Degraus para Jesus
“Espera ansiosamente encontrar o Senhor, e um
dia chegarás à divina presença; entretanto,
antes de tudo, a vida te encaminhará à presença
do próximo, porque o próximo é sempre o degrau
da bendita aproximação.” Emmanuel, do
livro Palavras de Luz.
O excelente livro do doutor José Carlos De
Lucca, Simplesmente Francisco, edição
Letramais, nos traz importantes e interessantes
informações sobre o santo de Assis. Vamos
valer-nos delas na autoria desta página.
Francisco, após renunciar em praça pública aos
bens materiais que o pai lhe oferecia,
despindo-se de toda a roupa para exemplificar a
sua decisão irrevogável, recebeu trapos do
jardineiro da Catedral daquela localidade para
cobrir a sua nudez.
Deixando tudo para trás, embrenhou-se mata
adentro a buscar para servir Jesus da maneira
que lhe fosse possível.
Depois de um determinado trecho, foi encontrado
por um bando de salteadores que lhe aplicaram
uma surra porque não entenderam a figura daquele
maltrapilho que vagava pelas cercanias como se
fosse um lunático sem rumo.
Após apanhar sem nada ter feito, Francisco
continua em busca de alguma situação para servir
a Jesus e pede em oração para que o Mestre lhe
aponte o caminho, quando encontra um abrigo para
leprosos.
Imediatamente esse Espírito lúcido de escol
entende que ali estava a oportunidade que
buscava ansiosamente e instala-se em meio aos
vitimados pelo mal de Hansen e começa a servir
com absoluto destemor.
É válido lembrar que até meados do XX os
contaminados pelo bacilo temido desse mal eram
recolhidos em sanatórios específicos e retirados
da sociedade e, por consequência, da convivência
dos seus familiares.
Por isso não é difícil entender o horror que
essa enfermidade causava naquela época tão
distante da Idade Média.
Rostos deformados por chagas a escorrer uma
secreção mal cheirosa e deformados pelas chagas.
Mãos afetadas com lesões consequentes ao ataque
do bacilo aos nervos que ficavam praticamente
inutilizadas.
Perdas de dedos dos pés a caírem do corpo como
se fossem folhas mortas de árvores no outono.
Corpos que se arrastavam apoiados em pedaços de
paus como se fossem bengalas improvisadas.
A dificuldade em conseguir alimentos já que eram
repudiados e enxotados como indivíduos imundos e
altamente perigosos porque a transmissão da
enfermidade àquela época era uma ideia terrível.
Doença incurável e condenação à morte à míngua
com certeza absoluta.
E Francisco, alma de elevadíssima evolução,
ignorando todos os riscos, entregou-se de
espírito aberto para servir Jesus, servindo ao
próximo.
Conforme continua ensinando doutor José Carlos
no livro mencionado, após um tempo considerável
de servir naquele refúgio de leprosos banidos da
sociedade e entregues à própria sorte, um dia,
depois de muito trabalhar pensando as chagas dos
doentes, Francisco adormeceu e sonhou que estava
diante de um leproso com sinais terríveis
daquela doença que marginalizava as vítimas.
O leproso estendia suas mãos em direção a
Francisco quando ele viu que um pássaro pousou
nos ombros do enfermo.
Francisco não titubeou e num ímpeto de amor
abraçou aquele homem com nenhum preconceito ou
temor.
Quando o abraço se desfez, diante do santo
estava o próprio Jesus!
Após essas considerações, vamos analisar a
colocação de Emmanuel orientando que para chegar
ao Mestre, nosso próximo representa os
degraus.
Então, precisamos analisar como estamos
utilizando esses degraus que a vida nos traz à
convivência.
O próximo que nos recebe como filhos no papel de
pai e mãe.
Como foi ou tem sido nossa convivência com eles?
Muitos reclamam de atitudes que julgam ser
defeitos de uma mãe ou de um pai, esquecendo-se
de que é por eles que recebemos o socorro de uma
nova existência no corpo, permitindo-nos o
acesso à escola da Terra.
Como temos utilizado os degraus para Jesus na
figura de nossos filhos, quando assumimos a
responsabilidade de orientar esses Espíritos
imortais para que possam dar um passo à frente
na evolução que a todos nos aguarda?
Quantas vezes o desejo de deixá-los entregues
nas mãos de Deus, significando isso a
desistência de encaminhá-los para o bem, implica
fugirmos do degrau que Francisco aceitou sem
vacilar para aproximar-se do seu Mestre.
Nossa família consanguínea também nos oferece
muitos degraus para Jesus. Aquele irmão que não
pensa como nós, que na presença dele nos
sentimos importunados, com o qual a convivência
se apresenta pesada e difícil, não representa um
erro de cálculo da Providência Divina, mas sim a
oportunidade do degrau que nos leva a Jesus.
Quantas vezes não é pronunciada a frase de que
nos entendemos melhor com alguém fora de nossa
casa do que ao lado de um componente da família
na intimidade do lar?
Recusar esse degrau que consideramos difícil e
deixá-lo para uma próxima reencarnação é adiar o
passo a mais que pode ser dado em direção ao
Governador do planeta Terra e, por consequência,
adiar a aproximação de uma consciência que pode
ficar na posse da paz mais completa.
A vida está repleta de degraus que se nos
apresentam para irmos caminhando, mesmo que
lentamente para cima, no sentido de nossa
evolução espiritual.
O patrão difícil, a profissão que não nos
proporciona uma renda melhor do que aquela que
ambicionamos, a casa que não corresponde ao
local sonhado, o alimento sobre a mesa que ganho
honestamente não satisfaz à nossa gula, o
figurino que não acompanha a moda, a dificuldade
de estudarmos, o carro que não é do último tipo,
tudo aquilo que, enfim, são degraus que podem
ser mobilizados em favor da nossa evolução
íntima superando a nós próprios, são
oportunidades de crescermos servindo-nos na
senda evolutiva para nos aproximarmos, mesmo que
lentamente, do nosso Mestre e Senhor.
Vamos concluir com uma colocação do livro
mencionado: Francisco, hoje você
verdadeiramente me encontrou, porque amou o
Cristo-pobre, o Cristo-doente, o
Cristo-miserável que mora em cada ser humano.
Ninguém se diviniza sem antes se humanizar!
É preciso aceitar pensar as chagas das
imperfeições daqueles que caminham conosco, da
mesma maneira que precisamos do curativo da
caridade para com as nossas.