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por Cláudio Bueno da Silva

 

Protetores invisíveis (Uma história)


“Sim, os Espíritos vos amam... vos têm piedade, cuidam de vossos dias e afastam de vós todo mal que vos pode acontecer, como a mãe cerca o filho de todos os cuidados mais delicados...” - São Luís (Revista Espírita de dezembro de 1868.)


A criança brinca, enquanto a mãe prepara o almoço. Atarefada, movimenta com destreza os utensílios e os alimentos. A atenção e o prazer com que prepara os pratos, sem dúvida, dão o cheiro delicioso e a boa aparência à comida. Vez ou outra, olha o menino entretido com os brinquedos.

Enfastiado da longa e solitária brincadeira, o garoto abandona o local e segue pelo corredor, indo à frente da casa, onde há sol e o movimento da rua. Ali, os pássaros também gostam de brincar, pulando dos fios aos galhos das árvores.

Distraído, com passinho miúdo, aproxima-se do portão e vê um homem grande, parado, olhando para ele. Para, indeciso, já virando as perninhas para voltar. O homem o detém, portão entreaberto, meio corpo para dentro.

– Ei, menino, não tenha medo! A mamãe está?

O vulto desproporcional e inesperado assusta a criança que, mesmo assim, surpreendentemente, não se descontrola e o olha com desconfiança.

– Está, não é? Então, vá dizer a ela que eu estou pedindo dinheiro.

O menino, vendo-se liberto, corre em busca da mãe. Entra pela cozinha e transmite o recado do homem grande que está no portão.

O coração da mulher dispara em alerta, como que acionando, de imediato, a percepção do que estava ocorrendo. Sem fazer qualquer pergunta, lança-se sobre a carteira, em cima do armário, tira uma nota e corre, opressa.

Encontra uma das folhas do portão semiaberta e o homem, em postura invasiva, sorrindo em sua direção, mas imóvel.

Ela, talvez incorporando forças desconhecidas, estende o braço exibindo a nota e parte para entrega-la ao homem. Pensa apenas no filho que está lá dentro e pouco lhe importa se tiver que lutar para defende-lo.

O estranho, dando a nítida impressão de que se tinha algum plano na cabeça, já desistiu de executá-lo, pega o dinheiro e avisa, entre cínico e verdadeiro:

– A senhora procure não deixar o seu portão aberto, assim ... Há tanta gente... Há tanta maldade hoje em dia!

Dá as costas e some. A mãe entra rapidamente. Suas pernas tremem sem controle. Tranca a porta, pega o filho nos braços e o aperta forte contra o peito, num abraço infinito, agradecendo a Deus, muito, muito... (*)

 

(*) Texto originalmente publicado no livro Um sorriso como resposta, Mythos, 2011.


 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita