RAIO DE LUZ(1) -
Em meio de grande tempestade, inúmeros viajantes se
recolheram a enorme casarão que se assemelhava a um
labirinto. Porque sentissem medo uns dos outros, cada
qual se escondeu nos quartos mais internos e, vindo a
noite, em vão procuraram o lugar de saída. Começou,
então, enorme conflito. Lamentos. Pragas. Assaltos.
Correrias. Pancadas. Crimes nas trevas. Um homem que por
ali passava, ouviu os rogos de socorro que partiam do
infortunado reduto e, longe de gritar ou discutir,
acendeu a sua candeia e passou entre os amotinados, em
profundo silêncio. Bastou a luz dele para que todos
percebessem os disparates que vinham fazendo, ao mesmo
tempo que encontravam, por si mesmos, a porta
libertadora.(2)
Jesus é o raio de luz que Deus mandou à Terra para
servir de guia e exemplo para a humanidade. A singela
analogia de Hilário Silva conseguiu sintetizar com
fidelidade a verdadeira razão da vinda de Jesus à Terra,
tarefa cumprida há dois mil anos, tempo esse que não foi
suficiente para definir exatamente quem ele é e o que
representa em nossas vidas. Muitos de nós ainda o
consideramos o salvador, que absorveu os pecados do
mundo, lembrando antigas cerimônias em que animais eram
sacrificados para depurar as comunidades de seus
pecados. Não obstante ele nunca ter se referido a si
mesmo como Deus e sempre ter se apresentado como
mensageiro divino, um servo do Senhor, como filho do
homem, gerado por um casal, muitos há que o confundem
com o Criador. Outros estão convictos de que basta
concordar com sua mensagem ou reverenciá-lo com a mera
participação em rezas e cerimônias, lembrando-se dele
somente nas horas difíceis, quando, na verdade, ele é o
Mestre, o irmão mais velho, que veio à Terra com o
objetivo de nos ensinar a trilhar o caminho que ele
percorreu. E, como fazem os bons professores da Terra,
não apenas pregou, mas exemplificou e vivenciou os
revolucionários princípios que, corajosamente, trouxe ao
mundo, desde a humildade da manjedoura até o sacrifício
na cruz.
Humildade na manjedoura. Sacrifício na cruz. Humildade e
sacrifício, os dois maiores símbolos do Cristianismo.
Entre ambos vamos encontrar um roteiro de renovação,
apresentado à humanidade com simplicidade e
profundidade.
PROGRAMA BÁSICO -
O progresso evolutivo, razão maior de nosso mergulho na
carne, depende da interpretação e da aplicação de nossas
iniciativas, com as ferramentas que Jesus nos ofereceu,
reiteradas pelo Espiritismo, que poderão nos
proporcionar agradável e suave jornada. O
distanciamento, no entanto, entre o que o Evangelho nos
propõe e o rumo que efetivamente escolhermos para nossa
encarnação, desaguará na descrença, na indiferença e nas
dificuldades oriundas da má escolha.
Vejamos, de forma sucinta, porém essencial, algumas das
propostas do Cristo, diante das falhas cotidianas, com
imagens claras e objetivas retiradas do dia a dia do
homem comum. Ressalta Richard Simonetti(3) alguns
desses pontos importantes:
Aos
que, levianamente, julgam o comportamento alheio: cita a
passagem da mulher adúltera e lembra que todos temos
defeitos, cometemos falhas e não podemos atirar a
primeira pedra;
Aos
que estão inseguros com a presente situação do planeta
Terra e temerosos quanto ao futuro da humanidade,
recomenda que procuremos o Reino de Deus, cumpramos os
mandamentos divinos e tudo o mais será dado por
acréscimo.
Aos egoístas,
egocêntricos e apegados aos bens materiais, apresenta a
experiência de um homem ambicioso, que acumulou muito
dinheiro, mas não pôde desfrutá-lo, e adverte que não
se pode servir a dois senhores, a Deus e às riquezas.
Aos
que resolvem suas pendências utilizando-se da violência,
esclarece que quem com ferro fere, com ferro será
ferido e será, portanto, vitimado pela própria
violência.
E
segue o Mestre apresentando singelas comparações e
metáforas precisas, que precisam ser conhecidas e
internalizadas, pois fazem parte de um programa básico,
mínimo, necessário ao cumprimento integral da missão que
escolhemos, ao nos candidatarmos a um novo período de
permanência no âmbito material.
ONDE ESTÁ A FELICIDADE? -
Temos procurado a felicidade no lugar errado, distantes
do roteiro traçado por Jesus. Nosso GPS existencial
insiste em nos conduzir para experiências
comprometedoras, quando o essencial está aí, de graça,
ao nosso alcance, através do estudo, internalização e
aplicação das lições de Jesus.
O Espiritismo, qual farol
abençoado, que ilumina os escabrosos caminhos humanos,
confirma e nos adverte com veemência que Jesus continua
sendo o
caminho, a verdade e a vida.
Embora não seja tarefa fácil, o processo de renovação
interior será alcançado, se levado a sério, passando a
constituir nossa preocupação constante; se detectarmos
em nossa personalidade os pontos de atrito com o
comportamento ideal, por nós mesmos prometido; se
assestarmos nosso olhai e vigiai em cada gesto,
cada palavra e cada atitude.
Esse esforço de
cumprimento da lei divina nos sintoniza com a Divina
Inteligência e resulta retroalimentação do projeto de
autoconhecimento, para que nos dispamos definitivamente
da vestimenta do homem velho de Paulo de Tarso e
vistamos a roupa nova, brilhante, diáfana, do homem
novo.
Para que isso ocorra, no entanto, será necessário
homenagearmos constantemente a figura do Mestre Jesus,
fazendo exatamente o que ele faria, se estivesse em
nosso lugar.
REVERENCIANDO JESUS -
Tive o capricho de acompanhar a mídia falada, televisada
e das redes sociais, nas comemorações do Natal de anos
anteriores e, consternado, constatei que de tudo foi
falado — festas, comidas, bebidas, promoções, viagens,
presentes e Papai Noel —, menos do aniversariante.
Exceção feita às esporádicas reportagens citando Jesus,
a grande maioria das pessoas sequer lembrou-se dele e
preocupou-se, isso sim, com a mesa lauta e com as
confraternizações de fim de ano.
A
triste conclusão a que chegamos é que estamos chegando
ao momento em que os homens de bem, de todas as escolas
filosóficas e religiosas, ainda que iluminados pela
Doutrina Espírita, precisam retomar as atenções de seus
corações para a figura do maior guia da humanidade.
Na
questão 625, de O Livro dos Espíritos, de Allan
Kardec, mentores maiores revelam que Jesus constitui o
tipo de perfeição moral a que a humanidade pode aspirar
na Terra, como o mais perfeito modelo da pura lei do
Senhor. Podemos afirmar que atualmente Jesus é o modelo
seguido pelos homens? Ou optamos por seguir outros
modelos e exemplos? Luzes faiscando nas ruas, casas,
lojas, presentes, bebidas e comidas especiais. Famílias
e amigos reunindo-se em grandes comemorações. Esse é o
clima que predomina no mês de dezembro, em comemoração
magna, na suposta data de nascimento de Jesus. Tudo
preparado? Nada falta para a grande comemoração?
Infelizmente poucos se lembram do aniversariante,
empolgados com a forma, esquecidos da essência. Mais
importante do que as comemorações vazias, regadas a
excessos, com sérios prejuízos à saúde e à moral, seria
nos lembrarmos do magnetismo divino que emana da
manjedoura, que nos levaria a prestar mais atenção ao
verdadeiro espírito de Natal, capaz de nos levar de
volta às propostas sublimes do Evangelho de Jesus.
PROJETAR O NATAL PARA O NOVO ANO -
Principalmente no Natal, precisaríamos nos concentrar em
algumas recomendações do Cristo e projetá-las para o
novo ano que vai se iniciar. São ideias simples de serem
praticadas, que em nada vão alterar as apressadas
rotinas de vida e que vão nos trazer extraordinários
benefícios. Vejamos algumas delas:
Aos
que entendem que a oração tudo resolve, sem esforço: —
Orar sempre, sem jamais esquecer o trabalho.
Aos que se dispõem a
ajudar, impondo o filtro da seletividade: —
Doar, sem saber quem será o beneficiário.
Aos que se propõem a
cooperar, desde que seja por algum tempo: —
Servir, sem perguntar até quando.
Aos doentes rebeldes que
contaminam atendentes com seus sofrimentos: —
Sofrer, sem espalhar dores.
Aos que obtiveram sucesso
em seus empreendimentos: —
Progredir, sem perder a simplicidade.
Aos que fazem o bem por
interesse ou dever: —
Semear, sem pensar na gratidão.
Aos que impõem exigências
para o perdão: —
Desculpar incondicionalmente.
Aos que ainda não sabem
olhar com a pureza das boas intenções: —
Aprender a olhar sem malícia.
Aos que ainda não
aprenderam a ouvir e entender o interlocutor: —
Escutar e silenciar.
Aos que ainda não
conseguiram a dominar a língua: —
Falar sem ferir.
Aos preconceituosos: —
Respeitar, sem considerar credo, gênero, orientação
sexual, posição social ou idade.
Aos nervosos que ainda
não cultivam a resignação: —Exercitar
a paciência.
É pedir muito? Com um
pouco de esforço, balizaremos nossas atitudes com as
recomendadas pelo maior mensageiro de Deus que passou
pela Terra e nos habilitaremos à felicidade decorrente
de seus exemplos e ensinamentos.
ONDE ESTÁ JESUS? -
Se pensarmos bem, há muitos anos temo-nos mantido
sistematicamente no erro, ainda apegados às coisas
materiais, distantes do esforço do aperfeiçoamento
interior. Se nos fosse permitido lembrar de vidas
passadas, por certo concluiríamos que estamos dentro de
um círculo vicioso de cinco ou mais reencarnações de
baixo teor.
Dessa forma, como dirigir-se a Jesus, sem regenerar os
próprios impulsos? Temos que desfazer as sombras que
ainda nos rodeiam, para sentirmos as suas bênçãos.
Temos recebido há várias vidas recursos necessários para
avançar e sair desse looping negativo e ficamos
na mesma, presos como balões cativos, sem aproveitar as
oportunidades que os protetores espirituais nos
oferecem.
Conscientizemo-nos da máxima “ajuda-te que o céu te
ajudará”, que pressupõe nossa participação em todas as
rogativas que lancemos ao Alto. Se não houver disposição
de renunciar às posturas antigas e de mudar alguma coisa
em nós, estaremos correndo em círculos.
Ao
nos candidatarmos à fé, à paz e à presença divina,
precisamos endireitar a conduta e a maneira de nos
relacionarmos. Só assim abriremos as comportas para
permitir que a luz divina entre em nossa alma.
Jesus, mesmo com sua imensa superioridade espiritual e o
amor que tem por nós, não pode violentar o nosso
proceder. Daí a necessidade de retificarmos as estradas
em que temos vivido, preparando nossa vida para receber
a influência dele.
É
necessário criar condições para sermos auxiliados pelo
Mestre, vencendo nossos maus impulsos e aprumando as
atitudes da nossa existência.
Quantos de nós ainda nos apegamos ao próprio desespero?
Quantos de nós ainda fugimos da luz da paciência?
Quantos de nós ainda lamentamos porque não conseguimos
perpetrar nossas más atitudes? Quantos de nós, ainda
tristes, fugimos, voluntariamente, das bênçãos da
esperança?
A
iniciativa precisa ser nossa, praticando gestos de amor
por nós mesmos, porque, sem o divino propósito de
aperfeiçoamento, jamais conquistaremos o bem-estar em
Cristo.
Todos desejamos paz e
felicidade. Ambas não são metas e sim maneiras de
caminhar. Dependendo de como nos conduzirmos, elas
poderão (ou não) nos acompanhar, como tesouros
preciosos, e se manter ao nosso lado.
CRISTO ESTÁ NO LEME -
Todos os homens são filhos de Deus e nenhum deles se
perderá órfão de consolação e ensinamento, a partir do
momento que se apresente de espírito renovado e coração
sincero. Não estamos num barco sem comando. O Cristo
continua no leme. Ainda que momentaneamente afastados da
chama da bondade, para todos chegará o momento da
colheita e todo bem semeado os inundará com farta messe
de bondade e de generosidade. Para que isso ocorra, no
entanto, é preciso vencer o descompasso entre o
progresso material e o espiritual.
Os
paradigmas do egoísmo, do orgulho, do preconceito e da
prepotência estão fadados a cair por terra, pois os
valores estão mudando totalmente. Tempos estão chegando
em que presenciaremos acontecimentos que vão levar toda
a humanidade a concluir, de forma irrefutável, pela
sobrevivência à vida material e pela consciência de que
colherá exatamente o que tiver plantado.
Diante do desânimo e da prostração, se olharmos para
trás perceberemos o quanto mudamos e quão grande tem
sido a influência de Jesus em nossas vidas.
É
preciso fazer uma análise retrospectiva e concluir
quanto Jesus tem operado em nossas vidas. Mais do que
nunca, temos que deixar que ele olhe através dos nossos
olhos e se faça vivo em nós.
— Senhor,
que queres que eu faça? — exclamou Paulo diante do
divino convite da estrada de Damasco.
A exemplo de Paulo, é
tempo de nos colocarmos à disposição de Jesus, com boa
vontade de aceitar o seu divino convite e abandonarmos o
passado de sombras, a fim de nos empenharmos na luta
edificante de cada dia. Agindo dessa forma, com o
trabalho sincero da cooperação fraternal, receberemos
dele o esclarecimento quanto ao que devemos fazer. No
entanto, para que isso aconteça é preciso que
periodicamente façamos um exame introspectivo e um
balanço íntimo para sabermos se estamos
caminhando e evoluindo e, finalmente, se o Mestre Divino
está inspirando nossas vidas. E mais do que isso, se a
sua luz já se encontra em nosso interior, irradiando por
onde passamos.
Referências:
1 –
SIMONETTI, Richard. Uma razão para viver. Reflexão
sobre a palestra proferida em 1989, no CEAC – Centro
Espírita Amor e Caridade. Bauru (SP), sobre Jesus.
2 –
SILVA, Hilário. A vida escreve. Psicografia de
Francisco Cândido Xavier. “O ensino da luz”. 6. Edição.
1987. FEB.
3 –
SIMONETTI, Richard. Uma razão para viver. Reflexão
sobre a palestra proferida em 1989, no CEAC – Centro
Espírita Amor e Caridade. Bauru (SP), sobre Jesus.