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por Anselmo Ferreira Vasconcelos

 

O drama das pessoas que ainda não sabem amar


Infelizmente, perambulam pelas paisagens atormentadas da Terra criaturas ainda destituídas da noção mais elementar de amor, apesar de Jesus ter enfatizado, com clareza meridiana, a relevância do cultivo deste sentimento no contexto da criação divina. É o amor divino, aliás, que nutre nossas almas e nos dá a necessária sustentação para o enfrentamento da existência. Sem ele simplesmente não existiríamos. É também o amor divino que nos inspira os passos e as boas atitudes. De fato, o Senhor, além de nos conceber espiritualmente, nos concede a oportunidade de participarmos de sua obra feérica e esfuziante. E o seu amor abraça todo o universo e as coisas, e nenhuma conjectura macrocósmica sincera pode desconsiderar tal aspecto.

Nessa ampla perspectiva, portanto, vencer existencialmente é sobretudo amar aos que ombreiam conosco no espinhoso caminho redentor. Amar é compartilhar, é assistir, é amparar, é ouvir, é vibrar intensamente pela felicidade e bem-estar geral de todos indistintamente.  Amar é dar de nós mesmos, sem a preocupação de obter qualquer reciprocidade.

Amar é sair de si mesmo, isto é, do estreito casulo do EU, e abrir-se como uma flor disposta a captar os benfazejos raios de Sol que partem de todas as direções. Amar a família ou os mais próximos é, antes de tudo, uma obrigação, já que a caridade começa sempre em casa. Mas tal iniciativa é insuficiente, pois no ambiente familiar ensaiamos apenas os primeiros passos nessa sagrada dimensão da vida.

Assim sendo, o Pai espera muito mais de nós nesse particular, e Jesus foi iluminado portador do mandamento amar. Na sua máxima expressão é conviver: com os que purgam suas imperfeições em aflitivas experiências corpóreas; com os que carregam estigmas dolorosos em seus corpos; com os que necessitam de ajuda e amparo; com os que esperam a nossa boa vontade; assim como com os que tornam nossas cruzes, de modo geral, mais pesadas. Portanto, é preciso ir mais além, já que o amor abrange um poder altamente transformador.

No presente estágio em que ora nos encontramos, necessitamos de altas dosagens de amor embalando os corações humanos, a fim de dissiparmos derradeiramente as pesadas nuvens trevosas e tempestades morais que atingem o nosso orbe, e a nossa mesquinha forma de viver. É hora de revermos os valores e princípios que têm norteado as nossas vidas, internalizado apenas os que têm real significado moral. Tenhamos em vista que o amor é o sentimento mais puro da criação, e, como tal, não pode ser menoscabado.

Obviamente, não explorarei aqui todas os perfis humanos que expressam profundo desamor aos seus pares. Deter-me-ei especificamente nas pessoas que se conduzem de maneira irresponsável, abusando sem comiseração do sentimento alheio. Estas geralmente enfileiram ao longo da existência longa lista de pessoas (vítimas, na verdade) às quais atraem pelo fogo fátuo da paixão como se fossem seus troféus particulares de sedução. Usam-nas miseravelmente ao seu bel-prazer e as dispensam, quando se cansam, como se fossem objetos sem uso. Não raro, empregam um autêntico arsenal de artimanhas para envolvê-las nesse jogo nefando, sem cogitar que “quem com o ferro fere, com o ferro será ferido”, como preceitua o Evangelho.

São seres perspicazes e manhosos que usam e abusam da capacidade de manipular os seus semelhantes. De modo geral, são insinuantes, envolventes, mentirosas e pérfidas. Como possuem um deserto no coração e nenhum mísero oásis de sensibilidade, “livram-se” de todos os que lhes não mais interessam sem nenhuma piedade e compaixão. Lá no fundo não passam de criaturas receosas de amar, sem a menor sombra de inteligência espiritual. Devido ao seu comportamento errático pode-se deduzir que o amor é algo desconhecido por elas. Pensar em fazer o bem a outro sem cogitar de receber algo em troca, é coisa inimaginável em suas mentes doentias. Seus interesses de vida são puramente materiais, basicamente restritos aos gozos efêmeros nos quais o sexo desvairado ocupa proeminente papel. Suas consciências estão aparentemente ainda entorpecidas e, nesta triste condição, não vislumbram a realidade espiritual que as circunda.

Assim sendo, de erro em erro e de desatino em desatino semeiam, essencialmente, a frieza e a maldade que lhes invadem as almas. Para o Espírito Joanna de Ângelis (ver a obra Amor, Imbatível Amor, psicografa pelo médium Divaldo Pereira Franco), “Como o amor constitui um grande desafio para o Self, o indivíduo enfermiço, de conduta transtornada, inquieto, ambicioso, vítima do egotismo, evita amar, afim de não desequipar dos instrumentos nos quais oculta a debilidade afetiva, agredindo ou escamoteando-se em disfarces variados” (ênfase minha).

A elevada entidade espiritual também pondera que o medo de amar pode estar relacionado aos traumas de infância, mas acrescenta que “[...] Também pode resultar de insatisfação pessoal, em conflito de comportamento por imaturidade psicológica, ou reminiscência de sofrimentos, ou nos seus usos indevidos em reencarnações transatas” (ênfase minha). Ou seja, são seres situados na infância espiritual e incapazes, assim, de entender as elevadas finalidades das relações humanas.

Mas chega o dia, no entanto, em que elas são confrontadas com a verdade – muito diferente da qual se julgavam donas absolutas. E não mais podendo disfarçar a sua natureza eminentemente maligna, são expostas às justas consequências dos seus atos. Já no plano espiritual são, via de regra, submetidas a uma dura colheita, consoante as leis de causa e efeito. Seu passado ominoso geralmente lhes é apresentado e, assim, tomam plena ciência da sua trajetória torturante pela qual desfrutaram a vida, bem como o futuro de sofrimentos acrisoladores que as aguardam.

Sob intensa catadupa de lágrimas de arrependimento chocam-se amargamente com o resultado do seu comportamento insano e estampado, não raro, em seus períspiritos deformados. Diante do espinhoso processo catártico tardiamente conjecturam: ah! se tivessem amado, se tivessem respeitados mais os seus semelhantes; se tivessem sido gratas aos seus benfeitores; se tivessem sido sinceras; se tivessem sido descentes; se tivessem pensado menos em si próprias e um pouco mais nos outros; se tivessem ouvido Deus na acústica da alma.

Mas como o Pai é sempre misericordioso, novas oportunidades lhe serão concedidas para que um dia se ergam, enfim, rumo à luz imperecível do Reino de Deus através da reparação das suas faltas e débitos, da aquisição de pensamentos e ideias superiores, do processo de autoconhecimento e, acima de tudo, de autoiluminação.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita