Estava
escrito nas estrelas
“Família tem papel
fundamental no apoio à
pessoa com deficiência.”
Eis o título de
reportagem do jornal
digital Gazeta do
Povo, assinada por
Carla Bastos Dias. A
autora discorre sobre
vários desafios que
pessoas com deficiência
são premidas a enfrentar
no dia a dia, bem como
sobre a importância do
apoio a elas fornecido
pelas famílias,
biológicas ou não, tanto
no aspecto da mobilidade
física como nos aspectos
emocional e psicológico.
Mariana é deficiente
física. Ao abrir pela
primeira vez os olhos
neste mundo, ela se
defrontou com um
espírito estranho, nada
simpático ao seu. Era
sua mãe, que esboçava
medo frente ao olhar de
cobrança da filha
recém-nascida. O
espírito de Mariana a
tinha reencontrado para
que, desta vez, pudessem
ambas contribuir para o
progresso mútuo. Reencarnou
neste mundo pelo amor de
sua mãe. Agora, os laços
de sangue impunham a
elas a vida em comum, a
consolidação dos
vínculos afetivos e a
tarefa de desenvolverem
seus espíritos nesta
nova jornada (KARDEC,
Allan; O Evangelho
Segundo o Espiritismo.
FEB. 2018. cap. XIV –
item 8).
Elas entenderam que era
o início de uma
trajetória árdua para as
duas. Mariana, como
espírito reencarnante,
necessitava de uma nova
chance de
aperfeiçoamento por meio
das dificuldades da vida
corpórea. Por isso,
aquele momento era a
oportunidade
compartilhada por ambas
de reparar os erros das
vidas passadas que, pelo
livre-arbítrio,
escolheram viver.
O mundo desabou - Com
três horas de vida, o
corpo físico de Mariana
começou a colapsar com
uma alteração na
oxigenação do sangue,
seguida de uma parada
cardiorrespiratória. Foi
levada à UTI neonatal e
logo melhorou, sem
explicação. Alguns dias
depois, o corpo daquela
criança não respondia
mais aos estímulos e, de
volta ao hospital, a
família foi informada de
que, durante o tempo em
que passou na UTI, houve
um surto de meningite e
ela havia contraído a
doença. Com 28 dias de
vida, desenvolveu um
quadro de hidrocefalia.
A partir daí, estava
determinada a
reencarnação que Mariana
precisava viver.
Nos dois anos seguintes,
a vida de ambas se
resumia a idas ao
hospital. A criança
ainda não tinha um lar.
Seu lar na verdade era a
mão de sua mãe, sempre
pegada na sua. Seu
abrigo era a resignação
da mãe em mantê-la viva.
Sua protetora nunca
houvera se iludido com a
condição material de sua
filha, mas buscou todos
os meios materiais e
espirituais possíveis
para sua melhoria. Nunca
mediu esforços.
Para Mariana, ficou
muito nítida em sua
mente a necessidade de
todos esses
acontecimentos para que
sua existência corpórea
fosse um depurativo de
seu espírito. Deus
sempre tem uma razão
inteligente para
permitir que a leis que
regem o universo se
concretizem. Mãe e filha
se reconectaram para
serem aqui uma família
espiritual (KARDEC,
Allan; O Livro dos
Espíritos, FEB,
1997. Questões: 204 e
206).
O abraço da vida - A
mãe de Mariana teve, por
meio de seu pai e seu
avô, os esclarecimentos
sobre a relação do mundo
material com o mundo
espiritual e, desde
pequena, a vivência
espírita que eles lhe
proporcionaram. Assim,
essa mãe, influenciada
pelos preceitos
espíritas, assumiu, com
resignação e amor, a
missão do
desenvolvimento de sua
filha com dedicação
exclusiva.
Mariana teve sua família
como suporte, um
trampolim para a vida. A
estrutura de amor
amparou seu progresso e
atendeu suas
necessidades físicas,
afetivas e sociais,
preparando-a para o
futuro em todos os
níveis. Mariana pode
aprender na prática o
verdadeiro sentido da
caridade.
O acesso de Mariana aos
fundamentos do
Espiritismo e o
testemunho do amor
recebido pela mãe
fizeram com que a
deficiência alcançasse
níveis de melhora não
vislumbrados por alguns
médicos. A mãe usava
diariamente os recursos
da fé, da paciência, da
esperança, da renúncia,
do sacrifício. Pode
parecer sofrimento ter
um filho deficiente,
mas, para os pais, é a
oportunidade de estar
mais perto de quem ama,
é fortalecer os laços de
afeto verdadeiro. Talvez
por isso Mariana nunca
tenha se sentido
diferente (KARDEC,
Allan; O Livro dos
Espíritos. FEB,
1997. Questão: 582).
A doutrina explicou - É
sabido que todos os
obstáculos da vida têm
um propósito, e, se Deus
é justo, justas também
há de serem as
vicissitudes próprias a
cada criatura humana.
Mariana aceitou sua
condição de deficiente
como uma grande
oportunidade para sua
recuperação moral e
reeducação espiritual
(FRANCO, Divaldo; Vivências
do amor em família.
Leal, 2016. p. 267 a
274).
Há muitas explicações na
literatura espírita e
nas mensagens dos
benfeitores espirituais
sobre as causas das
deficiências físicas ou
mentais. Segundo essas
fontes, podem ser, por
exemplo, consequências
de atos contra a própria
vida em outra
reencarnação (NAZARETH,
Joamar Zanolini; Um
desafio chamado família.
Minas Editora. 1999. p.
79 a 72; p. 73 a 76).
Apesar de mãe e filha já
terem desenhado
situações de vidas
passadas, elas
escolheram, por fim, não
especular sobre a causa
da atual reencarnação.
As revelações do passado
podem trazer mais
sofrimento. Daí que
respeitaram a sabedoria
divina, a qual, não por
acaso, lança um véu
sobre o passado enquanto
se vive neste plano
(KARDEC, Allan; O
Livro dos Espíritos.
FEB, 1997. Questões 392
a 399).
Empoderamento - Deus,
em sua infinita
misericórdia, não dá a
seus filhos tribulações
que não possam suportar.
Assim, a deficiência de
Mariana não a limitou.
Ela é uma condição que
lhe possibilitou fazer
as tarefas de outro
jeito, com outras
ferramentas (ANDRADE,
Geziel; Educação
espírita de nossos
filhos. EME. 2006. p.
140 a 143).
Tanto é assim que
Mariana já realizou
coisas que desafiavam
suas limitações, como a
dança. Além disso, é
atleta da Seleção
Brasileira de Bocha
Paralímpica. Já competiu
duas vezes no mundial.
Sua grande paixão é
cantar, especialmente rock´n’
roll. Regularmente,
ela posta suas
interpretações à capela
em seu canal do YouTube.
Essas e outras
conquistas evidenciam o
papel da família como
principal agente
intermediário entre a
criança e os demais
meios sociais (RAMOS,
Lucy Dias; Lar: alicerce
de amor. FEB. 2016. p.
209 a 216).
Mariana tem consciência
de que Deus lhe deu a
missão de vir para este
mundo para, com
humildade, romper
padrões e tabus, além de
inspirar outras pessoas
a se transformarem.
Pensa estar inserida em
uma sociedade cuja
diversidade serve de
lição para a evolução
espiritual comum. Nessa
perspectiva, para ela,
ser diferente, fora do
normal, está tudo bem,
porque “ninguém é normal
mesmo” (KARDEC, Allan; O
Evangelho Segundo o
Espiritismo. FEB,
2018. Cap. V, item 18;
cap. XVIII, item. 3).
Nosso Mestre Jesus nos
ensina que só o amor, na
sua expressão mais
abrangente, é capaz de
ressignificar um novo
viver. Mariana, antes de
reencarnar, “escreveu
nas estrelas” como
seriam suas provas nesta
vida. Agora ela escreve
como é o seu caminho de
aprendizado e progresso.
Não é tarefa fácil, mas
ela é senhora de si.
*Artigo
participante do Concurso
A Doutrina Explica 2023,
promovido pelo Jornal
Brasília Espírita, em
parceria com a revista
eletrônica O
Consolador e a Web
Rádio Estação da Luz.
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