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por Maria de Lurdes Duarte

 

Onde colocas a tua felicidade?


Ser feliz: o grande anseio de todos nós; o objetivo das nossas vidas; o desejo de toda a humanidade.

Então, podemos perguntar: porque tão poucos de nós se consideram felizes? Quando encontramos um amigo ou conhecido, às perguntas “Estás bom?”, “Está tudo bem?”, ouvimos, quase impreterivelmente, “Vai-se andando.”, “Vou indo”, “Um dia de cada vez”, “Ah, como Deus quer.”, acompanhados de trejeitos faciais que denotam desconsolo, se não mesmo, infelicidade. Muito raramente ouvimos um “Vou bem” ou “Está tudo bem”, e ainda mais raramente, vemos, nesses momentos, sorrisos rasgados de satisfação com a vida. Mesmo quando as coisas até vão correndo bem, parece quase da praxe que não o demonstremos abertamente. Queixarmo-nos da vida é uma atitude profundamente arraigada, pelo menos nos povos ocidentais, de tal modo que, acabamos por nos sentir realmente infelizes, até quando não haja razões profundas para isso.

“Vai-se andando como Deus quer” é talvez a expressão que mais ouvimos. Então… como Deus quer?! Quererá Deus que sejamos infelizes?! Será Deus o responsável pela nossa infelicidade, ou por esse sentimento de “mais ou menos”, que nem é alegria nem tristeza, que teimamos em cultivar? Olhemos em nosso redor. Observemos a Natureza como resplandece de equilíbrio e harmonia, em que somos nós os únicos seres da criação que teimamos em destruir deliberadamente, só para satisfazer os nossos interesses mesquinhos. Parece-nos que Deus, perversamente, diríamos nós, criou a Terra para o desequilíbrio, a desarmonia, a dor, a infelicidade? Criou Deus a Terra para ser morada infeliz dos seres da Sua criação? Em que Deus acreditamos nós, afinal?

Diz-nos a Bíblia: “Deus criou o ser humano à Sua imagem.” (Génesis, 1:27) e “Deus contemplou toda a sua obra e viu que era muito bom.” Génesis, 1: 31) Deus, tendo-nos criado à sua imagem, criou-nos com destino à felicidade. Criou a Sua obra, a Terra com todos os seres que aqui colocou, destinados à evolução, ao progresso material e espiritual que, paulatinamente, e inexoravelmente, nos levariam a ser semelhantes (não iguais) a Ele e nos levaria às culminâncias da felicidade.

No entanto, também na Bíblia, encontramos, em Eclesiastes, 2:4-11, a máxima “A felicidade não é deste mundo”. O que quereria o autor deste livro do Antigo Testamento dizer com isto? Segundo o que aí podemos encontrar, nem o poder, a riqueza, a saúde, ou mesmo a juventude, influenciam a obtenção da felicidade. Podemos ter tudo o que consideramos ser condição essencial para ser feliz e, mesmo assim, mantermo-nos numa faixa de vibração negativa que nos leva à infelicidade, à depressão, ao desânimo. Lutamos para obter todas as vantagens que este mundo tem para nos oferecer e, após todas as lutas, tudo se mostra vão e inútil para nos garantir essa condição de satisfação total e sentimento interior de ventura. E porque assim é?

Antes de mais, onde estiver o nosso coração, aí estamos nós, tal qual somos, com toda a realidade do nosso Ser. Se as nossas aspirações vão no sentido do materialismo, dinheiro, fama, viagens, poder, influência, bem-estar material, prazer desenfreado, aí está o nosso coração e aí está a nossa meta de felicidade. Mas, como tudo o que é material e apenas do âmbito terreno é superficial, passageiro, fugidio, a ambição de felicidade colada desse ponto de vista torna-se também passageira, fugidia e, para além disso, ambígua. Com o puco, alguns sentem-se felizes; com o muito, quantos de nós nos sentimos insatisfeitos. Tudo depende da quantidade de ambição material colocamos nas metas que traçamos. O que basta para uns, não é nada para outros. O supérfluo de uns é básico e imprescindível para outros.

Faz parte da condição humana querer sempre mais e nunca se sentir satisfeito. Haverá mal nisso? Tudo depende, exatamente de onde colocamos o nossos querer, ou seja, como temos vindo a refletir, de onde pomos o nosso coração. Se o objetivo é exclusivamente material, essa insatisfação constante, esse desejo de obter mais e mais, sem cessar, leva-nos a um desassossego que não é gerador da felicidade que pretendemos alcançar.

Então, que caminho percorrer em busca da felicidade? Se é o que Deus deseja para nós, como a alcançar? Olhemos para dentro de nós mesmos. O que vemos?  Façamos esse percurso com atenção, buscando perceber que potencialidades já temos, que dons podemos desenvolver, que qualidades sentimos estarem já a germinar… Ao mesmo tempo, consultemos a nossa consciência mais profunda em busca dos entraves, vícios e obstáculos, próprios da nossa personalidade, que, com algum esforço e trabalho poderemos combater e excluir já nesta vida. Ao analisarmo-nos, encontraremos, com toda a certeza, traços pessoais que poderemos limar e aperfeiçoar. Concentremo-nos nessa meta. Façamos da nossa reeducação espiritual o grande objetivo de vida. Ofereçamos a nós mesmos e aos que nos rodeiam a melhor versão do nosso Eu, Ser Espiritual Imortal que somos. Se colocarmos o mesmo afinco nas conquistas primordiais do espírito que costumamos colocar nas conquistas do prazer terreno, grande passo daremos na senda evolutiva. Cada pequeno passo dado nesse sentido, será uma conquista rumo à felicidade que, na realidade, está dentro de nós, basta deixarmo-la desabrochar e crescer.

O que nos diz a Doutrina Espírita sobre isto?

Em O Livro dos Espíritos, Livro Quarto, Esperanças e Consolações, encontramos no capítulo I, Penas e Gozos Terrenos:

“921. Concebe-se que o homem seja feliz na Terra quando a Humanidade estiver transformada, mas enquanto isso não se verifica pode cada um gozar de uma felicidade relativa? (pergunta de Kardec)

- O homem é, na maioria das vezes, o artífice da sua própria infelicidade. Praticando a lei de Deus ele pode poupar-se a muitos males e gozar de uma felicidade tão grande quanto o comporta a sua existência num plano grosseiro. (resposta dos Espíritos)”

Será a felicidade deste mundo, afinal? E porque não? Felicidade não é um lugar, é um estado de espírito que depende da forma como encaramos os obstáculos que a vida nos coloca no caminho, obstáculos esses, digamos a verdade, foram planeados por nós mesmos, por alguma razão, nada mais sendo do que a colheita da sementeira que temos feito e que serve de alavanca para alçarmos a novas paisagens interiores (expiações e provas).

Em qualquer lugar, aqui na Terra ou em outros mundos, no plano físico ou no espiritual, poderemos ser felizes se a isso nos dispusermos. Claro que, sendo a Terra, por enquanto, um mundo de provas e expiações, não é um lugar de inteira ventura, porque a dor e o mal ainda imperam. Nesta época de transição, , consciência dele, na maioria de nós, o que nos traz uma sensibilidade à dor e ao sofrimento, nosso e alheio, assaz forte. Mas, tenhamos a certeza: aproxima-se, paulatinamente o estado de mundo de regeneração do nosso planeta, que nos trará uma necessidade menor de sofrimento, onde poderemos continuar a trabalhar pelo progresso a todos os níveis, acima de tudo o espiritual, sem o forte entrave das expiações dolorosas. Daí, continuaremos a nossa caminhada, procurando alcançar para a Terra a condição de Mundo Feliz, onde a felicidade será uma vivência constante e plena.

 

Bibliografia:

Génesis, Antigo Testamento.

Eclesiastes, Antigo Testamento.

O Livro dos Espíritos, Allan Kardec.

 

Maria de Lurdes Duarte reside em Arouca, Portugal.    


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita