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por Marcus De Mario

 

A era do espírito


Desde a metade do século XIX, segundo informação dos Espíritos Superiores assinalada por Allan Kardec, a Terra está no processo de transição de mundo de expiações e provas para mundo de regeneração, onde o bem predominará sobre o mal, assinalando uma nova etapa evolutiva na história do planeta. Como nada dá saltos, tudo obedecendo os ditames da lei divina, o tempo, esse grande tesouro do espírito, vai preparando esse novo estágio planetário, conforme a desencarnação/reencarnação vai movimentando os espíritos que aqui habitam, estabelecendo assim o progresso intelectual e moral necessário. A marcha do progresso é ascensional e constante, mas cabe ao homem – espírito reencarnado –, através dos seus esforços na utilização do livre-arbítrio, contribuir para aceleração desse processo, na medida em que melhor compreende a lei divina, toma consciência de si mesmo e promove o bem geral. Para isso ele deve utilizar o imenso e fecundo campo da educação, iniciando pela educação de si mesmo, valorando as virtudes e orientando as novas gerações na bondade e no amor do próximo.

Assistimos, entretanto, ainda à educação desviada de seus fins, tanto no seio da família quanto da escola. O espírito está sufocado por conteúdos, provas, testes, notas, seriações, vestibulares, avaliações, formação profissional, ganho de status social, entre outras questões que remetem os jovens para tudo o que é superficial e passageiro, deixando o essencial à margem do caminho. Então a cidadania, a autonomia, a humanização e as virtudes ficam apenas no papel, enfeitando os projetos pedagógicos das escolas, pois na prática não conseguem espaço na formação das consciências. O Espiritismo, através de uma nova visão do homem, do mundo e da vida, elege a educação moral e espiritual como essencial. Sobre isso temos excelente texto de José Herculano Pires publicado em seu livro Pedagogia Espírita, quando lemos:

“Cabe à educação espírita formar o homem consciente do futuro, que já começa a aparecer na Terra, senhor de si, responsável direto e único pelos seus atos, mas ao mesmo tempo reverente a Deus, no qual reconhece a Inteligência Suprema do Universo, causa primária de todas as coisas. (…) A educação espírita se impõe como exigência dos tempos. Só ela poderá orientar os espíritos para a formação do homem novo, consciente de sua natureza e de seu destino, bem como de pertencer à humanidade cósmica e não aos exíguos limites da humanidade terrena. Só ela pode nos dar, nesse homem novo, a síntese de todas as fases da evolução anterior, numa formação superior (…) na conjugação de todos os elementos numa dimensão espiritual e cósmica”.

Pensar no futuro, sonhar com o futuro, construir o futuro a partir do presente, do hoje em que vivenciamos mais uma etapa reencarnatória, tendo consciência de que somos espíritos imortais viajores do tempo, e que nossa chegada à perfeição depende da construção do bem através do exercício constante do amor. Essa a finalidade da educação espírita. Mas, para isso, é preciso, através da educação, combater as chagas morais da humanidade, como alerta Allan Kardec no texto O Egoísmo e o Orgulho, publicado no livro Obras Póstumas:

“Para que os homens vivam na Terra como irmãos, não basta se lhes deem lições de moral; importa destruir as causas de antagonismo, atacar a raiz do mal: o orgulho e o egoísmo. Essa a chaga sobre a qual deve concentrar-se toda a atenção dos que desejem seriamente o bem da Humanidade. Enquanto subsistir semelhante obstáculo, eles verão paralisados todos os seus esforços, não só por uma resistência de inércia, como também por uma força ativa que trabalhará incessantemente no sentido de destruir a obra que empreendam, por isso que toda ideia grande, generosa e emancipadora arruína as pretensões pessoais”.

Do egoísmo e do orgulho derivam a vaidade, a hipocrisia, a indiferença, a corrupção, enfim, todos os vícios morais que desonram o homem e maculam a sociedade. Somente a educação bem compreendida, aquela que trabalha o desenvolvimento do senso moral, que direciona a inteligência para a construção do bem, que forma o caráter, em suma, que aplica o aprendizado do “faça ao outro somente o que você queira que o outro lhe faça”, considerada regra de ouro da educação, somente essa educação poderá ser o remédio ao mal que ainda predomina na humanidade. E o Espiritismo amplia essa educação, ao inserir nela a alma imortal, a vida futura, a reencarnação, levando os esforços educacionais para a moralização e espiritualização do ser, tendo por base os ensinos morais de Jesus.

A resignação apoiada na fé raciocinada, como propõe o Espiritismo, renova as forças do homem exaurido pelas lutas materiais, muitas vezes insanas, e ele, não podendo fugir da própria consciência, conclui que o egoísmo e o orgulho, até então senhores de sua alma, precisam ser substituídos pela caridade e solidadriedade, pelo amor e pela bondade, quando o “amai-vos uns outros” proclamado pelo Mestre dos Mestres se lhe descortina como roteiro seguro para conquistas cada vez mais profundas, únicas a lhe saciarem a sede de conhecimentos e vivências que não o subjuguem aos vícios de variada ordem. Mas, tudo isso somente poderá acontecer se nos aplicarmos ao trabalho da educação moral, tanto na família quanto na escola.

 

Marcus De Mario é escritor, educador, palestrante; coordena o Seara de Luz, grupo on-line de estudo espírita; edita o canal Orientação Espírita no YouTube; é editor-chefe da Revista Educação Espírita; produz e apresenta programas espíritas na internet; possui mais de 35 livros publicados.


 
 

     
     

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