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por Marcus De Mario

 

A educação e o homem de bem


A questão 918 de O Livro dos Espíritos traz para todos nós importante reflexão de ordem educacional, quando Allan Kardec indaga dos Espíritos como podemos reconhecer o verdadeiro progresso realizado pelo ser humano do ponto de vista espiritual, ou seja, quais são as características desse progresso? Os Espíritos são claros e objetivos na resposta, que transcrevemos para facilitar nossa reflexão:

O Espírito prova a sua elevação quando todos os atos da sua vida corpórea constituem a prática da lei de Deus e quando compreende por antecipação a vida espiritual.

Talvez o leitor pergunte: por que a resposta inicia com as palavras “O Espírito”, e não “o homem” ou “o ser humano”? É que todos somos Espíritos, quer estejamos encarnados ou desencarnados, e não podemos esquecer essa verdade, tão bem estudada nas suas causas e efeitos pelo Espiritismo. Assim, considerando que não somos o corpo físico, mas sim o Espírito ou Alma, eles respondem que a nossa elevação espiritual está na medida em que demonstramos, por nossas palavras e atos, o quanto praticamos a lei divina que, sabemos, está gravada na nossa consciência. Em outras palavras, quanto mais fazemos o bem e amamos o próximo, mais elevado espiritualmente estaremos, e o contrário também é verdadeiro, quanto menos bem e amor ao próximo, mais perto do início da jornada evolutiva estaremos.

Na sequência, Kardec publica um comentário muito importante, desdobrando a resposta dada pelos amigos espirituais:

O verdadeiro homem de bem é aquele que pratica a lei de justiça, de amor e de caridade na sua mais completa pureza. Se interroga sua consciência sobre os atos praticados, perguntará se não violou essa lei, se não cometeu nenhum mal, se fez todo o bem que podia, se ninguém teve de se queixar dele, enfim, se fez para os outros tudo o que gostaria que os outros lhe fizessem. O homem possuído pelo sentimento de caridade e de amor ao próximo faz o bem pelo bem, sem esperança de recompensa, e sacrifica o seu interesse pela justiça. Ele é bom, humano e benevolente para com todos, porque vê irmãos em todos os homens, sem exceção de raças ou de crenças. Se Deus lhe deu o poder e a riqueza, olha essas coisas como um depósito do qual deve usar para o bem, e disso não se envaidece porque sabe que Deus, que lhos deu, também poderá retirá-los. Se a ordem social colocou homens sob a sua dependência, trata-os com bondade e benevolência porque são iguais perante Deus; usa de sua autoridade para lhes erguer a moral e não para os esmagar com o seu orgulho. É indulgente para com as fraquezas dos outros porque sabe que ele mesmo tem necessidade de indulgência e se recorda destas palavras do Cristo: "Que aquele que estiver sem pecado atire a primeira pedra". Não é vingativo: a exemplo de Jesus, perdoa as ofensas para não se lembrar senão dos benefícios, porque sabe que lhe será perdoado assim como tiver perdoado. Respeita, enfim, nos seus semelhantes, todos os direitos decorrentes da lei natural, como desejaria que respeitassem os seus.

Eis um belo e profundo programa educacional para trabalharmos com as crianças, na formação das novas gerações e visando o futuro.

Posteriormente Kardec vai ampliar esse texto, apresentando-o no capítulo 17 de O Evangelho Segundo o Espiritismo sob o título O Homem de Bem, mas o que importa agora é entender o que ele nos traz do ponto de vista do processo de educação, pois ele não está falando do homem repleto de conhecimentos, do homem intelectualizado, do homem portador de diplomas acadêmicos, e sim do homem (entenda-se o ser humano, homem ou mulher) de bem, daquele que pratica a lei de amor, justiça e caridade para com todos.

Vejamos didaticamente o que precisamos fazer para estarmos cada vez mais moralizados e espiritualizados, aqui mesmo na Terra, aproveitando a bênção da reencarnação:

1 – Interrogar diariamente a consciência para saber se não violamos a lei divina;

2 – Interrogar diariamente a consciência para saber se fizemos todo o bem que podíamos;

3 – Interrogar a consciência para saber se fizemos aos outros somente o que desejamos o que os outros nos façam;

4 – Fazer o bem pelo bem, sem esperar recompensa;

5 – Ser bom, humano e benevolente para com todos;

6 – Não ter vaidade das posses materiais, reconhecendo que elas pertencem a Deus;

7 – Tratar com bondade e benevolência os colaboradores;

8 – Ser indulgente para com as fraquezas dos outros, reconhecendo também sermos necessitados de indulgência;

9 – Não ser vingativo, perdoando as ofensas;

10 – Respeitar todos os semelhantes.

É um programa educativo não apenas para nós, adultos, mas igualmente para as crianças, os Espíritos que iniciam uma nova jornada existencial, necessitados de segura orientação moral. Os males sociais decorrem de termos deixado de lado a aplicação da educação moral, permitindo o florescimento do egoísmo e do orgulho. Demos tanta prioridade à educação da inteligência, ao avanço tecnológico, ao acúmulo de conhecimentos, que deixamos a formação do caráter em segundo plano, motivo pelo qual a maldade ainda está presente, inclusive o mal hediondo.

Somente a educação moral pode transformar a humanidade, e outra coisa não veio fazer aquele que é a luz deste mundo: Jesus! Seus ensinos e exemplos, todos de ordem moral, estão assinalados no Evangelho, que os ensinos espíritas resgatam em plenitude, traçando um roteiro que a educação deve aplicar, de geração em geração, formando homens e mulheres de bem, como também preconiza o Espiritismo.

O trabalho de educação moral é urgente! Coloquemo-nos em ação, para que o futuro humano seja mais glorioso!


Marcus De Mario é escritor, educador, palestrante; coordena o Seara de Luz, grupo on-line de estudo espírita; edita o canal Orientação Espírita no YouTube; é editor-chefe da Revista Educação Espírita; produz e apresenta programas espíritas na internet; possui 39 livros publicados.


 
 

     
     

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