Espiritualidade e educação
Desde o final dos anos mil novecentos e noventa, e
acentuando-se na primeira década dos anos dois mil,
assistimos o surgimento de uma nova linha de pensamento
na psicologia e na psicoterapia, chamada de Inteligência
Espiritual. Essa linha de pensamento tem muitos pontos
de contato com a Psicologia Humanista ou Transpessoal,
trabalhando os aspectos da espiritualidade do ser
humano, procurando respostas satisfatórias para o
sentido da vida, com todos os seus acontecimentos, bons
e ruins.
Destacam-se, sobre a Inteligência Espiritual, os
psicólogos e pesquisadores Danah Zohar, Ian Marshall,
Richard Wolman e Richard Griffths, dos quais fizemos a
leitura de seus principais livros. Pudemos concluir de
tudo o que lemos, que eles não conseguiram se aproximar
da alma como ser imortal preexistente e sobrevivente à
morte. Todos tendem a circunscrever a espiritualidade ou
inteligência espiritual no campo do biológico,
principalmente no neurológico, sem conseguirem explicar
o que sejam, por exemplo, a mente e a consciência. São
trabalhos relevantes, sem dúvida, com várias implicações
na educação e nas terapias psicológicas e
psicanalíticas, mas ainda aquém da realidade da alma
imortal, como estuda e demonstra o Espiritismo.
Eles discutem em suas obras tanto a ciência quanto a
religião, entendendo que há de haver pontos de contato,
mesmo a necessidade de união entre as duas para explicar
a espiritualidade do ser humano, mas encontram barreiras
difíceis de serem superadas, pois entendem a religião do
ponto de vista das doutrinas tradicionais formalizadas
por dogmas, tradições seculares e sacerdócio, e isso é
incompatível com o pensamento racional científico. A
espiritualidade, ou inteligência espiritual, fica
perdida nesse confronto.
Percebemos nitidamente quanto esses psicólogos estão
prejudicados pelas religiões tradicionais, tais como o
judaísmo, o catolicismo, o protestantismo, o budismo e o
islamismo, que se apoiam em crenças nem sempre lógicas,
com artigos de fé inquestionáveis, mas sem nenhuma base
racional, e com ações sacerdotais que podem ser
questionadas, refletindo preconceitos que já não cabem
na sociedade atual. E ainda mais: essas religiões
tradicionais não explicam de forma clara o tema alma,
não explicam de forma satisfatória a essência do ser
humano e da vida, não possuem visão objetiva sobre a
morte e a continuidade da vida. Todas têm por base o
conceito da alma, pois são doutrinas espiritualistas,
mas a morte continua envolta em mistérios.
A ciência, que é em grande parte materialista, mesmo a
psicologia, se vê em apuros diante dos fenômenos que
atestam a existência da espiritualidade humana,
procurando acomodar tal constatação no âmbito do
emocional, ou nas variedades de inteligência, daí terem
surgido as teses da inteligência emocional, das
inteligências múltiplas, da inteligência moral e, agora,
da inteligência espiritual. São caminhos para a
descoberta da alma, mas isso ainda está longe, nos
arraiais científicos, de acontecer.
Seja como for, é importante destacarmos que os
desenvolvedores da tese da inteligência espiritual, ou
simplesmente espiritualidade, vislumbram sua necessidade
e suas consequências na educação das crianças e dos
jovens, para a formação de uma geração mais sadia e, por
consequência, de uma sociedade mais sensível, mais
afetiva, mais solidária, mais fraterna, ou seja, de uma
humanidade menos violenta e com valores de vida mais
transcendentes, o que eliminaria toda forma de
violência. Forçosamente temos o vislumbre de uma
educação espiritualizada, humanizada.
Esse vislumbre, sob o nome educação moral, ou educação
do espírito, foi feito pelo Espiritismo desde o seu
surgimento na metade do século dezenove, tese levantada
pelos espíritos, e encampada por Allan Kardec, o
codificador da doutrina espírita. E para o Espiritismo
todo ser humano é uma alma imortal reencarnada, já tendo
vidas passadas, e que terá vidas futuras, seja aqui na
Terra ou em outros mundos, prosseguindo seu progresso
até a perfeição. Portanto, sendo a alma imortal, temos
vida depois da morte, na dimensão espiritual, que
interage com a dimensão material da vida. E como as
existências são solidárias, a alma, ou espírito, sempre
assume as consequências do bem e do mal que tenha
praticado.
O Espiritismo não descarta os estudos sobre as
inteligências, entre elas a espiritual, mas vai além,
pois entende que não pode trabalhar a espiritualidade do
ser humano sem a existência, sobrevivência e progresso
da alma, o ser individual que pensa e sente. Essa visão
sobre o ser humano representa, não temos dúvida, uma
transformação profunda, uma verdadeira revolução, na
educação, e nisso estamos de acordo com os psicólogos e
pesquisadores da inteligência espiritual.
Marcus De Mario é
escritor, educador, palestrante; coordena o Seara de
Luz, grupo on-line de estudo espírita; edita o canal
Orientação Espírita no YouTube; é editor-chefe da
Revista Educação Espírita; produz e apresenta programas
espíritas na internet; possui mais de 35 livros
publicados.
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