Artigos

por Eder Andrade

 

Tolerância e paciência

 

É muito fácil falar de tolerância quando estamos em paz com a nossa consciência nas relações com o nosso semelhante. Delicado se torna exercitar a tolerância e a paciência quando as questões que nos cercam desafiam a nossa boa vontade e principalmente quando não estamos em harmonia com nós mesmos.

Neste mundo tão cheio de desigualdades sociais, às vezes, é difícil ser altruísta e conseguir realizar a caridade para com pessoas que esperam a solução de um problema, sem terem um movimento sequer de se auto ajudarem.

Muitos estão mais interessados em um assistencialismo disfarçado de caridade e não na verdadeira ajuda moral e material que tantos precisam. Principalmente nas vésperas de grandes acontecimentos, onde prometem soluções rápidas para antigos problemas estruturais da nossa sociedade. Questões que não serão resolvidas de uma hora para outra!

Falar de certos problemas é como voltar no tempo, pois existem situações que desafiam a nossa História. Independente de existir uma questão espiritual que venha a explicar a permanência ou arrastamento de um problema. Difícil é existir perseverança para dar soluções para certas questões.

Segundo Emmanuel o caminho de se conquistar valores da alma é um processo longo e lento. Principalmente quando nos diz:

“Vive a tolerância na base de todo o progresso efetivo.

As peças de qualquer máquina se suportam umas às outras para que surja essa ou aquela produção de benefícios determinados.

Todas as bênçãos da Natureza constituem larga sequência de manifestações da abençoada virtude que inspira a verdadeira fraternidade.

Tolerância, porém, não é conceito de Superfície.

É reflexo vivo da compreensão que nasce, límpida, na fonte da alma, plasmando a esperança, a paciência e o perdão com esquecimento de todo o mal”. 1

A construção do conhecimento, assim como nosso processo de Reforma Íntima é um movimento lento e progressivo do espírito. Cada indivíduo evoluiu em um ritmo diferente, já que a mudança vai implicar em reeducação nossa enquanto espíritos imortais.

Sabendo da diversidade humana e suas questões de superação, Emmanuel por intermédio da mediunidade de Chico Xavier em diferentes obras, nos ofertou reflexões para favorecerem nossa capacitação individual, como na obra O Consolador, quando escreveu:

Que é paciência e como adquiri-la?

“É com a iluminação espiritual do nosso íntimo que adquirimos esses valores sagrados da tolerância esclarecida. E, para que nos edifiquemos nessa claridade divina, faz-se mister educar a vontade, curando enfermidades psíquicas seculares que nos acompanham através das vidas sucessivas...”2

Para ajudarmos o semelhante, é necessário antes nos ajudarmos, conquistando valores espirituais que nos auxiliem a superarmos nossas questões pessoais. Isso é um processo que pode ocorrer antecipadamente ou paralelo ao nosso movimento de ajuda ao semelhante.

“A verdadeira paciência é sempre uma exteriorização da alma que realizou muito amor em si mesma, para dá-lo a outrem, na exemplificação”.2

O processo de burilamento e autoconhecimento é imprescindível para nossa educação enquanto espíritos imortais. Não basta saber a verdade, se faz necessário colocá-la em prática no nosso dia-a-dia.

A parceria entre o exercício da tolerância e a prática da paciência é fundamental para conseguirmos ajudar pessoas necessitadas que cruzam nosso caminho. Emmanuel sempre procurou enfatizar isso em suas reflexões, até quando utilizou exemplos figurados para nos ajudar a compreender nossa realidade.

“O trânsito é uma escola em que sobram aulas de vigilância e compreensão, justiça e disciplina. Anotemos as lições da estrada e procuremos transferi-las ao trânsito da vida em que todos somos chamados, nas trilhas do tempo, ao relacionamento comum”.3

A construção do conhecimento para um movimento de libertação é um processo que vai implicar renúncia e renovação de sentimentos. Para alguns talvez seja mais rápido do que para outros, porém esse processo é fundamental para nossa evolução. Sem sombra de dúvida vai implicar em novas reencarnações, onde o espírito em questão terá de dar um testemunho do seu desejo sincero de transformação.

Esse processo nos permitirá entender na essência o verdadeiro sentido de caridade, apresentada por Allan Kardec, quando conseguimos realizar nossa Reforma Íntima ao mesmo tempo que uma renovação de atitudes e emoções:

“Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade, como entendia Jesus”?

R: “Benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições alheias, perdão das ofensas. A caridade, segundo Jesus, não está restrita à esmola. Ela abrange todas as relações que temos com os nossos semelhantes, quer sejam nossos inferiores, nossos iguais ou superiores. Ela nos ordena a indulgência porque nós mesmos temos necessidade dela”.4


Referências:

1) Xavier, Francisco Cândido; Pensamento e Vida (1958); Cap. 25 – Tolerância; FEB.

2) Xavier, Francisco Cândido; O Consolador (1940); 2a Parte: It. V - Evolução: Virtude - p. 254; FEB.

3) Xavier, Francisco Cândido; Amanhece (1976): Segurança e Paz - Paciência a Caminho; GEEM.

4) Kardec, Allan; O Livro dos Espíritos; Cap. XI - Da lei de justiça, de amor e de caridade; Caridade e amor do próximo – p. 886; FEB.
 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita