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por Rogério Coelho

 

“Solidariedade” de caráter negativo


Os convites subalternos ainda nos falam de forma muito expressiva.


“(...) Bem-aventurado o varão que não anda seguindo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores.” 
- Salmos, 1:1


Em orbes como a Terra, ainda da categoria dos mundos de provas e expiações, a população, tanto de encarnados quanto de desencarnados, com raras exceções, é constituída de Espíritos muito imantados aos instintos e azinhavres da animalidade... Daí a facilidade com que grassam os tristes desvios do roteiro que nos deveria levar aos Páramos de Luz, vez que “larga é a porta da perdição e poucos conseguem encontrar a porta estreita”.

Por uma compreensível e natural questão de atavismos dissolventes, os convites subalternos ainda falam de forma muito expressiva a todos nós, os Espíritos vinculados à Terra.

O grave na questão proposta por Jesus, registrada por Lucas (13:24), é que Ele dá notícias de que “muitos procurarão entrar pela porta estreita e não poderão”.

Entendamos essa afirmativa do Mestre Maior com o Irmão José[1]: “(...) por que não obteriam passagem os que buscassem a porta estreita?! Não teriam eles feito a opção correta? A porta das facilidades mundanas estará sempre escancarada, convidativa, mas a porta dos valores espirituais oferecerá passagem apenas aos que porfiarem por ela. Isso significa que o homem, no momento dos grandes testemunhos, estará sempre sozinho nos transes da cruz.

Na estrada larga do mundo, a solidariedade de caráter negativo se manifesta espontânea... São os amigos do prazer que nos encorajam ao copo, à volúpia, à ambição... São os companheiros que nos aprovam as infelizes ideias de extrair da vida tudo quanto ela tenha para nos oferecer... Mas, normalmente, esses “amigos e companheiros” se afastam de nossos caminhos, quando nos observam enveredando pela porta estreita. Observam-nos de longe, na árdua subida, aguardando nossa queda.

É claro que não nos falta o apoio anônimo dos Benfeitores Espirituais que nos antecederam na caminhada, porque a solidariedade legítima em nome do verdadeiro Amor a ninguém desampara. Mas esses abençoados cireneus do caminho estreito, se nos auxiliam a transportar o madeiro de nossas dores, não podem substituir-nos na hora suprema do testemunho pessoal.

Reflitamos nisto, porque, se, no instante glorioso da Transfiguração no Tabor, o Mestre estava na companhia de três amigos, mesmo esses três companheiros diletos - Pedro, João e Tiago -, no momento da cruz estavam distantes...

Não esperemos, portanto, pela companhia de quem quer que seja para testemunhar a nossa fé em Deus e a nossa convicção no ideal que abraçamos. Ora, se a consciência nos aprova, que isto nos baste à paz e nos encoraje a prosseguir”.    


[1] - BACCELLI, Carlos A. Evangelho e doutrina. Votuporanga: DIDIER, 1995, cap. 34.


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita