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por Bruno Abreu

 

O crescimento espiritual


Já alguma vez refletiu como acontece o crescimento espiritual?

Esta é uma realidade e está a acontecer, pois este é o sentido da vida.

Nós confundimos o crescimento espiritual com o crescimento do ser terreno mentalmente ou de conhecimento. Eles influenciam-se, mas não são o mesmo e um não está dependente do outro. Pode até acontecer o crescimento de um ser o contrário do outro, e isso é mais comum do que imaginamos. 

Quando aquilo, a que a psicologia chama de Ego, cresce, normalmente tem um efeito negativo no Espírito, que irei chamar de consciência, pois aqui na Terra podemos chegar com alguma facilidade à consciência, mas dificilmente ao Espírito, embora um seja o espelho do outro. A grande dificuldade de chegar ao espírito está em ele nos passar completamente despercebido, como é dito em O Livro dos Espíritos, se para nós nada é, logo não o percebemos.

É fácil percebermos como o ser terreno cresce: é através do conhecimento. Quanto mais tiver, maior o ser terreno.

Como acreditamos sermos um espírito, até dizemos na gíria que temos um, confundimos o crescimento do ser terreno com o do espírito, mas Jesus foi bem explícito quando separou os tesouros da Terra dos tesouros do céu.

Depois vemos espíritos desencarnados, que foram grandes personalidades na Terra, a sentirem-se pequeninos do outro lado e em situações menos boas.

Podemos ver pessoas com capacidade em termos de conhecimento em suas profissões, enormes e de uma humildade muito grande, mas também podemos ver pessoas com capacidades e que se acham muito importantes.

A importância que damos ao ser terreno está associada à cegueira espiritual. Por isso, a maior das virtudes é a tão falada e importante humildade. Esta existe em dimensão no oposto do Ego.

Temos de crescer na Terra como seres humanos, para podermos ajudar o melhor possível a humanidade, sem deixar que nos inflame o Ego. O que é de extrema dificuldade, pois ao sentir-nos importantes podemos facilmente inflamar o Ego, se esquecermos que a simples capacidade mental e física vem de um corpo que nos foi colocado à disposição sem que nós tenhamos feito algo para termos aquelas capacidades. Por isso é dito, que tudo nos é dado por Deus, momentaneamente, e tudo nos pode ser retirado.

Jesus chamou de doutores da Lei aos que sentiam o Ego inflamado no tempo que passou na Terra, por pensarem saber um pouco mais de religião.

Podemos perceber com facilidade que a consciência ou alma não cresce pelo aumento de conhecimento na Terra. Aliás, na próxima reencarnação já não nos lembraremos de nenhum conhecimento que temos hoje, mas isto não tira a utilidade dele agora, nesta vida.

Como cresce a consciência?

No caminho oposto ao crescimento do Ego, ou a um Ego forte, como quisermos chamar.

Se o Ego forte vive de orgulho, a consciência cresce com a ausência dele, ou seja, com a humildade.

Se um Ego forte vive de egoísmo, a consciência cresce com a ausência dele, ou seja, na caridade.

Se um Ego forte vive de vaidade, a consciência cresce na ausência dela, isto é, com a humildade.

Se um Ego forte vive de ganância, a consciência cresce da ausência dela, com a caridade.

Ou seja, a consciência cresce no desapego, na abstinência das más tendências que nos surgem ao longo do caminho, em especial dos truques que o Ego nos impõe ao longo do tempo.

O Ego pode ser muito sutil. Por exemplo, todos nós achamos que sabemos lidar com a vida e como tal aconselhamos e, muitas vezes, nos impomos aos outros. Esta sensação de que sabemos lidar com a vida nasce do orgulho: “Eu sei”. Onde nasce essa sensação, no Ego ou na consciência?

A consciência sabe que a vida é enorme e que cada pessoa pensa ou age a seu modo, de forma diferente, e não existe nada de errado com isso. Mesmo quando agem de forma errada é porque não sabiam fazer de outra forma. Pacientemente, a consciência oferece liberdade aos outros, o Ego impõe.

O crescimento da consciência passa pelo abandono ou desapego do Ego.

Jesus demonstra isso quando diz que temos de nos abandonarmos para o seguirmos.

Kardec fala nisso quando nos diz que temos de  domar nossas más tendências.

O caminho é tão difícil e às vezes dissimulado para nós, que adoramos o Mamon da importância, que é preciso muito cuidado com o orgulho que nasce até neste processo de crescimento.

Alguns caem na armadilha do orgulho, achando-se humildes.

Este jogo é extremamente difícil, pois as armadilhas para tropeçarmos são muitas e é necessária uma atenção plena, tal como o mestre aconselhou em olhai, vigiai e orai…

Se lembrarmos que qualquer importância que possamos ter é apenas um pensamento, uma ideia, perceberemos que a importância, tal como o orgulho é criado na nossa mente, não tem valor.

Com isto, não quero dizer que não tenhamos valor, todos temos, nas alturas em que agimos corretamente. O valor é de cada boa ação que fazemos, ou seja, o valor é da ação, não do pensamento. Se o pensamento fica a ruminar na ação, então é orgulho. Não saiba a sua mão esquerda o que faz a direita.

Ao vivermos presentes no dia a dia, com a mente em cada ação, no silêncio dos pensamentos, afastamo-nos do orgulho, da vaidade, do egoísmo, diminuímos o Ego e damos liberdade ao espírito para crescer.

O ser terreno, na forma como o vivemos, acumula naturalmente e esse acumular de conhecimento cria o caráter, cria as ideias que lhe fazem parecer saber tudo sobre a vida, que o leva a viver para uma individualidade psíquica e depois é comandado por esta através dos desejos e dos impulsos. A consciência ou alma, pode viver absorvida em paz e amor, que são a sua natureza, se desapegada dos movimentos mentais que criam o orgulho, o egoísmo, o ódio e todos os outros que nos levam aos conflitos internos e com os outros.

Por isso, mesmo quando passamos por um turbilhão, a determinada altura Deus nos ampara e voltamos ao silêncio do ser, nos encostando a consciência, sentido o amor Divino no silêncio de nosso interior.


Bruno Abreu reside em Lisboa, Portugal.
 


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita