A era do espírito
Desde a metade do século XIX, segundo informação dos
Espíritos Superiores assinalada por Allan Kardec, a
Terra está no processo de transição de mundo de
expiações e provas para mundo de regeneração, onde o bem
predominará sobre o mal, assinalando uma nova etapa
evolutiva na história do planeta. Como nada dá saltos,
tudo obedecendo os ditames da lei divina, o tempo, esse
grande tesouro do espírito, vai preparando esse novo
estágio planetário, conforme a
desencarnação/reencarnação vai movimentando os espíritos
que aqui habitam, estabelecendo assim o progresso
intelectual e moral necessário. A marcha do progresso é
ascensional e constante, mas cabe ao homem – espírito
reencarnado –, através dos seus esforços na utilização
do livre-arbítrio, contribuir para aceleração desse
processo, na medida em que melhor compreende a lei
divina, toma consciência de si mesmo e promove o bem
geral. Para isso ele deve utilizar o imenso e fecundo
campo da educação, iniciando pela educação de si mesmo,
valorando as virtudes e orientando as novas gerações na
bondade e no amor do próximo.
Assistimos, entretanto, ainda à educação desviada de
seus fins, tanto no seio da família quanto da escola. O
espírito está sufocado por conteúdos, provas, testes,
notas, seriações, vestibulares, avaliações, formação
profissional, ganho de status social, entre outras
questões que remetem os jovens para tudo o que é
superficial e passageiro, deixando o essencial à margem
do caminho. Então a cidadania, a autonomia, a
humanização e as virtudes ficam apenas no papel,
enfeitando os projetos pedagógicos das escolas, pois na
prática não conseguem espaço na formação das
consciências. O Espiritismo, através de uma nova visão
do homem, do mundo e da vida, elege a educação moral e
espiritual como essencial. Sobre isso temos excelente
texto de José Herculano Pires publicado em seu livro Pedagogia
Espírita,
quando lemos:
“Cabe à educação espírita formar o homem consciente do
futuro, que já começa a aparecer na Terra, senhor de si,
responsável direto e único pelos seus atos, mas ao mesmo
tempo reverente a Deus, no qual reconhece a Inteligência
Suprema do Universo, causa primária de todas as coisas.
(…) A educação espírita se impõe como exigência dos
tempos. Só ela poderá orientar os espíritos para a
formação do homem novo, consciente de sua natureza e de
seu destino, bem como de pertencer à humanidade cósmica
e não aos exíguos limites da humanidade terrena. Só ela
pode nos dar, nesse homem novo, a síntese de todas as
fases da evolução anterior, numa formação superior (…)
na conjugação de todos os elementos numa dimensão
espiritual e cósmica”.
Pensar no futuro, sonhar com o futuro, construir o
futuro a partir do presente, do hoje em que vivenciamos
mais uma etapa reencarnatória, tendo consciência de que
somos espíritos imortais viajores do tempo, e que nossa
chegada à perfeição depende da construção do bem através
do exercício constante do amor. Essa a finalidade da
educação espírita. Mas, para isso, é preciso, através da
educação, combater as chagas morais da humanidade, como
alerta Allan Kardec no texto O Egoísmo e o Orgulho,
publicado no livro Obras
Póstumas:
“Para que os homens vivam na Terra como irmãos, não
basta se lhes deem lições de moral; importa destruir as
causas de antagonismo, atacar a raiz do mal: o orgulho e
o egoísmo. Essa a chaga sobre a qual deve concentrar-se
toda a atenção dos que desejem seriamente o bem da
Humanidade. Enquanto subsistir semelhante obstáculo,
eles verão paralisados todos os seus esforços, não só
por uma resistência de inércia, como também por uma
força ativa que trabalhará incessantemente no sentido de
destruir a obra que empreendam, por isso que toda ideia
grande, generosa e emancipadora arruína as pretensões
pessoais”.
Do egoísmo e do orgulho derivam a vaidade, a hipocrisia,
a indiferença, a corrupção, enfim, todos os vícios
morais que desonram o homem e maculam a sociedade.
Somente a educação bem compreendida, aquela que trabalha
o desenvolvimento do senso moral, que direciona a
inteligência para a construção do bem, que forma o
caráter, em suma, que aplica o aprendizado do “faça ao
outro somente o que você queira que o outro lhe faça”,
considerada regra de ouro da educação, somente essa
educação poderá ser o remédio ao mal que ainda predomina
na humanidade. E o Espiritismo amplia essa educação, ao
inserir nela a alma imortal, a vida futura, a
reencarnação, levando os esforços educacionais para a
moralização e espiritualização do ser, tendo por base os
ensinos morais de Jesus.
A resignação apoiada na fé raciocinada, como propõe o
Espiritismo, renova as forças do homem exaurido pelas
lutas materiais, muitas vezes insanas, e ele, não
podendo fugir da própria consciência, conclui que o
egoísmo e o orgulho, até então senhores de sua alma,
precisam ser substituídos pela caridade e
solidadriedade, pelo amor e pela bondade, quando o
“amai-vos uns outros” proclamado pelo Mestre dos Mestres
se lhe descortina como roteiro seguro para conquistas
cada vez mais profundas, únicas a lhe saciarem a sede de
conhecimentos e vivências que não o subjuguem aos vícios
de variada ordem. Mas, tudo isso somente poderá
acontecer se nos aplicarmos ao trabalho da educação
moral, tanto na família quanto na escola.
Marcus De Mario é escritor, educador,
palestrante; coordena o Seara de Luz, grupo on-line de
estudo espírita; edita o canal Orientação Espírita no
YouTube; é editor-chefe da Revista Educação Espírita;
produz e apresenta programas espíritas na internet;
possui mais de 35 livros publicados.
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