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por Jane Martins Vilela

 

Olhai por nós 


”Tendes aprendido o que foi dito: olho por olho e dente por dente. Eu vos digo para não resistirdes ao mal que se vos queiram fazer, mas se alguém vos bate na face direita apresentai-lhe também a esquerda.”
  (Mateus, cap. V; v de 38 a 42.)


Há pouco tempo vimos uma reportagem sobre uma preocupação que grassa no meio médico brasileiro, com referência ao uso enorme de medicamentos psiquiátricos pela população brasileira. Demais. Mais alto que nos outros países.

Estão estudando e verificando se seria possível, como antes no passado, quando os manicômios foram retirados da saúde brasileira, pensar em retirar também esse uso excessivo de medicação por parte da população. Cogita-se tratar os problemas mentais sem medicação. Isso seria ótimo, se um dia for possível, claro que com as exceções para casos que realmente não podem ficar sem medicação.

Quando lemos essa reportagem, achamos muito interessante. Longe ainda de poder tornar-se realidade, mas já se pensa no assunto.

O que ocorre com nosso país? Por que tanta ansiedade e falta de perspectiva de vida? Os jovens principalmente... Estaria a geração que os antecedeu poupando-os demais de dores e sofrimentos, privando-os da possibilidade de entender que suportam e são capazes de enfrentar com calma as adversidades?

Todos enfrentamos dores, sofrimentos, ninguém isento disso no planeta. O que falta?

No dia a dia, conversando com muitos, vemos que a religiosidade está em falta. Ter uma religião que ligue a criatura a Deus dá segurança. Saber que há um poder que é puro amor, e que vela por nós, acalma. Estar com a casa assentada sobre a rocha, na fé viva, mantém a serenidade nas horas mais difíceis da vida de cada um.

Estamos numa época de grandes dores. Problemas psiquiátricos intensos. Falta de amor entre muitos, provocando crimes hediondos, revela a infância sentimental do planeta. Enfermidades nas almas.

Precisamos pacificar-nos. Amar nosso próximo como gostaríamos de ser amados. Compreender que grande não é o belicoso, mas o simples e humilde de coração.

Quando Jesus nos pede para oferecer a outra face, notamos a necessidade do perdão. É o que vemos faltando nos corações. O ódio e o desejo de vingança acompanham o ser humano na história da Terra, a menos que ele tenha conseguido amar. Vemos os espíritos encarcerando os seres encarnados mesmo depois de séculos desde que Jesus ensinou o amor. Muitos deles, movidos por esses desejos infelizes, nem conhecem Jesus. Lembram- se de um passado distante em que sofreram e acham natural fazerem sofrer. É ainda o “olho por olho, dente por dente”.

Nos primórdios do Espiritismo era comum nos contarem casos de obsessões cruéis, verdadeiras subjugações, que acometiam médiuns desavisados. Eram amarrados, segurados por cordas, pessoas que os levavam aos centros espíritas, puxando a corda, cada um de um lado e se acautelando, tamanha a força e fúria que envolviam o que estava amarrado. Chegavam ao centro espírita, e o responsável, sempre cheio de amor, dizia que soltassem a pessoa. Tinham medo, mas obedeciam. Aquele ser furioso se aproximava e abraçava aquele que o estava ajudando. A obsessão cedia lugar. A moralidade elevada é irresistível, dizem-nos os espíritos.

Onde estão esses grandes e amorosos espíritas do passado? As obsessões estão intensas novamente, mas onde nossa moralidade para que nossa simples presença possa acalmar os ânimos ferozes?

Lembramo-nos da belíssima história relatada pelo espírito de Leon Tolstói, no livro “Ressurreição e Vida”, psicografado por Yvonne A. Pereira, intitulada “O Discípulo Anônimo”.

Um moço que usava um manto marrom, que amava profundamente Jesus. Estava sempre em suas palestras e anotava depois, cuidadosamente, o que tinha ouvido, com todos os detalhes. Era culto, algo incomum naquela época. Um dia, enquanto aguardava Jesus, viu os desditosos que o esperavam, a maioria nesses processos obsessivos intensos. Jesus demorou um tanto mais e, movido por força invisível, ele se levantou e começou a curá-los, Todos ficaram bons, o que denotava uma moralidade superior.

Perguntamo-nos se teríamos, hoje, tantos séculos após Jesus, uma moralidade assim. Será que os espíritos endurecidos se afastariam à nossa simples presença? Será que nos obedeceriam?

Como estamos nós conosco em nossa profundidade? Já sabemos amar o suficiente?

Por certo responderíamos que ainda não. Imersos na psicosfera da Terra, nosso aprendizado de amor ainda é muito necessário. Perdoar ainda é necessário.

Os problemas psiquiátricos estão volumosos e nem sempre com necessidade de medicação, mas sim de um amor tão grande, que afaste o obsessor como antes, no passado. Não é fácil, mas convém que desenvolvamos o amor em nós para podermos auxiliar mais, principalmente se um dia resolverem que realmente a população está sendo medicada demais e decidirem limitar isso. Aí cada um será o artífice de si mesmo, tentando ser o melhor possível.

Ainda somos aprendizes e bem disse Jesus que para essa casta de espíritos são necessários o amor e a oração.

Que lembremos de elevar nosso pensamento a Deus e rogar que olhe por nós.

Que melhoremos muito e saibamos amar. O discípulo anônimo, há 2.000 anos, conseguiu.

2.000 anos passados, como estamos? Uma pergunta para cada um avaliar em si mesmo.

Que estejamos imbuídos dos melhores sentimentos e que nosso Pai, criador do amor, nos proteja e ampare.


 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita