Não nos deixes entregues à
tentação, mas livra-nos do mal
Há aproximadamente dois mil anos o Governador da
Terra nos ensinou uma oração, que vem servindo
de guia e modelo por séculos a incontáveis
religiosos desejosos em fazer contato mais
íntimo com o Criador intitulada: Oração
dominical ou Pai nosso.
Essa oração vem sendo repetida mecanicamente
pela maioria dos profitentes, sem sequer
refletir sobre as palavras que a compõem, com a
agravante de que creem que por conta da
repetição quantitativa desta oração, ou seja,
pela sua insistência, Deus os favoreceria de
modo especial. Talvez pensem que vencerão Deus
pelo cansaço, de modo que Ele os escute!
Certamente, uma atitude infantil e imatura,
típica daqueles que não compreendem os
mecanismos reguladores da vida e muito menos a
magnanimidade do Todo Poderoso.
Por não refletir sobre este modelo de oração,
originalmente endereçada ao povo hebreu, que já
conhecia e mantinha elementos dessa oração em
seus antigos escritos e tradições, não se
percebe que certas partes do texto não fazem
sentido, se observadas literalmente, quando
confrontadas com as leis de Deus e a forma como
Ele estruturou o nosso processo evolutivo.
Tomemos um pequeno trecho desta oração.
Não nos deixes entregues à tentação!
Será que a divindade nos criou para estarmos
sujeitos às tentações e, se não solicitarmos que
Ele nos livre desse mal, ficaremos à mercê dos
incontáveis apelos à perdição? Afinal, quem cria
as tentações do caminho, nós mesmos ou os
outros, ou seria alguma entidade maligna,
popularmente intitulada de Diabo!? Domar os
muitos apelos para trilhar o mau caminho, não é
uma tarefa de cada qual, um desafio pessoal?
Para melhor entender estas palavras, basta
ajuizarmos que as tentações do cotidiano surgem,
provocando seus efeitos indesejados se
atendidas, na medida direta em que vivemos
afastados da intimidade dos postulados divinos.
Caso observássemos, por exemplo, as
características do homem de bem listadas em O
Evangelho segundo o Espiritismo, em seu
capítulo XVII - Sede perfeitos -, certamente
venceríamos os desejos inadequados que pontilham
a trajetória de Espíritos ainda imperfeitos como
nós e que tanto mal nos causam.
A propósito, o Diabo nunca existiu e jamais
existirá, pois os mecanismos de evolução do
Criador não comportam a possibilidade de uma de
suas criaturas existir única e exclusivamente
voltada à prática do mal.
Mas livra-nos do mal!
Já aprendemos que o mal acontece pela ausência
do bem, como a sombra que surge pela falta de
luz, e o primeiro não existe por si mesmo, mas
parece que ao pedir para que Ele nos livre do
mal, poderia sugerir que o mal sempre existiu e
sempre continuará existindo pelos tempos afora e
precisaríamos nos esquivar dele, sempre
aparecesse repentinamente, sem aviso, para nos
tentar e prejudicar.
Entretanto, cabe a quem não praticar o mal? Não
são as nossas condutas, pensamentos e palavras
que criam o temido mal em nossos caminhos? O mal
vem de fora ou vem de dentro de nós?
Pode-se argumentar nesta hora de que o mal é
irresistível, não há possibilidade de dominá-lo
e sempre cairíamos moralmente, mais cedo ou mais
tarde. Para esclarecer essa questão, basta
consultar outra obra de Allan Kardec – O
Livro dos Espíritos - e aprender:
909. O homem sempre poderia vencer suas más
tendências mediante seus próprios esforços?
“Sim, e às vezes com pouco esforço. O que lhe
falta é a vontade. Ah! como são poucos os que se
esforçam entre vós!”
Observemos: Pouco esforço!
Sendo assim, pensemos detidamente sobre a nossa
responsabilidade em afastar as tentações quando
repetirmos: Não nos deixes entregues à
tentação, mas livra-nos do mal.