Cartas consoladoras: alerta necessário
Temos visto muitos médiuns por este Brasil anunciarem
sessões de psicografia de cartas de Espíritos recém-desencarnados, dirigidas aos seus familiares, assim como
a divulgação de instituições espíritas especializadas em
receber esse tipo de comunicação. Essas psicografias são
denominadas de cartas consoladoras, e somos os primeiros
a reconhecer sua utilidade, quando produzidas sem nenhum
interesse oculto, quando são recepcionadas de boa-fé
pelos médiuns, mas também temos o dever, à luz da
Doutrina Espírita, de alertar aos médiuns, aos
familiares de quem desencarnou, e ao público em geral,
que essa modalidade mediúnica é das mais fáceis de ser
imitada, de ser fraudada, o que nos leva a solicitar
cautela.
Existem várias condicionantes para que um recém
desencarnado possa se comunicar, possa transmitir uma
mensagem, e conhecer essas condições pode nos precaver
de um embuste, de uma fraude. Primeiro, nem todo aquele
que desencarna está em condições de escrever através de
um médium; segundo, se tiver essa condição, pode não ter
autorização dos Espíritos Superiores; terceiro, se tiver
autorização, pode não querer escrever, pode não querer
fazer o contato com os familiares que ficaram aqui na
Terra; quarto, se as condições anteriores existirem, os
familiares podem não estar em condições de receber a
mensagem, de não entendê-la, o que faz com que o
Espírito adie sua comunicação; quinto, não é fácil fazer
a sintonia com um médium, isso depende de vários
fatores; sexto, os desencarnados tem mais o que fazer, e
não se submetem à vontade dos encarnados, não ficam a
obedecer suas ordens, ou seja, nenhum médium pode marcar
dia e hora para que este ou aquele Espírito se
apresente, venha se comunicar, pois com a morte ele não
perde seu livre arbítrio, sua vontade própria.
Por todos esses motivos, é muito questionável que um
médium anuncie que vai estar em tal cidade, em tal
instituição, no dia tal, horário tal, para receber as
mensagens consoladoras dos entes queridos recém
desencarnados. O médium pode comparecer, mas e os
Espíritos? Temos que ter muito cuidado com esse tipo de
anúncio, pois, repetindo, os Espíritos não estão sob
nossas ordens, e o retorno ao mundo espiritual, para a
grande maioria, é acompanhada de perturbação de médio ou
longo curso, impossibilitando o envio de qualquer
notícia, de qualquer comunicação.
Temos, quanto a isso, experiência pessoal acontecida
quando da desencarnação de um dos nossos irmãos. Uma
querida tia procurou uma instituição espírita
especializada em cartas consoladoras psicografadas, e
aqui devemos abrir um parêntesis para esclarecer que
essa classificação não existe para o Espiritismo, enfim,
levou o nome do nosso irmão e, ao longo de alguns meses,
lhe foram entregues algumas cartas que ela, gentilmente,
nos endereçou. Nelas nada encontramos que abonasse terem
sido escritas pelo nosso irmão. Nem o linguajar, nem o
estilo, nem o conteúdo trouxeram qualquer prova de
autenticidade. Se as palavras eram boas, no sentido de
levar paz e consolo a quem lesse, nada revelavam além do
que já sabemos e temos com a Doutrina Espírita, e
chegamos à conclusão que o próprio médium poderia ter
escrito, caracterizando o fenômeno do animismo, pois
assumimos que não haveria má-fé, que o médium não teria
inventado a comunicação, embora não pudéssemos isso
afirmar categoricamente.
Outra questão de suma importância, principalmente agora
em tempos de redes sociais, é a da autenticidade, do
conteúdo da carta trazer informações pessoais e/ou
familiares, que seriam de único conhecimento dos entes
queridos. Temos visto muitas comunicações trazendo
informações que são de domínio público, que qualquer
pessoa pode acessar pela imprensa ou pelas redes
sociais, e isso não é prova de autenticidade, pelo
contrário, é motivo de suspeitarmos do médium, pois ele
poderia perfeitamente ter acessado previamente essas
informações, pois muitos médiuns e instituições
solicitam um cadastro prévio, o que é muito suspeito. A
melhor psicografia de um ente querido desencarnado é
aquela que ocorre espontaneamente, sem que o médium nada
saiba, nem mesmo o nome do Espírito.
Aos que querem estudar melhor o assunto, e ter um bom
exemplo, recomendamos se debrucem sobre a vida e obra do
médium Chico Xavier, e conheçam os livros psicografados
por ele, cujas cartas consoladoras foram exaustivamente
pesquisadas, tais como: Entre Duas Vidas; Amor Sem
Adeus; Eles Vivem; Somos Seis; Encontros no Tempo;
Jovens no Além, entre outros. Provas insofismáveis
de autenticidade são desfiladas aos olhos do leitor, com
depoimentos dos familiares corroborando a autenticidade,
e sem que Chico Xavier conhecesse qualquer um dos
Espíritos, nem seus familiares que o procuravam em
Uberaba. As mensagens aconteciam de forma espontânea, e
nem todas as pessoas tiveram o seu desejo atendido,
pois, como ele falava, o telefone toca de lá para cá, e
não o contrário.
Que os dirigentes espíritas e os médiuns se
conscientizem que a mediunidade deve ser levada muito a
sério, e que busca da fama por parte do médium, e de
alta frequência de público, por parte da instituição
espírita, não fazem parte do Espiritismo.
Compreendemos a natural ansiedade dos familiares por
notícias do ente querido que retornou ao mundo
espiritual, mas que essa ansiedade seja disciplinada e
orientada pelos dirigentes dos centros espíritas,
explicando que os médiuns não são máquinas reprodutoras
de mensagens, e que as cartas consoladoras não dependem
deles, mas dos que se encontram agora na outra dimensão
da vida, dando continuidade ao seu progresso, tanto
quanto nós outros devemos igualmente fazer aqui no mundo
material.
Marcus De Mario é escritor,
educador, palestrante; coordena o Seara de Luz, grupo
on-line de estudo espírita; edita o canal Orientação
Espírita no YouTube; é editor-chefe da Revista Educação
Espírita; produz e apresenta programas espíritas na
internet; possui mais de 35 livros publicados.
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