Deixe seu filho experimentar frustrações
As palavras só
têm sentido se nos ajudam a ver o mundo melhor.
Aprendemos palavras para melhorar os olhos. Rubem
Alves
Frustrar-se faz parte da vida. E isso precisa ocorrer
desde o começo da vida…
Na verdade, apesar de parecer um sentimento decorrente
de situações de fracasso, a frustração tem grande
relevância para a constituição psicológica dos
indivíduos. Aliás, é sabido que a frustração é cenário
importante para desenvolvimento infantil.
Dentro de limites suportáveis, a falta (ou a desilusão)
está associada ao desenvolvimento da capacidade de adiar
gratificações, que é fundamental para o conviver ou a
vida em sociedade.
Pais que tentam de todos os modos evitar a experiência
da frustração para seus filhos acabam estimulando uma
formação adaptativa deficiente. Ou seja, uma criança
muito protegida ou cujos desejos sempre foram
imediatamente satisfeitos pode ter dificuldades em lidar
com a realidade da existência adulta e seus dilemas e
desafios. Tornar-se-á muito frágil do ponto de vista
emocional e pouco resiliente ante as exigências do
cotidiano da vida.
Pais precisam entender que uma criança impedida de
suportar frustrações, de conviver com desejos não
atendidos, pode transformar-se em um adulto que
desenvolve crises emocionais por razões triviais ou que
se sente constantemente insatisfeito.
Alegria e satisfação de desejos são coisas distintas. Ao
negar, por exemplo, o brinquedo durante o passeio,
compreendendo que a criança tem direito a ficar
chateada, os pais lhe dão a oportunidade de se tornar
mais preparada para a vida, à medida que frustração
significa falta, desprazer, espera. Além do mais, uma
criança que foi inteligentemente frustrada não vai achar
ruim ir para a cama no horário certo, cumprimentar as
pessoas, comer novos alimentos, brincar com outras
crianças etc. Adulta, será mais tolerante, mais
satisfeita, mais agradecida e, por isso, mais capaz de
apreciar as pequenas coisas…
Notinha
Pais precisam exercer sua autoridade, esclarecendo
regras e limites. E exercer autoridade também tem a ver
com o fato de o filho estar sujeito a pequenas
frustrações cotidianas: de manhã, ele leva o prato para
a pia, amarra os sapatos sozinho… Podemos pedir isso a
uma criança sem precisar basear-se em explicação
constante. A criança ainda não tem maturidade para
dizer: “Eu sei quando tenho que ir para a cama, fazer o
dever de casa, etc.”. Isso ela fará mais tarde, quando
tiver autonomia…