Um conto,
simplesmente um conto
Era uma vez...
Lá na longínqua Moçambique nascia uma menina linda,
loirinha, olhos claros, a quem foi dado o nome de
Janete... carinhosamente Janetinha para os mais
chegados. Minha irmãzinha caçula.
Havia entre nós 16 anos de diferença e, assim, sem mais
nem porquê, muita gente achava que Janetinha era minha
filha. E o foi e sempre será. Janetinha virou uma mulher
linda e de excelente coração. Eu a chamava
carinhosamente “My little golden butterfly”*,
mas, um dia, veio a inesperada notícia de que ela estava
com câncer. Foi um choque, um soco na barriga que me
deixava sem poder respirar! Eu queria estar no lugar
dela, e como irmã mais velha chegava a pedir a Deus que
passasse o câncer para mim, deixando que ela vivesse sem
esse triste fim.
Quando detectado, o câncer já estava bem avançado. Eu
chorava escondido e me afogava em lágrimas inúteis.
Minha pequenina borboleta dourada sofria e sofreu muito
até fazer a dolorosa passagem.
Trabalhei alguns anos como médium de cura. Não gosto da
palavra “cura”, até porque a cura não é feita por nós.
Apenas somos intermediários e nos colocamos à disposição
da Espiritualidade Superior, que, amorosamente, atua
para nos ajudar.
Como disse, sou espírita, mas nessas horas parece que
todo o estudo, o conhecimento sobre Espiritismo, se
esvai e fica somente a dor lancinante que rasga um
coração já sangrando.
E, um dia, chegou a hora da passagem. Até hoje choro
dolorosamente quando penso nesses últimos momentos.
Ocorre que o tempo foi passando e, de quando em quando,
comecei a ver my little golden butterfly aparecendo
sentada na minha cama, ou no meu jardim, de que ela
tanto gostava, assegurando-me que ela estava bem e em
paz.
Com o fato fui sufocando minhas lágrimas, mas ficou
ainda uma tristeza profunda em mim para todo o sempre.
Passado algum tempo, quando limpava a sala envidraçada
que dá para o jardim, vi algo que não conhecia. Parecia
uma trouxinha verde e consultei as redes e alguém me
disse que era um casulo. Ali o deixei e, passados alguns
dias, dele saiu a mais linda borboleta marrom claro e
dourada. Ela lutava na vidraça querendo sair e corri
para abrir a porta de vidro, mas, ao chegar perto, ela
pousou junto do meu coração e ali ficou por alguns
segundos até que voou para a minha mão e ali ficou de
novo. Bem devagar, para não a assustar, abri a porta de
vidro e coloquei a mão de fora e me peguei falando:
- Vai, minha pequena e linda borboleta dourada. Segue em
paz e obrigada por minimizar a minha enorme dor,
Janetinha. Sei que um dia nos encontraremos de novo na
eternidade da vida.
Muitos dirão que estou louca ou tendo alucinações. Não
importa. Minha pequena borboleta dourada veio minimizar
a minha dor. Obrigada, Janetinha.
* Minha pequena e linda borboleta dourada.
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