Especial

por Adrieni Silva

Os desafios inerentes à educação de crianças superdotadas


 

O portal G1 publicou em 19 de agosto de 2023 matéria assinada por Bruna Yamaguti e Fernanda Irineu, intitulada “Superdotação não é só inteligência: entenda o que são altas habilidades e quais as dificuldades enfrentadas por quem tem a condição”. Além de informações sobre o assunto, o artigo destaca as dificuldades que as crianças que têm essa condição e suas famílias enfrentam nas escolas e na sociedade.

Educar e lidar com crianças superdotadas ou com altas habilidades exige um equilíbrio delicado entre encorajar suas habilidades especiais e ao mesmo tempo educar visando o seu desenvolvimento moral e espiritual. A educação origina-se, no primeiro momento, nas bases familiares, que muitas vezes questionam como crianças em tão tenra idade podem possuir habilidades tão especiais?

A Doutrina Espírita explica as superdotações ou as altas habilidades por meio da reencarnação. Jesus nos disse: “Em verdade, em verdade, digo-te: Ninguém poderá ver o Reino de Deus se não nascer de novo”. Conforme explica O Evangelho segundo o Espiritismo, no capítulo IV: “A reencarnação é a volta da alma ou Espírito à vida corpórea, mas em outro corpo especialmente formado para ele”. Mas, se é outro corpo, como pode uma tenra criança ter faculdades extraordinárias, em música, artes, línguas, cálculos, física etc., sem que tenha tido uma longa jornada de estudo?

O Livro dos Espíritos, na questão 219, nos esclarece que a origem, a base do conhecimento são lembranças de vidas passadas, conquistas que foram obtidas em razão do progresso anterior da alma, porque na reencarnação o corpo muda, mas o espírito não. Essas aptidões extranormais que muitas crianças revelam em tenra idade para ciências ou arte são explicadas por meio da pluralidade de nossas existências (Kardec, LE, pg. 23).

Muitas vezes encontramos pessoas muito inteligentes, superdotadas ou com altas habilidades, mas que ainda necessitam do aprendizado moral (Kardec, LE, Q. 365). E esse é o objetivo da reencarnação, ou seja, proporcionar-nos oportunidades diversas de aprendizagem a fim de nos tornarmos seres perfeitos (Kardec, LE, Q. 132). A plenitude do nosso ser será alcançada por meio da perfeição moral e intelectual.

Os Espíritos retornam para a vida corporal para se aperfeiçoarem, para se melhorarem (Kardec, LE, Q. 385) e seu progresso é ascendente, embora possa não ocorrer em todos os sentidos simultaneamente; por isso em um período de existência ele pode evoluir no campo das ciências e em outras vidas desenvolver os aspectos morais (Kardec, LE, Q. 365). Assim sendo, a cada nova existência o ser humano é dotado de mais inteligência, portanto consegue distinguir melhor o bem do mal (Kardec, LE, Q 393).

Quando o Espírito retorna para a pátria espiritual, ele se lembra de suas faltas cometidas em suas vidas pregressas e percebe como poderia tê-las evitado. Reconhece que precisa reparar os danos causados e escolhe provas análogas àquelas ou lutas que considere apropriadas para seu adiantamento, e para isso pede auxílio a Espíritos superiores para essa nova existência (Kardec, LE, Q 393).

Quando chega o momento do retorno do espírito ao orbe terrestre há todo um planejamento de sua nova vida no planeta Terra. Dependendo do nível de evolução espiritual, o Espírito pode participar do planejamento de sua nova vida e da escolha de características físicas de seu corpo. Contudo, são observadas as leis de causa e efeito e as leis naturais da hereditariedade (Missionários da Luz, pg. 224), bem como as qualidades do Espírito, que frequentemente modificam os órgãos do corpo físico em que vai reencarnar (Kardec, LE, Q. 217).

A missão dos espíritos encarnados é reparar faltas anteriores, instruir e auxiliar os seres humanos em seu progresso. Portanto, todos nós temos a missão de auxiliar o próximo (Kardec, LE, Q. 573).

A nossa parentela vai além da existência atual, e estamos conectados por meio da sucessão das existências corporais e das ligações que remontam às nossas vidas pregressas (Kardec, LE, Q. 204). Os Espíritos não procedem uns dos outros, mas são atraídos para famílias pelas quais sentem simpatia ou por laços estabelecidos em vidas passadas (Kardec, LE, Q. 206).

Os genitores dão a seus filhos apenas a vida corporal, animal, porque a alma é indivisível, sendo assim, independentemente do seu nível intelectual, podem ser responsáveis pelo nascimento de crianças superdotadas ou com altas habilidades, ou vice-versa (Kardec, LE, Q. 203). Os pais podem transmitir a seus filhos características físicas, mas não a parte moral, porque o corpo procede do corpo, mas o espírito não procede do espírito. Se às vezes vemos semelhanças morais entre pais e filhos, isso ocorre porque são espíritos simpáticos, que se conectaram anteriormente por conta de suas convicções (Kardec, LE, Q. 207).

A paternidade e a maternidade são verdadeiras missões, um dever, que envolve responsabilidade quanto ao futuro. Deus colocou o filho sob a tutela dos pais ou mães a fim de que sejam orientados pelo caminho do bem. Para facilitar a tarefa dos pais, Deus envia os filhos como crianças frágeis, que necessitam de cuidados amorosos e que são acessíveis às impressões que recebem, o que pode auxiliar o seu desenvolvimento intelectual e adiantamento moral (Kardec, LE, Q. 383 e 582).

Os pais exercem grande influência no progresso de seus filhos e têm, portanto, o dever de, por meio da educação, contribuir para o progresso intelectual e moral dos seus filhos (Kardec, LE, Q.208).

No livro Missionários da Luz, André Luiz esclarece que a responsabilidade dos pais pode ter início ainda no planejamento reencarnatório. Momento em que, no plano espiritual, são definidas as características do corpo físico, para que melhor auxiliem o reencarnante a vencer as provas e os obstáculos que o esperam na vida corporal (Kardec, LE, Q,335). Ainda no plano espiritual é feita a conexão, bem como o preparo emocional dos genitores com o espírito que receberão como filho e a conscientização das provas por que terão que passar no mundo físico (Missionários da Luz, cap. 12 a 14).

A missão dos pais é sagrada, eles têm o dever de acolher com amor seus filhos, desenvolver suas virtudes e orientá-los para o bem. No caso de crianças com altas habilidades ou superdotadas, cabe aos pais esse olhar amoroso e a sensibilidade de os educar para o desenvolvimento de virtudes morais, contribuindo assim, pela educação, para o seu desenvolvimento integral.

A infância é não só útil, é necessária, indispensável, mas também é consequência natural das Leis que Deus estabeleceu e que regem o Universo. Nessa fase da vida o aprendizado é facilitado pela delicadeza da idade infantil, que torna os espíritos brandos e acessíveis aos conselhos da experiência e dos que devam fazê-los progredir.  Nesse período é que se lhes pode reformar o caráter e reprimir seus maus pendores (Kardec, LE, Q. 385).

Santo Agostinho nos lembra que Deus nos outorgou a inteligência e o saber para reparti-los com nossos irmãos, contribuindo para que se adiantem pela senda que conduz à bem-aventurança e à felicidade eterna (Kardec, LE, Q. 495).

A educação moral das crianças é um desafio significativo, incluindo as superdotadas ou com altas habilidades, mas também uma oportunidade única de contribuir positivamente para a evolução da nossa sociedade e do planeta Terra.

As lições de humildade e de mansidão ensinadas por Jesus, que se encontram explicadas com clareza em O Evangelho segundo o Espiritismo, combinadas com os ensinamentos espirituais de Kardec, são o caminho para orientar as crianças em direção a um crescimento espiritual e moral, ajudando-as a se tornarem pessoas de bem em nossa sociedade.

Conforme as orientações deixadas por Jesus sobre a missão do homem inteligente na Terra, a inteligência é um instrumento para o cumprimento da missão de desenvolver a inteligência nos demais companheiros de jornada. A inteligência é uma ferramenta para a prática do bem. (Kardec, ESE, Cap. VII).

Jesus ensina as virtudes essenciais nas bem-aventuranças para nossa evolução moral, que devem ser transmitidas para as crianças. Por exemplo, buscando evitar que o conhecimento leve ao orgulho, à prepotência e à arrogância, faz-se necessário ensinar e exemplificar a humildade. 

Os pais e a sociedade devem estar atentos às necessidades especiais das crianças e preparados para ensinar a elas as qualidades morais, como a importância da empatia, a compaixão e o serviço ao próximo. Importante se faz reconhecer e direcionar os talentos naturais dessas crianças para o caminho do bem, ensinando-lhes a responsabilidade de usar seus dons de forma construtiva.

A Federação Espírita Brasileira deu o primeiro passo para auxiliar as famílias na educação de suas crianças e implementou, em 1914, a Evangelização Infantojuvenil, que se expandiu por todo o País.  

Inspirada na formação integral da criança, a evangelização contempla o conhecimento doutrinário, o aprimoramento moral e a transformação social, tendo como finalidade a vivência da máxima do Cristo: o Amor a Deus, ao próximo e a si, tendo como objetivo primordial a formação do Homem de Bem.

A Doutrina Espírita por meio da educação cristã, desde a primeira infância, busca orientar para os valores cristãos com vistas a auxiliar no desenvolvimento integral desses espíritos, visando o uso de suas potencialidades na construção do bem e de uma sociedade de amor. Os pais também são orientados na formação de seus filhos, por meio do compartilhamento de histórias e experiências, construção de vínculos fraternos, com base na vivência do Evangelho de Jesus e estudo da Doutrina Espírita.

A educação das crianças é um desafio, mas é importante ter o entendimento de que determinadas características ou condições de seus filhos estão relacionadas às vidas anteriores, e que, se Deus confiou aos pais e mães essa missão, é porque têm eles condições de proporcionar a melhor educação que essas crianças necessitam para sua evolução.

É de suma importância educar o ser de forma completa, integral, tanto intelectualmente como moralmente, para que essas faculdades extraordinárias sejam utilizadas para o bem, promovendo o bem-estar pessoal e coletivo. Educando a criança vamos induzi-la ao esforço da construção de um mundo melhor (Xavier, Mais Luz, pg. 8).

 

Referências:

Yamaguti, Bruna e Irineu, Fernanda. Superdotação não é só inteligência: entenda o que são altas habilidades e quais as dificuldades enfrentadas por quem tem a condição. G1 DF e TV Globo. 19 ago 2023.

Kardec, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 3 ed. Francesa. 1ª edição. Brasília. FEB, 2023. Cap. IV e VII.

Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 93 ed. Brasília. FEB, 2013. p.23. Q.: 132, 203, 204, 206 a 208, 217, 219, 335, 365, 383, 385, 393, 495, 573 e 582.

Xavier, Francisco Cândido. Missionários da Luz. Brasília. FEB, 2013. Capítulos 12 a 14.

Xavier, Francisco Cândido. Mais Luz. GEEM, 2012. Cap.: Amparo à Criança.

Federação Espírita Brasileira (FEB). Estudo das Concepções e Diretrizes da Evangelização de bebês. 2020. Disponível em: FEBNET / Acessado em 18 de jan. 2024.

 

Adrieni Silva é palestrante e atua no movimento espírita de Brasília-DF. Este artigo foi apresentado no Concurso A Doutrina Explica 2023, promovido pelo Jornal Brasília Espírita, em parceria com a revista O Consolador e a Web Rádio Estação da Luz.

    

     
     

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 Revista Semanal de Divulgação Espírita