A
dor antecedente
Na década de
1990 floresceu
fortemente, com
espaço até hoje,
a discussão
espírita da
defesa da vida,
dividida em
ações de
esclarecimento
sobre a
prevenção do
aborto, da
eutanásia, do
suicídio e da
pena de morte.
O debate, sempre
focado no ato e
no seu agente: a
mulher que
aborta, a
família que
autoriza
desligar
aparelhos, a
pessoa que se
mata e o
criminoso que é
executado,
esquece o
contexto, a dor
antecedente que
levou àquela
situação
complexa.
Mais do que
discutir de
forma insistente
e panfletária se
somos contra ou
a favor,
interessa
entender a raiz
desses
fenômenos, o que
leva a eles e de
que forma podem
ser evitados.
Por trás do
aborto existe a
carência de
políticas de
planejamento
familiar, de
educação sexual
e debate sério
sobre
sexualidade e
relacionamentos,
temas tratados
de forma
transversal e
puritana, quando
não
negligenciados,
inclusive nas
casas espíritas.
Em relação à
eutanásia, a
doença tida como
incurável por
vezes é falta de
acesso à
assistência no
campo da saúde,
e uma situação
que pode ser
entendida como
terminal pode
ter uma solução
na expansão dos
meios
disponíveis,
inclusive pela
mobilização
popular.
A pessoa que se
mata deriva,
muitas vezes, de
mazelas da saúde
mental, ou da
falta de
assistência
adequada diante
das dificuldades
da existência, e
as lacunas de
ações que
promovam o
socorro aos
desesperados são
causas de muitas
abreviações da
vida.
Por fim, a pena
de morte é parte
de uma
trajetória que
começa com o
crime, e se dá
não só pela via
formal, mas
também na
casuística do
linchamento e da
execução
sumária.
Interessa
entender o
crime, suas
razões e como
diminuir a sua
incidência.
Simplificar o
debate no
combate à
questão pontual
e na polarização
do contra ou a
favor alimenta
tertúlias em
redes sociais,
mas pouco
contribui com a
discussão da
defesa da vida
em sua
plenitude, como
trazido em O
Livro dos
Espíritos sobre
esses temas.
Trata-se de
questões
complexas e que
não têm solução
simples; e
ficarmos como
juízes
impiedosos
diante dessas
situações
concretas sem
entender o seu
contexto e as
causas
antecedentes é
de uma crueldade
atroz e pouco
contribui com a
causa.
Passados mais de
trinta anos
dessas
campanhas,
iludidos com
acharmos que o
cerne delas é
mudar
legislações ou
promover
testemunhos
públicos, tem-se
que as causas
continuam por
aí, pujantes,
favorecendo a
ocorrência
dessas dores, e
ficamos felizes,
cumpridores de
nosso dever
espantando
moscas, sem
estar
preocupados com
curar as
feridas.