre, buscando apoio uns nos
outros.
Lição de casa
“Teimosia
e presunção” quando é no cérebro tem seu lado bom. Ele
joga a nosso favor.