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por Juan Carlos Orozco

Amor, sublime amor


A palavra amor pode significar: sentimento afetivo; forte afeição por outra pessoa; sentimento de afeto que faz com que uma pessoa queira estar com outra; sentimento de devoção direcionado a alguém ou ente abstrato; adoração; paixão; atração baseada no desejo sexual; ou, religiosamente, amor a Deus e ao próximo.

Podemos, ainda, levantar outras nuances de amor: egoísta, possessivo, asfixiante, platônico, de édipo, virtual, filial, maternal, paternal, prazeroso, dentre tantas variantes.

Os gregos reconheciam vários tipos de amor com significados específicos, como de: amor-próprio; narcisismo ou autoestima; amor pragmático, em favor de uniões arranjadas; amor prazeroso; amor por romance, paixão ou desejo; amor pelos irmãos, parentes ou amigos; amor devotado a entes familiares; e amor incondicional de sentido universal.

Allan Kardec, depois da resposta à letra “a” da questão 938, em O Livro dos Espíritos, comenta: “A Natureza deu ao homem a necessidade de amar e de ser amado. Um dos maiores gozos que lhe são concedidos na Terra é o de encontrar corações que com o seu simpatizem. Dá-lhe ela, assim, as primícias da felicidade que o aguarda no mundo dos Espíritos perfeitos, onde tudo é amor e benignidade. Desse gozo está excluído o egoísta.”

Ao complementar a resposta da questão 980, em O Livro dos Espíritos, acerca do laço de simpatia que une os Espíritos da mesma ordem como fonte de felicidade, Kardec comenta: “Das primícias dessa felicidade goza o homem na Terra, quando se lhe deparam almas com as quais pode confundir-se numa união pura e santa. Em uma vida mais purificada, inefável e ilimitado será esse gozo, pois aí ele só encontrará almas simpáticas, que o egoísmo não tornará frias. Porque, em a Natureza, tudo é amor: o egoísmo é que o mata.”

Pelos comentários de Kardec, amar é lei da Natureza e amor é atributo inseparável da vida do ser humano que, independentemente do seu sentido, todos os seres amam.

Se amar é lei da Natureza, esse sentimento provém de Deus, como expressa a Primeira Epístola de João: “Amados, amemo-nos uns aos outros, pois o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conheceu a Deus, porque Deus é amor.” (1 João, 4: 7-8)

João afirma que Deus é amor e a capacidade de amar revela a origem divina do ser humano, e quanto mais desenvolvida for essa capacidade mais evoluído é o Espírito.

Nesse sentido, Léon Denis, no livro O problema do ser, do destino e da dor, define:

“O amor, como comumente se entende na Terra, é um sentimento, um impulso do ser, que o leva para outro ser com o desejo de unir-se a ele. Mas, na realidade, o amor reveste formas infinitas, desde as mais vulgares até as mais sublimes. Princípio da vida universal, proporciona à alma, em suas manifestações mais elevadas e puras, a intensidade de radiação que aquece e vivifica tudo em volta de si; é por ele que ela se sente estreitamente ligada ao poder divino, foco ardente de toda a vida, de todo o amor.

Acima de tudo, Deus é amor. Por amor, criou os seres para associá-los às suas alegrias, à sua obra. O amor é um sacrifício; Deus hauriu nele a vida para dá-la às almas. Ao mesmo tempo que a efusão vital, elas receberiam o princípio afetivo destinado a germinar e expandir-se pela provação dos séculos, até que tenham aprendido a dar-se por sua vez, isto é, a dedicar-se, a sacrificar-se pelas outras. Com esse sacrifício, em vez de se amesquinharem, mais se engrandecem, enobrecem e aproximam do foco supremo.

Continua Léon Denis:

“O amor é uma força inexaurível, renova-se sem cessar e enriquece ao mesmo tempo aquele que dá e aquele que recebe. É pelo amor, sol das almas, que Deus mais eficazmente atua no mundo. Por ele atrai para si todos os pobres seres retardados nos antros da paixão, os Espíritos cativos na matéria; eleva-os e arrasta-os na espiral da ascensão infinita para os esplendores da luz e da liberdade.

O amor conjugal, o amor materno, o amor filial ou fraterno, o amor da pátria, da raça, da humanidade, são refrações, raios refratados do amor divino, que abrange, penetra todos os seres e, difundindo-se neles, faz rebentar e desabrochar mil formas variadas, mil esplêndidas florescências de amor. Até às profundidades do abismo de vida, infiltram-se as radiações do amor divino e vão acender nos seres rudimentares, pela afeição à companheira e aos filhos, as primeiras claridades que, nesse meio de egoísmo feroz, serão como a aurora indecisa e a promessa de uma vida mais elevada”.

Das formas infinitas, podemos constatar que o verdadeiro amor divino é princípio da vida universal, força inesgotável de renovação, em suas manifestações mais elevadas e puras, raios refratados ligados ao amor e poder divinos, os quais transcende a tudo, desabrochando em mil outras formas variadas de amor, até sublimar no amor que conduz à perfeição.

Deus ofereceu Jesus como o caminho, a verdade e a vida para a Humanidade, o mais perfeito modelo e guia como roteiro de vida, cuja doutrina ensinou a mais pura expressão da lei divina. Ninguém chega ao Pai a não ser por Ele.

O Cristo ensinou a lei maior do amor como um dos pilares a ser conquistado por cada ser humano para novas conquistas evolutivas.

O Mestre disse: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.” (Mateus, 22: 37-40)

Depois de amar a Deus sobre todas as coisas, o amor ao próximo será na mesma intensidade do amor a si mesmo, ou seja, conforme você se ama, ame o seu semelhante. O amor nasce dentro de você para, posteriormente, irradiá-lo ao redor junto aos seus semelhantes.

O Mestre disse mais: “Amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem e caluniam, a fim de serdes filhos do vosso Pai que está nos céus e que faz se levante o Sol para os bons e para os maus e que chova sobre os justos e os injustos”. (Mateus, 5: 43-45)

Para tanto, Jesus apontou o caminho para a pacificação: “reconciliai-vos o mais depressa possível com o vosso adversário, enquanto estais com ele a caminho, para que ele não vos entregue ao juiz, o juiz não vos entregue ao ministro da justiça e não sejais metido em prisão. Digo-vos, em verdade, que daí não saireis, enquanto não houverdes pago o último ceitil”. (Mateus, 5: 25-26)

Em amar os inimigos, em fazer o bem aos que nos odeiam, em orar pelos que nos perseguem, tem-se a lei sublime do amor, essência da perfeição, porquanto esse tipo de amor passa pelo perdão e pela caridade para pacificar as almas em conflito. A afetividade cria laços de amor, paz e fraternidade. Com o desafeto, criam-se algemas de ódio, ressentimento, vingança e perseguição. Essas algemas, não raro, prendem as pessoas em processos obsessivos.

Diante do martírio na cruz, Cristo perdoou a Humanidade e os seus algozes, dizendo: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lucas 23: 34). Pelo exemplo, ratificava ensino anterior: “Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai Celeste vos perdoará; se, porém, não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas” (Mateus, 6: 14-15).

Do amor ao próximo até amar os inimigos, mede-se a evolução moral e espiritual do ser humano na busca da perfeição. Por isso, Jesus, depois de haver dado a seus discípulos suas regras, disse: “sede perfeitos, como perfeito é vosso Pai celestial”.

Jesus demonstrou como devemos agir para melhorar o relacionamento entre pessoas, enfatizando a prática do perdão, do amor aos inimigos e do auxílio aos semelhantes.

Se amar o próximo constitui o princípio da caridade, amar os inimigos é a mais sublime aplicação desse princípio, porquanto a posse de tal virtude representa uma das maiores vitórias alcançadas contra o egoísmo e o orgulho.

Em outra passagem, Jesus disse: “Eu lhes dou este novo mandamento: amem uns aos outros. Assim como eu os amei, amem também uns aos outros. Se tiverem amor uns pelos outros, todos saberão que vocês são meus discípulos”. (João, 13: 34-35)

O chamamento do Cristo conduz a buscar o seu exemplo de amar, ordenando ir uns aos outros, amando-se mutuamente. Amando como Ele amou, seremos considerados seus discípulos.

Nesse sentido, o verdadeiro amor relaciona-se à grande família unida por laços espirituais, no contexto da fraternidade e do amor universais, que vai além das condições biológicas definidas pela herança genética. A família espiritual é unida pela afeição, simpatia e semelhança das inclinações, felizes por estarem juntos.

À medida que o ser humano ascende na escala evolutiva, absorve valores espirituais que lhe permite estender o seu olhar para além do seu núcleo familiar. Consegue, então, localizar Espíritos afins situados fora da sua família.

Com esse reconhecimento, iniciam-se as ligações fraternas com diferentes grupos, os quais, no futuro, se organizarão em aldeias, cidades e nações. Nessa direção, é desenvolvida a noção de família universal, ou de Humanidade destinada a se unir pelos laços de fraternidade universal.

Para a ação de amor divino, não há qualquer restrição ou limitação de tempo e espaço, em tudo penetrando, mudando e transformando para a harmonia do Universo. O verdadeiro amor renova as almas, faz evoluir moral e espiritualmente, proporcionando a cura para os males do Espírito.

Devemos doar amor em abundância, todos os dias, como se fosse a primeira vez, conquistar e reconquistar a si mesmo e o seu semelhante, como oportunidade de renovação e regeneração do Espírito tocado pelo amor.

Dê a sua mão para quem precisa, ajudando-o a se erguer ou reerguer das quedas da vida, transmitindo-lhe fé, confiança, esperança, coragem e consolo para seguir em frente no caminho da verdade e da vida em direção ao Pai.

Perdoe as suas ofensas. Seja indulgente. Angarie amigos. Retribua o mal com o bem. Seja bondoso, justo, piedoso e misericordioso, assim como é o nosso Pai.

Mantenha a confiança e a fé em Deus e no Mestre Jesus, pois no mundo teremos tribulações, mas precisamos caminhar juntos com bom ânimo para superar as provas e as expiações decorrentes das nossas próprias faltas e dos erros do passado, para edificar a futura morada em alicerces perenes que sustentarão a evolução em direção à perfeição a que todos nós somos destinados.

Ame a você mesmo e ao seu próximo todos os dias, sem qualquer restrição. Afaste o egoísmo, o orgulho, o ódio, a raiva, o ressentimento e todos os sentimentos inferiores que atrasam o progresso, em ação de limpeza moral e espiritual do seu coração. Busque mais empatia, solidariedade, piedade e caridade, afastando o egoísmo, o orgulho, a vaidade e a indiferença.

Em uma ação magnética amorosa fraterna universal, atraindo o bem e repelindo o mal, confiando em Deus e no Mestre Jesus, poderemos mudar situações difíceis que se aproveitam das nossas fraquezas e vulnerabilidades, pois temos as potências da alma para melhorarmos e evoluirmos para desenvolver o potencial de amar e suportar a dor e o sofrimento nas nossas existências.

Amar na plenitude é ver em qualquer pessoa um filho de Deus, um irmão em processo de evolução, sujeito a enganos, erros e omissões, mas, perfectível, sendo necessário enviar-lhe vibrações de harmonia, paz e caridade.

Esse é o amor, sublime amor!


Bibliografia:

ÂNGELIS, Joanna de (Espírito); na psicografia de Divaldo Pereira Franco. Garimpo de amor.  6ª Edição. Salvador/BA: Editora Leal, 2015.

ÂNGELIS, Joanna de (Espírito); na psicografia de Divaldo Pereira Franco. Amor imbatível amor.  18ª Edição. Salvador/BA: Editora Leal, 2021.

ÂNGELIS, Joanna de (Espírito); na psicografia de Divaldo Pereira Franco. Tesouros libertadores.  1ª Edição. Salvador/BA: Editora Leal, 2016.

BÍBLIA SAGRADA.

DENIS, León. O problema do ser, do destino e da dor. 32ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2017.

KARDEC, Allan; tradução de Evandro Noleto Bezerra. A Gênese. 2ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2013.

KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Livro dos Espíritos. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.              

 

 

     
     

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 Revista Semanal de Divulgação Espírita