Natural da cidade de São Paulo (SP), onde
reside, Mateus Donia Martinez (foto), graduado
em Psicologia, com título de Mestre e
desenvolvendo uma Tese de Doutorado com o tema Mediunidade
em Crianças, é de família espírita, embora
sem vínculo ou cargos, atualmente, em
instituição espírita. Dada a sua experiência no
trabalho realizado na casa espírita, ele
embrenhou-se no assunto, como nos conta na
seguinte entrevista:
De onde lhe surgiu o interesse para na Tese de
Doutorado focalizar o tema Mediunidade em
crianças?
Nasci em família espírita e cresci frequentando
e trabalhando em um centro espírita na zona
oeste de São Paulo. Nele, participei da
evangelização infantil quando era criança e
atuei como evangelizador na adolescência. Dos 18
aos 21 anos de idade, colaborei ativamente nos
trabalhos de atendimento e assistência
espirituais. A partir dos meus 9 anos passei a
ter algumas experiências espontâneas, que foram
interpretadas, por pessoas de minha referência e
do contexto espírita, como mediúnicas. Mais
tarde, em 2010, em um evento distinto do curso
de psicologia (em que cursava o primeiro ano),
tive contato com pesquisas sobre saúde e
espiritualidade, realizadas em universidades
brasileiras e internacionais. A partir de então
me senti motivado a pesquisar algo sobre o tema
na psicologia. Mais tarde, em consonância com
minha história, notei uma lacuna na literatura
científica de pesquisas acadêmicas sobre a
mediunidade em crianças.
Como nasceu seu interesse pela Psicologia?
Aos 9 anos de idade fui convidado por um
estudante de psicologia, que frequentava o mesmo
centro espírita, a ser observado, entrevistado e
a realizar algumas tarefas em um trabalho de
psicologia do desenvolvimento dele. Nutria
admiração pelas falas e reflexões deste rapaz.
Quando meus colegas e amigos falavam o que
desejavam estudar, no final do ensino médio, eu
me sentia perdido. Buscava identificar o que
seguir por critério de afinidade pessoal. Entre
oceanografia, arquitetura e psicologia, segui
pela terceira opção, pois julgava que meu
talento era lidar com as pessoas, apesar da
introversão. Também, diante de conflitos
pessoais e familiares, na época não conscientes,
mas sentidos, intuí que a psicologia seria uma
rica ferramenta de conhecimento da minha
realidade, da família e de mim mesmo.
Sendo espírita de infância e tendo participado
de várias atividades com seus pais, como enxerga
atualmente esse período de sua trajetória?
Hoje percebo que nascer, crescer e me
desenvolver no Espiritismo foi crucial e
direcionador para tudo o que veio depois,
principalmente ao seguir pela psicologia e, mais
tarde, na pesquisa com crianças que relatam
experiências de mediunidade ou indicativas
desta. Do ponto de vista pessoal, escolhas,
pessoas e experiências essenciais foram fruto
desta minha origem. Nesse sentido, sem a
vivência pessoal no Espiritismo, talvez a
pesquisa em curso não ocorreria, eu não
reconheceria a centralidade das experiências de
mediunidade e da espiritualidade para a
constituição da identidade, dos sentidos de
vida, no enfrentamento de adversidades e na
busca de respostas sobre a existência, sendo
estes temas caros e inalienáveis da psicologia.
Na pesquisa sobre o tema em questão, qual a
sensação na conversa com as crianças
entrevistadas?
As entrevistas estão sendo realizadas
presencialmente neste momento, no local de
escolha da criança e de sua família. A cada nova
conversa com uma criança diferente, sinto-me
entusiasmado e surpreendido pelo jeito de cada
criança confiar em mim, contar e expressar suas
experiências singulares. Por mais que possamos
ler e conhecer o que adultos e a literatura
espírita relatam sobre a mediunidade em
crianças, acompanhar a elaboração dos desenhos
delas sobre as experiências e ouvi-las tem sido
o mais precioso do processo. No final, sinto-me
feliz por poder aprender com as crianças e
possibilitar um espaço de escuta e acolhimento.
O que percebeu mais acentuadamente nos pais?
Até o momento, tive contato prévio às
entrevistas apenas com as mães. Inicialmente,
elas me contataram e demonstraram interesse em
contribuir com a pesquisa, mas a maioria esboçou
algum receio ou medo por não saberem mais
detalhes sobre a pesquisa, os objetivos dela, o
procedimento de entrevista e sobre mim. Também,
a maioria das mães, depois de conversarmos,
levou adiante a participação da criança e a
verificação do aceite dela em participar. A
partir do momento que as famílias compartilham
seus espaços para a realização da entrevista,
todos seus membros têm se mostrado muito
engajados, colaborativos e interessados na
pesquisa.
Quais os principais critérios estabelecidos para
a pesquisa?
A pesquisa sobre mediunidade em crianças foi
amadurecida ao longo dos últimos 4 anos e
avaliada por diferentes comitês de pesquisa, na
Universidade de São Paulo, na Universidade de
Northampton, no Reino Unido, e por agências de
fomento científicas brasileiras. Assim,
estabelecemos os seguintes critérios básicos de
participação: 1) a criança precisa ter tido
alguma experiência entendida como mediunidade ou
indícios dela, sendo este entendimento advindo
da própria família ou de membros do contexto
religioso da criança; 2) ter entre 8 e 11 anos
de idade, pois as crianças nesta fase do
desenvolvimento apresentam melhor capacidade de
sustentar a atenção na entrevista e de relatarem
suas experiências; 3) residirem no Brasil.
Para quem quiser entrar em contato, como deve
proceder?
Para quem quiser entrar em contato para saber
mais da pesquisa, para participar, ou por
qualquer outra razão, clique
aqui, pois meus contatos estão disponíveis
nele. Também é possível contatar-me pelo
Instagram: @mateusopsi
Nesse período de pesquisa, o que mais o marcou?
Compreendo que nossos temas de pesquisa estão
intimamente relacionados a nossas biografias e
experiências. Nesse sentido, significativamente,
tenho revisitado minha própria história a partir
das preciosas e marcantes histórias de cada
criança entrevistada e suas famílias.
Algo mais que gostaria de acrescentar?
Uma pesquisa científica é um trabalho realizado
a muitas e muitas mãos, sempre conjuntamente. É
fruto de um laborioso investimento de tempo e
energia, de geração em geração. Por isso, todo
suporte e colaboração são imprescindíveis. Busco
estimular o olhar para as infâncias, a partir
das perspectivas das próprias crianças. Creio
que assim as crianças, suas famílias e os
profissionais da saúde, da educação e
trabalhadores das casas espíritas poderão melhor
compreender, acolher as crianças e manejar, com
sensibilidade, conhecimento embasado, ética e
respeito, às diversas experiências delas, o que
inclui as de mediunidade.
Suas palavras finais.
Gostaria de agradecer profundamente a
oportunidade de compartilhar um pouco desta
trajetória de pesquisa e pessoal neste espaço,
pela abertura e generosidade.

|