Pai nosso que estás nos Céus
A conhecida Oração dominical, sugerida por Jesus
como modelo para nos dirigirmos a Deus, representou, à
época, um avanço significativo ao entendimento que os
povos faziam da divindade, sendo hoje utilizada por uma
imensidade de religiosos.
No passado, muitos criam haver diversos deuses, outros
que estes deuses se satisfaziam com sacrifícios e
oferendas e quanto mais elaboradas fossem mais
benefícios proporcionariam aos ofertantes, ainda havia
aqueles que os invocavam para uma possível proteção nos
muitos conflitos criados entre as civilizações,
acreditava-se também que as calamidades meteorológicas
devastando as colheitas ocorriam como punição dos deuses
aos muitos pecados dos crentes, ou seja, a humanidade
ainda estava em busca de uma justa compreensão sobre
Deus e, em função da ignorância, sentimento de orgulho
de raças e do egoísmo ainda enraizado nos corações dos
devotos, havia necessidade de uma proposta simples,
direta, sem elementos outros que não os da adoração e do
respeito Àquele que nos criou e mantém a vida.
A concepção de Deus era tão obtusa que durante um
conflito bélico, acontecendo a todo momento, cada nação
em guerra orava para o seu deus ou deuses e pedia a
vitória sobre seus inimigos, o que diante do novo
entendimento de Pai, torna-se uma rogativa inaceitável e
incompreensível, pois, em última instância, o que se
pedi era para ser eficaz em matar o máximo de seus
oponentes e, se possível, destruir a cidade sede do povo
inimigo, um absurdo.
A substituição, pela figura de um Pai, da imagem
guerreira, ciumenta, parcial e para alguns vingativa que
se fazia de Deus, foi surpreendente, retirou da
divindade os atributos mesquinhos que ainda nos
caracterizam e que havíamos imaginado que os deuses
precisariam igualmente possuir, sob pena de não haver
empatia entre os crentes e o Criador, afinal, com as
nossas incontáveis máculas morais, uma divindade
perfeita estaria muito distante das expectativas do
homem comum, Deus precisava ser imperfeito como nós
ainda somos.
Assim, o novo Deus visto agora como Pai de todos, pode
ser adorado e louvado por: judeus, gentios e fariseus,
ricos e pobres, reis e vassalos, senhores e seus
escravos, independe da raça ou etnia, do idioma,
condição social...
Esta verdadeira revolução no entendimento propiciou que
todos se vissem como irmãos, afinal o agora Pai é comum,
e não mais como inimigos e competidores pelos bens e
dádivas da Terra, merecedores da atenção exclusiva de
seu ou de seus particulares deuses.
É de se notar que o Cristo ainda manteve a ideia dos
muitos Céus, conceito amplamente difundido no ambiente
hebreu, embora Ele soubesse que mais tarde, quando da
vinda do outro Consolador, a noção de Céu se perderia,
bem como a do Inferno, ainda bem, pois no espaço não há
alto nem baixo, norte ou sul, o Cosmo não é
estratificado estabelecendo camadas onde se localizam os
diversificados Céus como acreditava o pensamento de
então, ainda quase infantil. No lugar de estás nos
céus, poderíamos substituir por estás no espaço,
no Cosmos, no Universo, ou expressão
equivalente.
Dentro de sua singeleza, aponta para a submissão do
crente aos poderes infinitos de Deus, quando sugere que
Deus está em todos os lugares, os muitos céus, embora,
hoje saibamos que eles não existem e nunca existiram.
Fato marcante nesta proposta é que podemos nos
relacionar diretamente com a Divindade, prescindindo de
intermediários como alguns segmentos religiosos
apregoam, mantendo seus fiéis atrelados a ideia de que
para falar com Deus, é preciso alguém especial,
preparado para tanto.
Enxergando a divindade como um Pai, os filhos devem se
acalmar diante das incertezas da vida, pois Ele está
acompanhando toda a sua criação e não seria razoável que
nos julgássemos desprezados ou mesmo esquecidos,
acreditando que ele não nos observa e, como Pai tudo de
bom deseja aos seus filhos.
É possível que, quando orarmos sozinhos, a substituição
de Pai nosso por meu Pai seria plenamente
aceitável. A primeira é mais usual para ambientes
coletivos, uma oração proferida em um salão ou
assembleia, por exemplo.
Espera-se que com esta visão revolucionária a propósito
do Criador apresentada por Jesus, esta humanidade
encontre em breve tempo o equilíbrio tão necessário para
lidar equilibradamente e sem preconceitos com os
diversos credos, ainda tão necessários ao atendimento
das diferentes formas ainda presentes de se adorar e
entender o Pai de todos.