Amor, sublime amor
A palavra amor pode significar: sentimento afetivo;
forte afeição por outra pessoa; sentimento de afeto que
faz com que uma pessoa queira estar com outra;
sentimento de devoção direcionado a alguém ou ente
abstrato; adoração; paixão; atração baseada no desejo
sexual; ou, religiosamente, amor a Deus e ao próximo.
Podemos, ainda, levantar outras nuances de amor:
egoísta, possessivo, asfixiante, platônico, de édipo,
virtual, filial, maternal, paternal, prazeroso, dentre
tantas variantes.
Os gregos reconheciam vários tipos de amor com
significados específicos, como de: amor-próprio;
narcisismo ou autoestima; amor pragmático, em favor de
uniões arranjadas; amor prazeroso; amor por romance,
paixão ou desejo; amor pelos irmãos, parentes ou amigos;
amor devotado a entes familiares; e amor incondicional
de sentido universal.
Allan Kardec, depois da
resposta à letra “a” da questão 938, em O Livro dos
Espíritos, comenta: “A
Natureza deu ao homem a necessidade de amar e de ser
amado. Um dos maiores gozos que lhe são concedidos na
Terra é o de encontrar corações que com o seu
simpatizem. Dá-lhe ela, assim, as primícias da
felicidade que o aguarda no mundo dos Espíritos
perfeitos, onde tudo é amor e benignidade. Desse gozo
está excluído o egoísta.”
Ao complementar a
resposta da questão 980, em O Livro dos Espíritos,
acerca do laço de simpatia que une os Espíritos da mesma
ordem como fonte de felicidade, Kardec comenta: “Das
primícias dessa felicidade goza o homem na Terra, quando
se lhe deparam almas com as quais pode confundir-se numa
união pura e santa. Em uma vida mais purificada,
inefável e ilimitado será esse gozo, pois aí ele só
encontrará almas simpáticas, que o egoísmo não tornará
frias. Porque, em a Natureza, tudo é amor: o egoísmo é
que o mata.”
Pelos comentários de Kardec, amar é lei da Natureza e
amor é atributo inseparável da vida do ser humano que,
independentemente do seu sentido, todos os seres amam.
Se amar é lei da Natureza, esse sentimento provém de
Deus, como expressa a Primeira Epístola de João: “Amados,
amemo-nos uns aos outros, pois o amor vem de Deus e todo
aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus. Aquele
que não ama não conheceu a Deus, porque Deus é amor.” (1
João, 4: 7-8)
João afirma que Deus é amor e a capacidade de amar
revela a origem divina do ser humano, e quanto mais
desenvolvida for essa capacidade mais evoluído é o
Espírito.
Nesse sentido, Léon Denis, no livro O problema do
ser, do destino e da dor, define:
“O amor, como comumente se entende na Terra, é um
sentimento, um impulso do ser, que o leva para outro ser
com o desejo de unir-se a ele. Mas, na realidade, o amor
reveste formas infinitas, desde as mais vulgares até as
mais sublimes. Princípio da vida universal, proporciona
à alma, em suas manifestações mais elevadas e puras, a
intensidade de radiação que aquece e vivifica tudo em
volta de si; é por ele que ela se sente estreitamente
ligada ao poder divino, foco ardente de toda a vida, de
todo o amor.
Acima de tudo, Deus é amor. Por amor, criou os seres
para associá-los às suas alegrias, à sua obra. O amor é
um sacrifício; Deus hauriu nele a vida para dá-la às
almas. Ao mesmo tempo que a efusão vital, elas
receberiam o princípio afetivo destinado a germinar e
expandir-se pela provação dos séculos, até que tenham
aprendido a dar-se por sua vez, isto é, a dedicar-se, a
sacrificar-se pelas outras. Com esse sacrifício, em vez
de se amesquinharem, mais se engrandecem, enobrecem e
aproximam do foco supremo.
Continua Léon Denis:
“O amor é uma força inexaurível, renova-se sem cessar e
enriquece ao mesmo tempo aquele que dá e aquele que
recebe. É pelo amor, sol das almas, que Deus mais
eficazmente atua no mundo. Por ele atrai para si todos
os pobres seres retardados nos antros da paixão, os
Espíritos cativos na matéria; eleva-os e arrasta-os na
espiral da ascensão infinita para os esplendores da luz
e da liberdade.
O amor conjugal, o amor materno, o amor filial ou
fraterno, o amor da pátria, da raça, da humanidade, são
refrações, raios refratados do amor divino, que abrange,
penetra todos os seres e, difundindo-se neles, faz
rebentar e desabrochar mil formas variadas, mil
esplêndidas florescências de amor. Até às profundidades
do abismo de vida, infiltram-se as radiações do amor
divino e vão acender nos seres rudimentares, pela
afeição à companheira e aos filhos, as primeiras
claridades que, nesse meio de egoísmo feroz, serão como
a aurora indecisa e a promessa de uma vida mais
elevada”.
Das formas infinitas, podemos constatar que o verdadeiro
amor divino é princípio da vida universal, força
inesgotável de renovação, em suas manifestações mais
elevadas e puras, raios refratados ligados ao amor e
poder divinos, os quais transcende a tudo, desabrochando
em mil outras formas variadas de amor, até sublimar no
amor que conduz à perfeição.
Deus ofereceu Jesus como o caminho, a verdade e a vida
para a Humanidade, o mais perfeito modelo e guia como
roteiro de vida, cuja doutrina ensinou a mais pura
expressão da lei divina. Ninguém chega ao Pai a não ser
por Ele.
O Cristo ensinou a lei maior do amor como um dos pilares
a ser conquistado por cada ser humano para novas
conquistas evolutivas.
O Mestre disse: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o
teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu
pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o
segundo, semelhante a este, é: amarás o teu próximo como
a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei
e os profetas.” (Mateus, 22: 37-40)
Depois de amar a Deus sobre todas as coisas, o amor ao
próximo será na mesma intensidade do amor a si mesmo, ou
seja, conforme você se ama, ame o seu semelhante. O amor
nasce dentro de você para, posteriormente, irradiá-lo ao
redor junto aos seus semelhantes.
O Mestre disse mais: “Amai
os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam e
orai pelos que vos perseguem e caluniam, a fim de serdes
filhos do vosso Pai que está nos céus e que faz se
levante o Sol para os bons e para os maus e que chova
sobre os justos e os injustos”.
(Mateus, 5: 43-45)
Para tanto, Jesus apontou o caminho para a pacificação: “reconciliai-vos
o mais depressa possível com o vosso adversário,
enquanto estais com ele a caminho, para que ele não vos
entregue ao juiz, o juiz não vos entregue ao ministro da
justiça e não sejais metido em prisão. Digo-vos, em
verdade, que daí não saireis, enquanto não houverdes
pago o último ceitil”. (Mateus, 5: 25-26)
Em amar os inimigos, em fazer o bem aos que nos odeiam,
em orar pelos que nos perseguem, tem-se a lei sublime do
amor, essência da perfeição, porquanto esse tipo de amor
passa pelo perdão e pela caridade para pacificar as
almas em conflito. A afetividade cria laços de amor, paz
e fraternidade. Com o desafeto, criam-se algemas de
ódio, ressentimento, vingança e perseguição. Essas
algemas, não raro, prendem as pessoas em processos
obsessivos.
Diante do martírio na cruz, Cristo perdoou a Humanidade
e os seus algozes, dizendo: “Pai, perdoa-lhes, porque
não sabem o que fazem” (Lucas 23: 34). Pelo exemplo,
ratificava ensino anterior: “Porque, se perdoardes
aos homens as suas ofensas, também vosso Pai Celeste vos
perdoará; se, porém, não perdoardes aos homens, tampouco
vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas” (Mateus,
6: 14-15).
Do amor ao próximo até amar os inimigos, mede-se a
evolução moral e espiritual do ser humano na busca da
perfeição. Por isso, Jesus, depois de haver dado a seus
discípulos suas regras, disse: “sede perfeitos, como
perfeito é vosso Pai celestial”.
Jesus demonstrou como devemos agir para melhorar o
relacionamento entre pessoas, enfatizando a prática do
perdão, do amor aos inimigos e do auxílio aos
semelhantes.
Se amar o próximo constitui o princípio da caridade,
amar os inimigos é a mais sublime aplicação desse
princípio, porquanto a posse de tal virtude representa
uma das maiores vitórias alcançadas contra o egoísmo e o
orgulho.
Em outra passagem, Jesus disse: “Eu lhes dou este
novo mandamento: amem uns aos outros. Assim como eu os
amei, amem também uns aos outros. Se tiverem amor uns
pelos outros, todos saberão que vocês são meus
discípulos”. (João, 13: 34-35)
O chamamento do Cristo conduz a buscar o seu exemplo de
amar, ordenando ir uns aos outros, amando-se mutuamente.
Amando como Ele amou, seremos considerados seus
discípulos.
Nesse sentido, o verdadeiro amor relaciona-se à grande
família unida por laços espirituais, no contexto da
fraternidade e do amor universais, que vai além das
condições biológicas definidas pela herança genética. A
família espiritual é unida pela afeição, simpatia e
semelhança das inclinações, felizes por estarem juntos.
À medida que o ser humano ascende na escala evolutiva,
absorve valores espirituais que lhe permite estender o
seu olhar para além do seu núcleo familiar. Consegue,
então, localizar Espíritos afins situados fora da sua
família.
Com esse reconhecimento, iniciam-se as ligações
fraternas com diferentes grupos, os quais, no futuro, se
organizarão em aldeias, cidades e nações. Nessa direção,
é desenvolvida a noção de família universal, ou de
Humanidade destinada a se unir pelos laços de
fraternidade universal.
Para a ação de amor divino, não há qualquer restrição ou
limitação de tempo e espaço, em tudo penetrando, mudando
e transformando para a harmonia do Universo. O
verdadeiro amor renova as almas, faz evoluir moral e
espiritualmente, proporcionando a cura para os males do
Espírito.
Devemos doar amor em abundância, todos os dias, como se
fosse a primeira vez, conquistar e reconquistar a si
mesmo e o seu semelhante, como oportunidade de renovação
e regeneração do Espírito tocado pelo amor.
Dê a sua mão para quem precisa, ajudando-o a se erguer
ou reerguer das quedas da vida, transmitindo-lhe fé,
confiança, esperança, coragem e consolo para seguir em
frente no caminho da verdade e da vida em direção ao
Pai.
Perdoe as suas ofensas. Seja indulgente. Angarie amigos.
Retribua o mal com o bem. Seja bondoso, justo, piedoso e
misericordioso, assim como é o nosso Pai.
Mantenha a confiança e a fé em Deus e no Mestre Jesus,
pois no mundo teremos tribulações, mas precisamos
caminhar juntos com bom ânimo para superar as provas e
as expiações decorrentes das nossas próprias faltas e
dos erros do passado, para edificar a futura morada em
alicerces perenes que sustentarão a evolução em direção
à perfeição a que todos nós somos destinados.
Ame a você mesmo e ao seu próximo todos os dias, sem
qualquer restrição. Afaste o egoísmo, o orgulho, o ódio,
a raiva, o ressentimento e todos os sentimentos
inferiores que atrasam o progresso, em ação de limpeza
moral e espiritual do seu coração. Busque mais empatia,
solidariedade, piedade e caridade, afastando o egoísmo,
o orgulho, a vaidade e a indiferença.
Em uma ação magnética amorosa fraterna universal,
atraindo o bem e repelindo o mal, confiando em Deus e no
Mestre Jesus, poderemos mudar situações difíceis que se
aproveitam das nossas fraquezas e vulnerabilidades, pois
temos as potências da alma para melhorarmos e evoluirmos
para desenvolver o potencial de amar e suportar a dor e
o sofrimento nas nossas existências.
Amar na plenitude é ver em qualquer pessoa um filho de
Deus, um irmão em processo de evolução, sujeito a
enganos, erros e omissões, mas, perfectível, sendo
necessário enviar-lhe vibrações de harmonia, paz e
caridade.
Esse é o amor, sublime amor!
Bibliografia:
ÂNGELIS, Joanna de (Espírito); na
psicografia de Divaldo Pereira Franco. Garimpo de
amor. 6ª Edição. Salvador/BA: Editora Leal, 2015.
ÂNGELIS, Joanna de (Espírito); na
psicografia de Divaldo Pereira Franco. Amor imbatível
amor. 18ª Edição. Salvador/BA: Editora Leal, 2021.
ÂNGELIS, Joanna de (Espírito); na
psicografia de Divaldo Pereira Franco. Tesouros
libertadores. 1ª Edição. Salvador/BA: Editora Leal,
2016.
BÍBLIA SAGRADA.
DENIS, León. O problema do ser, do
destino e da dor. 32ª Edição. Brasília/DF: Federação
Espírita Brasileira, 2017.
KARDEC, Allan; tradução de Evandro Noleto
Bezerra. A Gênese. 2ª Edição. Brasília/DF:
Federação Espírita Brasileira, 2013.
KARDEC, Allan; tradução de Guillon
Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1ª
Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira,
2019.
KARDEC, Allan; tradução de Guillon
Ribeiro. O Livro dos Espíritos. 1ª Edição.
Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
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