A educação e o homem de bem
A questão 918 de O Livro dos Espíritos traz para
todos nós importante reflexão de ordem educacional,
quando Allan Kardec indaga dos Espíritos como podemos
reconhecer o verdadeiro progresso realizado pelo ser
humano do ponto de vista espiritual, ou seja, quais são
as características desse progresso? Os Espíritos são
claros e objetivos na resposta, que transcrevemos para
facilitar nossa reflexão:
“O Espírito prova a sua elevação quando todos os atos
da sua vida corpórea constituem a prática da lei de Deus
e quando compreende por antecipação a vida espiritual.”
Talvez o leitor pergunte: por que a resposta inicia com
as palavras “O Espírito”, e não “o homem” ou “o ser
humano”? É que todos somos Espíritos, quer estejamos
encarnados ou desencarnados, e não podemos esquecer essa
verdade, tão bem estudada nas suas causas e efeitos pelo
Espiritismo. Assim, considerando que não somos o corpo
físico, mas sim o Espírito ou Alma, eles respondem que a
nossa elevação espiritual está na medida em que
demonstramos, por nossas palavras e atos, o quanto
praticamos a lei divina que, sabemos, está gravada na
nossa consciência. Em outras palavras, quanto mais
fazemos o bem e amamos o próximo, mais elevado
espiritualmente estaremos, e o contrário também é
verdadeiro, quanto menos bem e amor ao próximo, mais
perto do início da jornada evolutiva estaremos.
Na sequência, Kardec publica um comentário muito
importante, desdobrando a resposta dada pelos amigos
espirituais:
“O verdadeiro homem de bem é aquele que pratica a lei
de justiça, de amor e de caridade na sua mais completa
pureza. Se interroga sua consciência sobre os atos
praticados, perguntará se não violou essa lei, se não
cometeu nenhum mal, se fez todo o bem que podia, se
ninguém teve de se queixar dele, enfim, se fez para os
outros tudo o que gostaria que os outros lhe fizessem. O
homem possuído pelo sentimento de caridade e de amor ao
próximo faz o bem pelo bem, sem esperança de recompensa,
e sacrifica o seu interesse pela justiça. Ele é bom,
humano e benevolente para com todos, porque vê irmãos em
todos os homens, sem exceção de raças ou de crenças. Se
Deus lhe deu o poder e a riqueza, olha essas coisas como
um depósito do qual deve usar para o bem, e disso não se
envaidece porque sabe que Deus, que lhos deu, também
poderá retirá-los. Se a ordem social colocou homens sob
a sua dependência, trata-os com bondade e benevolência
porque são iguais perante Deus; usa de sua autoridade
para lhes erguer a moral e não para os esmagar com o seu
orgulho. É indulgente para com as fraquezas dos outros
porque sabe que ele mesmo tem necessidade de indulgência
e se recorda destas palavras do Cristo: "Que aquele que
estiver sem pecado atire a primeira pedra". Não é
vingativo: a exemplo de Jesus, perdoa as ofensas para
não se lembrar senão dos benefícios, porque sabe que lhe
será perdoado assim como tiver perdoado. Respeita,
enfim, nos seus semelhantes, todos os direitos
decorrentes da lei natural, como desejaria que
respeitassem os seus.”
Eis um belo e profundo programa educacional para
trabalharmos com as crianças, na formação das novas
gerações e visando o futuro.
Posteriormente Kardec vai ampliar esse texto,
apresentando-o no capítulo 17 de O Evangelho Segundo
o Espiritismo sob o título O Homem de Bem, mas o que
importa agora é entender o que ele nos traz do ponto de
vista do processo de educação, pois ele não está falando
do homem repleto de conhecimentos, do homem
intelectualizado, do homem portador de diplomas
acadêmicos, e sim do homem (entenda-se o ser humano,
homem ou mulher) de bem, daquele que pratica a lei de
amor, justiça e caridade para com todos.
Vejamos didaticamente o que precisamos fazer para
estarmos cada vez mais moralizados e espiritualizados,
aqui mesmo na Terra, aproveitando a bênção da
reencarnação:
1 – Interrogar diariamente a consciência para saber se
não violamos a lei divina;
2 – Interrogar diariamente a consciência para saber se
fizemos todo o bem que podíamos;
3 – Interrogar a consciência para saber se fizemos aos
outros somente o que desejamos o que os outros nos
façam;
4 – Fazer o bem pelo bem, sem esperar recompensa;
5 – Ser bom, humano e benevolente para com todos;
6 – Não ter vaidade das posses materiais, reconhecendo
que elas pertencem a Deus;
7 – Tratar com bondade e benevolência os colaboradores;
8 – Ser indulgente para com as fraquezas dos outros,
reconhecendo também sermos necessitados de indulgência;
9 – Não ser vingativo, perdoando as ofensas;
10 – Respeitar todos os semelhantes.
É um programa educativo não apenas para nós, adultos,
mas igualmente para as crianças, os Espíritos que
iniciam uma nova jornada existencial, necessitados de
segura orientação moral. Os males sociais decorrem de
termos deixado de lado a aplicação da educação moral,
permitindo o florescimento do egoísmo e do orgulho.
Demos tanta prioridade à educação da inteligência, ao
avanço tecnológico, ao acúmulo de conhecimentos, que
deixamos a formação do caráter em segundo plano, motivo
pelo qual a maldade ainda está presente, inclusive o mal
hediondo.
Somente a educação moral pode transformar a humanidade,
e outra coisa não veio fazer aquele que é a luz deste
mundo: Jesus! Seus ensinos e exemplos, todos de ordem
moral, estão assinalados no Evangelho, que os ensinos
espíritas resgatam em plenitude, traçando um roteiro que
a educação deve aplicar, de geração em geração, formando
homens e mulheres de bem, como também preconiza o
Espiritismo.
O trabalho de educação moral é urgente! Coloquemo-nos em
ação, para que o futuro humano seja mais glorioso!
Marcus De Mario é escritor, educador, palestrante;
coordena o Seara de Luz, grupo on-line de estudo
espírita; edita o canal Orientação Espírita no YouTube;
é editor-chefe da Revista Educação Espírita; produz e
apresenta programas espíritas na internet; possui 39
livros publicados.
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