Natural de Salvador (BA), onde reside, Ricardo
Carvalho (foto) é historiador, professor
de História há mais de 40 anos, tendo atuado em
vários estados. Conferencista, autor e diretor
de teatro, apresentador de rádio e TV, ele está
atualmente no ar com a série Insurgentes, no History
Channel. Vincula-se à FEEB – Federação
Espírita do Estado da Bahia e com a Mansão do
Caminho, atuando nas duas instituições. Amigo
pessoal do professor, escritor, filósofo,
educador e médico André Luiz Peixinho,
recentemente desencarnado, ele nos fala nesta
entrevista sobre o legado do grande seareiro:
Sendo espírita de infância, quando e como
conheceu André Luiz Peixinho?
Conheci André Peixinho na Juventude Espírita
Nina Arueira, o departamento de evangelização do
Centro Espírita Caminho da Redenção (Mansão do
Caminho), aos 15 anos. Já frequentava as
doutrinárias da Instituição, mas foi através de
Peixinho – com seu imenso compromisso com o
Evangelho através de Kardec e a sua percepção da
Arte como ferramenta de sensibilização dos
jovens – que me encantei com o Movimento
Espírita.
Nessas décadas de convivência o que mais se
destaca em suas lembranças?
Não conheci, ao longo da minha presente
existência biológica, nenhum outro Ser que tenha
me influenciado mais moral, cognitiva e
criativamente do que Peixinho. Ele é o protótipo
do Homem Novo. Sempre esteve acima de quaisquer
segmentações. Foi um unificador de ideias, o
líder que respeita a diversidade, mas não
polemiza nem cria sectarismos. Apaixonado pela
Doutrina Espírita, mas sempre com um sorriso
franco e generoso até para os incautos e
agressivos, que ele via como filhos do Pai
Celestial vivendo apenas experiências terrenas
em diferentes estágios evolutivos.
Qual sua percepção da atuação acadêmica de nosso
homenageado?
O mais impressionante é como ele conseguia
transitar com tanto brilhantismo em diversas
áreas que poderiam parecer tão opositoras – que
para ele eram complementares, na sua visão
holística. Foi um dos Educadores Médicos mais
destacados de sua geração. Revolucionário como
pedagogo e cientista de escol.
E do ponto de vista doutrinário?
Aprendi com o Mestre Peixinho que o proselitismo
é uma armadilha sedutora e perigosa. Ele
conseguia nos colocar diante do Mestre Jesus com
leveza, amorosidade e candura. O seu transitar
pela norma culta da língua portuguesa, sua
complexidade de pensamento não deixava de fora
nem mesmo os mais singelos e ingênuos corações
que eram tocados por suas palavras… Disse-me
certa vez, diante de minha ansiedade acerca dos
resultados de aprendizagem de uma atividade de
evangelização que construímos juntos: “Ricardo,
no final das contas mesmo, o que conta é quanto
de emoção crística nós deixamos plantado no
coração de cada jovem”. Espero ter aprendido e
aplicado isso como educador espírita.
Descreva sobre a ligação afetiva de André com
Irmã Dulce.
Os avatares do Amor e da Paz se reconhecem. Eles
estavam em um grau de integração pelo Evangelho
que nós, espíritos ainda na urdidura dos nossos
atavismos, não conseguíamos perceber nem
penetrar. Eram irmãos da primeira hora do
Cristianismo que se reencontraram na seara na
Cidade Baixa de Salvador na Galileia do Hospital
Santo Antônio. Acompanhávamos admirados e
diletantes os trabalhos que os dois
desenvolveram juntos no amparo aos mais humildes
e na formação moral dos novos médicos da Bahia.
Qual o ponto mais expressivo da personalidade de
André?
Sua tolerância com nossas limitações. É
emocionante imaginar e as lágrimas retornam
quando pensamos que ele nos aceitou no seu rol
de amigos e discípulos, mesmo estando tão
distantes do entendimento de quão imensa era a
sua capacidade de viver e entender Jesus. Sem
dúvidas era isso… seu acolhimento e paciência
com a nossa rudeza moral e intelectual.
E como presidente da FEEB que foi e também como
palestrante espírita, o que gostaria de dizer?
Líder que provocou um salto qualitativo imenso
na gestão da instituição. Não há como
dimensionar o impacto dele no Movimento Espírita
da Bahia. São dois tempos diversos que antecedem
e sucedem sua gestão. Não pela falta de
capacidade dos arautos guerreiros dantes e pós
Peixinho, mas pela visão sistêmica que ele como
líder implantou.
E como surgiu a ideia da plataforma a ser
lançada para preservar esse legado? Descreva
como será o conteúdo.
Não poderíamos deixar de garantir seu legado. A
ideia surgiu de uma conversa com Ednólia
Peixinho. Estamos em fase de catálogo e
organizando em áreas o material digital de André
Peixinho. Palestras, produção científica,
criações artísticas, fotos, depoimentos,
entrevistas… tudo sendo catalogado e indexado
para subir na plataforma que será um ambiente
livre para consultas e acessos.
Algo mais a acrescentar?
Muito se fala do Peixinho Educador, Médico,
Cientista, Espírita e Conferencista. Mas eu
preciso destacar a mente criativa do Mestre,
área onde estive muito próximo dele em humilde
parceria criativa. Foram dezenas de espetáculos,
canções, palestras ilustradas e poemas. A mente
sagaz da Ciência não abandonou a poderosa força
da Arte.
Suas palavras finais.
Repito que “não esquecer é uma forma de fazer
justiça”. Não deixemos o precioso legado de
André Peixinho sem a necessária permanência
através dos tempos. Obrigado.
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