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por Marcus De Mario

 

Espiritualidade e educação


Desde o final dos anos mil novecentos e noventa, e acentuando-se na primeira década dos anos dois mil, assistimos o surgimento de uma nova linha de pensamento na psicologia e na psicoterapia, chamada de Inteligência Espiritual. Essa linha de pensamento tem muitos pontos de contato com a Psicologia Humanista ou Transpessoal, trabalhando os aspectos da espiritualidade do ser humano, procurando respostas satisfatórias para o sentido da vida, com todos os seus acontecimentos, bons e ruins.

Destacam-se, sobre a Inteligência Espiritual, os psicólogos e pesquisadores Danah Zohar, Ian Marshall, Richard Wolman e Richard Griffths, dos quais fizemos a leitura de seus principais livros. Pudemos concluir de tudo o que lemos, que eles não conseguiram se aproximar da alma como ser imortal preexistente e sobrevivente à morte. Todos tendem a circunscrever a espiritualidade ou inteligência espiritual no campo do biológico, principalmente no neurológico, sem conseguirem explicar o que sejam, por exemplo, a mente e a consciência. São trabalhos relevantes, sem dúvida, com várias implicações na educação e nas terapias psicológicas e psicanalíticas, mas ainda aquém da realidade da alma imortal, como estuda e demonstra o Espiritismo.

Eles discutem em suas obras tanto a ciência quanto a religião, entendendo que há de haver pontos de contato, mesmo a necessidade de união entre as duas para explicar a espiritualidade do ser humano, mas encontram barreiras difíceis de serem superadas, pois entendem a religião do ponto de vista das doutrinas tradicionais formalizadas por dogmas, tradições seculares e sacerdócio, e isso é incompatível com o pensamento racional científico. A espiritualidade, ou inteligência espiritual, fica perdida nesse confronto.

Percebemos nitidamente quanto esses psicólogos estão prejudicados pelas religiões tradicionais, tais como o judaísmo, o catolicismo, o protestantismo, o budismo e o islamismo, que se apoiam em crenças nem sempre lógicas, com artigos de fé inquestionáveis, mas sem nenhuma base racional, e com ações sacerdotais que podem ser questionadas, refletindo preconceitos que já não cabem na sociedade atual. E ainda mais: essas religiões tradicionais não explicam de forma clara o tema alma, não explicam de forma satisfatória a essência do ser humano e da vida, não possuem visão objetiva sobre a morte e a continuidade da vida. Todas têm por base o conceito da alma, pois são doutrinas espiritualistas, mas a morte continua envolta em mistérios.

A ciência, que é em grande parte materialista, mesmo a psicologia, se vê em apuros diante dos fenômenos que atestam a existência da espiritualidade humana, procurando acomodar tal constatação no âmbito do emocional, ou nas variedades de inteligência, daí terem surgido as teses da inteligência emocional, das inteligências múltiplas, da inteligência moral e, agora, da inteligência espiritual. São caminhos para a descoberta da alma, mas isso ainda está longe, nos arraiais científicos, de acontecer.

Seja como for, é importante destacarmos que os desenvolvedores da tese da inteligência espiritual, ou simplesmente espiritualidade, vislumbram sua necessidade e suas consequências na educação das crianças e dos jovens, para a formação de uma geração mais sadia e, por consequência, de uma sociedade mais sensível, mais afetiva, mais solidária, mais fraterna, ou seja, de uma humanidade menos violenta e com valores de vida mais transcendentes, o que eliminaria toda forma de violência. Forçosamente temos o vislumbre de uma educação espiritualizada, humanizada.

Esse vislumbre, sob o nome educação moral, ou educação do espírito, foi feito pelo Espiritismo desde o seu surgimento na metade do século dezenove, tese levantada pelos espíritos, e encampada por Allan Kardec, o codificador da doutrina espírita. E para o Espiritismo todo ser humano é uma alma imortal reencarnada, já tendo vidas passadas, e que terá vidas futuras, seja aqui na Terra ou em outros mundos, prosseguindo seu progresso até a perfeição. Portanto, sendo a alma imortal, temos vida depois da morte, na dimensão espiritual, que interage com a dimensão material da vida. E como as existências são solidárias, a alma, ou espírito, sempre assume as consequências do bem e do mal que tenha praticado.

O Espiritismo não descarta os estudos sobre as inteligências, entre elas a espiritual, mas vai além, pois entende que não pode trabalhar a espiritualidade do ser humano sem a existência, sobrevivência e progresso da alma, o ser individual que pensa e sente. Essa visão sobre o ser humano representa, não temos dúvida, uma transformação profunda, uma verdadeira revolução, na educação, e nisso estamos de acordo com os psicólogos e pesquisadores da inteligência espiritual.

 

Marcus De Mario é escritor, educador, palestrante; coordena o Seara de Luz, grupo on-line de estudo espírita; edita o canal Orientação Espírita no YouTube; é editor-chefe da Revista Educação Espírita; produz e apresenta programas espíritas na internet; possui mais de 35 livros publicados.
 
 

     
     

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