Geração viciada em apatia
Dia desses ouvi uma fala do escritor e frade dominicano
Frei Beto, hoje com 80 anos, que dizia: “Minha geração
era viciada em utopia”. Tendo participado da geração
dele, posso dizer que concordo, e afirmar que a geração
atual é viciada em apatia.
Uma das coisas que mais impressionam hoje é perceber o
desinteresse de muitos com o autoaperfeiçoamento, uma
espécie de apatia, indiferença, um “deixa pra lá” diante
de assuntos importantes para a vida individual e
coletiva, o que caracteriza a ignorância aceita com
naturalidade.
A ignorância é na verdade uma incapacidade provisória,
mas não deixa de ser um mal quando é cultivada,
alimentada pela submissão e comodismo voluntários. A
ignorância não está fora, ela é a própria pessoa.
Todos somos chamados a avançar em conhecimento. Uma lei
universal nos obriga a isso. Porém, quando o indivíduo
se nega, gosta e quer ficar onde está, isso pressupõe
uma disfunção comportamental.
Orgulho é o principal veneno que mantém a pessoa
paralisada naquilo que ela é e não quer deixar de ser.
Sua visão de mundo se resume no que acredita. O egoísmo
também lhe afeta quando se importa apenas com o lado
material das coisas, sem perceber que há um mundo de
sentimentos e valores que fazem parte da vida integral.
Se não percebe, não existe para ela, portanto não
importam as necessidades e anseios dos semelhantes.
Se podemos considerar a ignorância voluntária como uma
patologia moral, onde encontrar cura para a alma e
assumir a vida plena, com avanços reais e necessários no
campo pessoal e social?
O psicanalista Sigmund Freud teria afirmado que “Não
podemos nos curar do que não aceitamos como parte de nós
mesmos.”
Portanto, é fundamental aceitar que se está em
desequilíbrio. Depois, abrir os olhos, os ouvidos,
buscando fontes terapêuticas confiáveis e arejadas, e
lendo, lendo bastante. Instrução e aculturamento são
ótimos remédios.
Há também o recurso compulsório da dor que vitima grande
parte dos seres, mas seria bom se não precisássemos dele
para despertar, ou melhor, promovermos a própria cura.
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