O controle divino
Diante de tantos desmandos por parte dos homens, de
tantas dificuldades existenciais, de tantos males
sociais, de tantas violências, muitas pessoas passam a
acreditar que, se Deus existe, ele está omisso, deve ter
largado o comando, que ele não está mais presente no
fluxo da vida, pois acontecem coisas que são difíceis de
acreditar que estejam sob o seu controle, ainda mais
diante do livre arbítrio que possuímos, e que parece
agir aleatoriamente, sem que qualquer regra possa
explicar, muito menos a afirmativa de que nada acontece
sem a permissão de Deus, sem que ele saiba.
Para entendermos todos esses acontecimentos e,
simultaneamente, a presença de Deus, lembremos que o
Espiritismo, que é doutrina espiritualista, tem por
princípio a existência de Deus, apresentando-o como
inteligência suprema do universo e causa primária de
todas as coisas. Se ele é a inteligência suprema, isso
quer dizer que nada há além dele, ou igual a ele. Deus é
único e soberano, portanto, sua lei é também única e
soberana, o que, por consequência, leva ao entendimento
que Deus é perfeito, não pode ser diferente, sendo,
portanto, sua lei igualmente perfeita, regendo a vida
tanto no aspecto espiritual quanto material. Não pode
ser diferente, pois nesse caso ele não seria Deus, não
seria a maior força do universo, o criador de tudo o que
existe, e teríamos que procurar outro ser como princípio
de tudo, o que não é lógico, não é racional.
Ora, do fato de não conhecermos Deus em sua plenitude, e
termos pouco aprendizado sobre os mecanismos da lei
divina, isso não quer dizer que essa lei,
representando-o em todos os cantos do universo, não
controle tudo. Do fato de não sabermos explicar como
acontece determinado fenômeno químico, físico,
biológico, psicológico ou mediúnico, por falta de
pesquisa e estudo, ou mesmo por falta de conhecimento
que ainda não conseguimos alcançar, isso não quer dizer
que o fenômeno não seja regido por leis, não obedeça
determinados parâmetros, embora em sua aparência nos
leve a pensar em ação aleatória, em acaso, que o
Espiritismo afirma não existirem.
Para bem julgar uma coisa é preciso estudar com
profundidade, e mais do que isso, é preciso ter a
percepção da nossa realidade espiritual, pois não somos
o corpo biológico, nem esta é a nossa única existência,
proclamando o Espiritismo a realidade da reencarnação.
Como podemos entender Deus com o olhar exclusivamente
material sobre ele? Como Deus não é humano, não é um ser
que possamos imaginar, e muito menos se reveste de um
ancião de barba branca sentado num trono entre nuvens e
anjos, figuração muito acanhada e humanizada do Ser
Supremo do Universo, quem somos nós, imperfeitos do
ponto de vista intelectual e moral, para julgá-lo e
pretender sancionar que Deus não está no controle da
vida?
Precisamos compreender, e é o Espiritismo que
racionalmente nos explica, que o livre arbítrio, a
liberdade que temos de pensar, escolher e agir, faz
parte da lei divina, que pode ser entendida como lei de
consequências, ou lei de causa e efeito, ou ainda lei de
ação e reação, onde sempre assumimos as consequências
das nossas escolhas e ações. Isso pode acontecer ainda
no decorrer desta atual existência terrena, ou no depois
da morte, retornando ao mundo espiritual, e muitas vezes
ainda na próxima encarnação, pois as existências são
solidárias entre si.
Mesmo o mal, que seja o mais hediondo, ele não acontece
sem a permissão de Deus. Perguntar-se-á como Deus pode
permitir o mal se ele, como é anunciado pelas religiões
e também pela Doutrina Espírita, se ele é amor. Como o
amor sublime pode permitir que seres que ele ama, se
matem com crueldade? Não há nada de estranho nisso
quando entendemos o livre arbítrio como faculdade do
Espírito para realizar os aprendizados necessários à sua
evolução, portanto, erros e acertos fazem parte, mas
tudo é arquivado na própria consciência, exigindo mais à
frente reparação, ou colheita da felicidade, dependendo
se nossa escolha foi pelo bem ou pelo mal.
E o futuro, o que Deus nos reserva? A lei divina é lei
de progresso, destinando-nos a um dia alcançarmos a
perfeição intelectual e moral, portanto, com o tempo a
própria humanidade terrena irá se depurar pela
consequente depuração daqueles que a formam, passando o
planeta Terra de mundo de expiações e provas para mundo
de regeneração, ou seja, hoje o mal predomina, mas
amanhã a predominância será do bem.
A presença de Deus, para
quem estuda com profundidade o Espiritismo e sai do
ponto de vista exclusivamente terreno, é inquestionável.
Sim, Deus está no controle, e sua lei, de modo
imperceptível para nós, tudo rege, inclusive o uso que
fazemos do livre arbítrio, sem que com isso percamos a
liberdade, pois é da lei que a cada um seja sempre dado
segundo suas obras.
Marcus
De Mario é escritor, educador, palestrante; coordena o
Seara de Luz, grupo online de estudo espírita; edita o
canal Orientação Espírita no YouTube; é editor-chefe da
Revista Educação Espírita; produz e apresenta programas
espíritas na internet; possui mais de 35 livros
publicados.
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