A grande doutrina dos fortes
(Em homenagem a Divaldo Pereira Franco)
(...) Orai pelos que vos maltratam e
perseguem... -
Jesus. (Mt., 5:44.)
Nem Jesus e tampouco Kardec, assim como todos os
grandes vexilários da paz e do amor que tiveram
por missão alavancar a alforria espiritual da
humanidade, lograram escapar da sanha feroz e
destruidora dos detratores gratuitos, movidos
pela inveja e ciosos do seu “status quo”!
Sabendo que Seus
discípulos sofreriam sob o injusto guante da
mediocridade humana, Jesus proclamou: “bem-aventurados
sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e
mentindo, disserem todo mal contra vós por minha
causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o
vosso galardão nos céus; porque assim
perseguiram os profetas que foram antes de vós.”
Analisando esses
ataques à luz dos ensinos do Meigo Rabi e da
Codificação Espírita, ataques esses perpetrados
não só pelos adversários, mas também –
incompreensivelmente – pelos da própria grei
espiritista aos trabalhadores de vanguarda, Dona
Yvonne do Amaral Pereira ensina:
“(...) o estudo eficiente do Espiritismo
esclarece não só os aspectos gerais da vida,
como a situação dos espíritas, que, a ele nos
dedicando devidamente, não mais surpresas nem
vacilações nos chocarão em qualquer setor.
Seremos então espíritas preparados para os
entrechoques das múltiplas facetas da
existência... e saberemos que o Espiritismo e
o Evangelho exigem que, para servi-los, sejamos
realmente fortes, capazes de enfrentar quaisquer
situações difíceis, seja no ardor das
próprias provações, nas lutas das fraquezas e
imperfeições dos irmãos em crença.
Os primeiros discípulos do Nazareno e os
primeiros cristãos foram espíritos fortes por
excelência, idealistas audazes, práticos e não
místicos; caracteres de ação, porque a tarefa a
realizar seria volumosa demais para os ombros de
um contemplativo. Um caráter tíbio, por
exemplo, não romperia com as tradições
milenárias do Judaísmo ou do Paganismo, para
renovar totalmente as próprias convicções. Como
enfrentaria o tímido a necessidade de se curvar
à palavra revolucionária de Jesus, palavra que
arrojaria por terra antigos preceitos de domínio
e até de crueldade, para aceitar a união das
criaturas através do Amor, quando a força era
que ditava leis?! Como se haveria o
impressionável, sob o imperativo de morrer pelo
amor do Cristo à frente da espada dos herodianos
ou nas arenas dos circos de Roma, dando-se como
repasto às feras?! E ainda sem a fortaleza do
ânimo, como acreditariam eles na vitória
daquela estranha Doutrina saída de uma obscura
província dominada pela águia romana, Doutrina
que eles próprios deveriam espalhar pelo mundo.
O próprio Jesus, expondo a Sua Grande Doutrina,
lança sentenças impressionantes, que seriam
como ordenações irretorquíveis, próprias para
espíritos fortes, que os pusilânimes demorariam
a compreender e aceitar:
— "Seja
o vosso falar: Sim, sim; não, não."
— "Aquele
que ama a seu pai ou a sua mãe mais do que a
mim, não é digno de mim. E aquele que não
renunciar a tudo o que tem, não pode ser meu
discípulo."
— "Em
verdade te digo que ninguém pode ver o reino de
Deus, se não nascer de novo."
— "Eu
não vim trazer paz à Terra, mas a espada; vim
separar de seu pai o homem, de sua mãe a filha,
de sua sogra a nora; e o homem terá por inimigos
os de sua própria casa. Vim lançar fogo à Terra
e desejo que ele se acenda."
— "Se
alguém te ferir na face direita, oferece também
a outra; e àquele que tirar a tua túnica,
larga-lhe também a capa."
— "Amai
a vossos inimigos, fazei bem aos que vos têm
ódio e orai pelos que vos perseguem e caluniam."
— "Porque,
se vós não amais senão os que vos amam, que
méritos haveis de ter?"
— "Se
vossa justiça não for maior e mais perfeita do
que a dos escribas e fariseus, não entrareis no
reino dos Céus."
— "Sede,
pois, perfeitos, como vosso Pai Celestial é
perfeito."
São ordens de comando revolucionário, impelindo
paladinos para a grandiosa batalha de encontrar
Deus em si próprios! E, se mais não citaremos,
será porque iríamos longe com a observação. O
Evangelho, pois, se é uma escola onde aprendemos
as doçuras do Amor, é onde também encontraremos
as atitudes corajosas do herói do ideal divino.
Nas mesmas condições encararemos os espíritas:
os caracteres fracos, tímidos, indecisos,
demorarão a se integrarem nos embates
fornecidos pelo Espiritismo. Também este é
Doutrina para os fortes, ou seja, para aqueles
que, em migrações terrenas do pretérito, tanto
erraram, e no Além-Túmulo tanto sofreram por
isso, que agora se dispuseram a uma reforma
geral do próprio caráter através do
Espiritismo. E, com efeito! combater as próprias
imperfeições diariamente, não ignorando que, se
o não fizer, desonrará a própria Doutrina a que
se julgou filiar; socorrer necessitados sem
possuir recursos suficientes para o mandato,
confiante no auxílio do Mestre Nazareno;
medicar enfermos sem haver cursado Medicina;
subir a uma tribuna diante de assembleia
numerosa, que espreita pronta para a crítica, a
fim de defender a verdade, sabendo que esse é
um dever a que não poderá fugir, porque ainda
ontem, em existências transatas, deprimiu a
mesma verdade; enfrentar obsessores e fazê-los
recuar dos abismos do mal para as suaves
trilhas do Amor e do Perdão, certo de que é
apenas intérprete das forças do Céu, porque não
possui virtudes para tão alto feito; investigar
o Invisível com a própria fé e as forças do
coração, porque sabe não ser anjo nem sábio;
arvorar-se em secretário de Entidades aladas
para a produção de compêndios de Moral, de
Filosofia ou de Ciências transcendentes, e
apresentá-los ao mundo impiedoso com suas
críticas, não sendo escritor e tampouco
possuindo diplomas universitários; submeter-se
à vontade dos Mentores Espirituais e
executá-los, sobrecarregando-se, dia a dia, das
mais pesadas responsabilidades perante os
homens e os Espíritos; ser levado, por amor a
Jesus, a perdoar e esquecer os ultrajes que lhe
ferem o coração e conturbam o espírito;
renunciar a cada dia, às vezes até mesmo às mais
doces aspirações do coração, morrendo para si
mesmo a fim de ressurgir para Deus, e, acima de
tudo, filiar-se às falanges dos discípulos de
Jesus e dos baluartes da Terceira Revelação —
não será dispor de forças supremas na Terra, não
será ser corajoso por excelência?! E
convenhamos que é desses tais que Jesus precisa
agora, como ontem precisou dos pecadores, dos
mendigos, dos malvistos pela sociedade para a
propaganda da Sua Doutrina, únicos indivíduos
que, apesar das imperfeições que portavam,
estiveram à altura de compreender e executar os
sacrifícios necessários à difusão da Grande
Nova que surgia.
Muitos de nós,
realmente, ainda não somos verdadeiros
espíritas nem verdadeiros cristãos. Mas também
já não seremos homicidas, nem roubadores, nem
traidores, nem devassos, nem ébrios, nem
adúlteros, nem suicidas. Observaremos, então,
que nosso progresso dentro do ensino espírita há
sido fabuloso, pois ainda ontem fomos tudo isso,
não obstante alguns deslizes que mais ou menos
ainda praticamos. Não vejamos em nossos irmãos
de crença, ainda imperfeitos, espíritas
indesejáveis, mas pupilos de uma Doutrina
Celeste, recém-libertados de terríveis correntes
malignas. E se, por nossa vez, nos julgamos
harmonizados com os esplendores da verdade,
estendamos até eles nossos afetos, auxiliando-os
quanto possível a se integrarem na verdadeira
essência da Doutrina Espírita, que é poderosa
bastante para reeducar os necessitados de forças
renovadoras e de luzes espirituais.
Todo esse trabalho, que somos chamados a
executar, será labor para espíritos fortes,
porquanto, tal como aconteceu aos primeiros
discípulos do Nazareno, também teremos de
desenvolver lutas árduas para o estabelecimento
das verdades celestes sobre a Terra.”
A carta que João,
o Evangelista escreveu para
os irmãos da Igreja de Éfeso está ainda plena de
atualidade para os fiéis trabalhadores do
Cordeiro: “(...) Eu sei as tuas obras, e o teu
trabalho, e a tua paciência, e que não podes
sofrer os maus; e puseste à prova os que dizem
serem apóstolos e o não são, e tu os achaste
mentirosos. E sofreste, e tens paciência; e
trabalhaste pelo meu nome, e não te cansaste.”
E numa segunda carta à igreja de Esmirna o “Discípulo
Amado” enfatizou: “(...) Eu sei as tuas
obras, e tribulação, e pobreza (mas tu és rico),
e a blasfêmia dos que se dizem judeus, e não o
são, mas a sinagoga de Satanás. Nada temas das
coisas que hás de padecer. Sê fiel até à morte,
e dar-te-ei a coroa da vida.”