Artigos

por Eder Andrade

 

Enfermidades da alma


Seria ingenuidade da nossa parte afirmar que o espírito pode adoecer, mas de fato isso pode ocorrer. Não vai adoecer como um ser orgânico e apresentar sintomas físicos, mas ocorrerão desequilíbrios emocionais que vão desestabilizar seus centros de força, seus chakras e suas decisões.

Esses desequilíbrios são emoções ou sentimentos adoecidos pelo mau uso do livre arbítrio ao longo de várias existências. Nada vai acontecer de uma hora para outra, tudo é um processo muito lento, que acaba se sedimentando no inconsciente do espírito, de tal forma que esses desequilíbrios passam a fazer parte da sua individualidade.

O espírito em questão perde a noção de limite e faz coisas que em um outro momento não faria, reflexo do desequilíbrio que é portador e do atraso espiritual.

Um assunto muito complexo de se tentar explicar, sendo que a melhor maneira é usando um exemplo, que nos foi oferecido pelo espírito André Luiz, por intermédio da mediunidade de Chico Xavier.

André Luiz, na obra Ação e Reação, narra a existência de uma Colônia no plano espiritual chamada de Mansão Paz, que era destinada ao acolhimento de espíritos enfermos.

Nem todos espíritos em sofrimento que se encontravam nessa Colônia poderiam ingressar nas principais dependências, devido ao de­sespero e revolta que apresentavam. Muitos ficavam em tratamento fora dos muros da Mansão até que tivessem condições de ingressar nas dependências internas.

Existiam trabalhadores da Mansão Paz que atuavam na segurança e também como cooperadores na reabilitação de alguns espíritos em total desequilíbrio, como era o caso do guarda Orzil, que numa pequena casa localizada fora dos muros da Mansão, tinha aos seus cuidados três espíritos em franca situação de inconsciência.

Nos conta André Luiz:

À medida que nos acercávamos do refúgio, desagradável odor nos afetava as narinas.... o cheiro alarmante de carne em decomposição era para nós, ali, um acontecimento excepcional.

Silas percebeu-nos a estranheza e endereçou interrogativo olhar ao encarregado daquele oratório de purgação, o qual informou, presto:

–Temos conosco o irmão Corsino, cujo pensamento continua enrodilhado ao corpo sepulto, de maneira total. Enredado à lembrança dos abusos a que se entregou na carne, ainda não conseguiu desvencilhar-se da lembrança daquilo que foi trazendo a imagem do próprio cadáver à tona de todas as suas recordações. 1

Um outro caso clássico na História do Espiritismo, é contado por Dona Yvonne Pereira em sua obra Memórias de um Suicida, em que o espírito de Camilo Cândido Botelho nos conta que, quando despertou no plano espiritual, sentia todos os sintomas do fenômeno da morte.

Ele nos contou que acordou no caixão e achou que tivesse sido enterrado vivo, sentia um forte cheiro de matéria em decomposição que inicialmente não sabia que era do seu corpo e, o mais impressionante, que o ferimento causado pela arma que tirou sua vida não parava de sangrar.

Depois de vários meses, quando foi recolhido ao Hospital Maria de Nazaré, passou a entender o fenômeno que acontecia com ele. 2

Chico Xavier nos deixou muitas psicografias que permitiram a elaboração, vários anos depois do seu desencarne, de um interessante livro com algumas perguntas e respostas, em que Emmanuel nos explica:


O erro de uma encarnação passada pode influir na encarnação presente, predispondo o corpo físico às doenças? De que modo?

A grande maioria das doenças tem a sua causa profunda na estrutura semimaterial do corpo espiritual. Havendo o Espírito agido erradamente, nesse ou naquele setor da experiência evolutiva, vinca o corpo espiritual com desequilíbrios ou distonias que o predispõem à instalação de determinadas enfermidades, conforme o órgão atingido. 3


A permanência do espírito no erro e em formas de pensamento doentias, acaba contribuindo através do tempo em uma grande desarmonia entre espírito e corpo físico, levando ao surgimento de enfermidades físicas em uma nova encarnação, variando de acordo com o grau de comprometimento mental e moral.

Isso nos ajuda a entender certas doenças, onde os médicos não conseguem definir um possível diagnóstico, geralmente atribuindo a questões de ordem mental, para um possível tratamento psiquiátrico.

No livro Estante da Vida, ditado pelo espírito Humberto de Campos, encontramos uma história muito oportuna, onde enfermos de um sanatório rogavam ajuda em prece. Humberto de Campos, juntamente com um jovem magnetizador em aprendizagem, promoveram por intermédio de passes uma melhora considerável nesses enfermos.

Após alguns dias, retornaram a essa enfermaria para visitar os enfermos que foram auxiliados, quando tiveram uma grata surpresa. Eles realmente haviam melhorado, porém apresentavam uma alteração de conduta, extremamente lamentável, se afastando da postura anterior de prece e da rogativa, quando solicitaram ajuda e cura ao mundo espiritual.

A decepção para Humberto de Campos foi tão acentuada, que ele entrou em prece buscando orientação com o mentor responsável, que atendeu seu chamado e esclareceu. Explicou que aqueles enfermos, não estavam preparados para receberem a cura que desejavam no tempo que gostariam. Precisavam ter uma convalescência mais longa, para internalizar conceitos morais que ajudassem no processo de restabelecimento da saúde física e mental. 4

Em outras palavras, a cura para determinadas enfermidades que somos portadores, depende sem dúvida da convalescência do corpo físico, mas principalmente do nosso equilíbrio mental e espiritual.


Bibliografia:

1) Xavier, Francisco Cândido; Ação e Reação (1957); Cap. 5 Almas enfermiças; Ed. FEB.

2) Pereira, Yvonne Amaral; Memórias de um Suicida (1955); 1ª parte: Os Réprobos – O Vale dos Suicidas e No Hospital “Maria de Nazaré”; Ed. FEB.

3) Xavier, Francisco Cândido; Verdade e amor (2015); Cap. 18 - it. 2; Ed. FEB/CEU

4) Xavier, Francisco Cândido; Estante da Vida (1969); Cap. 32 - Doentes e Doenças; FEB.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita