“Solidariedade” de caráter
negativo
Os convites subalternos ainda nos falam de forma
muito expressiva.
“(...) Bem-aventurado o varão que não anda
seguindo o conselho dos ímpios, nem se detém no
caminho dos pecadores, nem se assenta na roda
dos escarnecedores.” -
Salmos, 1:1
Em orbes como a Terra, ainda da categoria dos
mundos de provas e expiações, a
população, tanto de encarnados quanto de
desencarnados, com raras exceções, é constituída
de Espíritos muito imantados aos instintos e
azinhavres da animalidade... Daí a facilidade
com que grassam os tristes desvios do roteiro
que nos deveria levar aos Páramos de Luz, vez
que “larga é a porta da perdição e poucos
conseguem encontrar a porta estreita”.
Por uma compreensível e natural questão de
atavismos dissolventes, os convites subalternos
ainda falam de forma muito expressiva a todos
nós, os Espíritos vinculados à Terra.
O grave na questão proposta por Jesus,
registrada por Lucas (13:24), é que Ele dá
notícias de que “muitos procurarão entrar
pela porta estreita e não poderão”.
Entendamos essa afirmativa do Mestre Maior com o
Irmão José:
“(...) por que não obteriam passagem os que
buscassem a porta estreita?! Não teriam eles
feito a opção correta? A porta das facilidades
mundanas estará sempre escancarada, convidativa,
mas a porta dos valores espirituais oferecerá
passagem apenas aos que porfiarem por ela. Isso
significa que o homem, no momento dos grandes
testemunhos, estará sempre sozinho nos transes
da cruz.
Na estrada larga do mundo, a solidariedade de
caráter negativo se manifesta espontânea... São
os amigos do prazer que nos encorajam ao copo, à
volúpia, à ambição... São os companheiros que
nos aprovam as infelizes ideias de extrair da
vida tudo quanto ela tenha para nos oferecer...
Mas, normalmente, esses “amigos e companheiros”
se afastam de nossos caminhos, quando nos
observam enveredando pela porta estreita.
Observam-nos de longe, na árdua subida,
aguardando nossa queda.
É claro que não nos falta o apoio anônimo dos
Benfeitores Espirituais que nos antecederam na
caminhada, porque a solidariedade legítima em
nome do verdadeiro Amor a ninguém desampara. Mas
esses abençoados cireneus do caminho estreito,
se nos auxiliam a transportar o madeiro de
nossas dores, não podem substituir-nos na hora
suprema do testemunho pessoal.
Reflitamos nisto, porque, se, no instante
glorioso da Transfiguração no Tabor, o Mestre
estava na companhia de três amigos, mesmo esses
três companheiros diletos - Pedro, João e Tiago
-, no momento da cruz estavam distantes...
Não esperemos, portanto, pela companhia de quem
quer que seja para testemunhar a nossa fé em
Deus e a nossa convicção no ideal que abraçamos.
Ora, se a consciência nos aprova, que isto nos
baste à paz e nos encoraje a prosseguir”.
-
BACCELLI, Carlos A. Evangelho e
doutrina. Votuporanga: DIDIER, 1995,
cap. 34.