O
permeado e o
insulado
É comum em
atividades
espíritas como
estudos, artigos
e palestras se
utilizar de
referências não
espíritas.
Músicas, filmes,
livros são
utilizados como
auxílio
metodológico
para tornar
determinados
conceitos mais
fáceis de serem
compreendidos,
como uma forma
de ter um
Espiritismo que
seja mais
permeável ao
cotidiano, menos
insulado.
Tal abordagem,
no entanto, não
é consensual,
chegando alguns
ao extremo de
não só usar
referências
espíritas, mas
também
recomendar que
fora da casa
espírita, se
consuma, em
termos de
cultura, apenas
o que for
enquadrado como
espírita, o que
a princípio
seria o
produzido pelo
movimento com
esse selo,
digamos assim.
Interessante
discussão e que
provoca
profundas
reflexões. A
primeira é do
que seria
exatamente uma
produção
espírita, se é a
feita no
contexto do
movimento
espírita ou
aquela que se
alinha com os
ideais da
doutrina. Muita
produção
realizada dentro
e fora do campo
religioso
sintoniza com os
ideais da
doutrina
espírita,
algumas não
integralmente, e
o caso mais
comum é quando
ouvimos que
certo filme é
espírita, e ao
assisti-lo,
vemos inúmeros
equívocos
doutrinários.
A segunda é se
devemos ter uma
postura
insulada,
consumindo em
todas as
dimensões
culturais apenas
aquilo que nós
produzimos como
movimento. Uma
postura que se
choca com a
ideia de que o
Espiritismo nos
prepara para o
mundo, para a
rua, o trabalho
e a família, nos
dando elementos
para que sejamos
o melhor de nós
nesses espaços.
Essas discussões
conduzem a visão
que temos da
vivência
espírita e do
seu papel em
nossa vida.
Queremos um
Espiritismo que
nos insule em
uma redoma, ou
que nos prepare
para enfrentar
os desafios do
mundo? Queremos
ter um
pensamento
autônomo e
decidir com
convicção, ou
ficar presos a
eterna
vigilância?
Quando falamos
que o
Espiritismo é
diferente de
outras
denominações, é
pela sua relação
menos
hierárquica,
menos sectária e
mais permeável
em relação a
sociedade. Como
dizia Kardec: “Reconhece-se
o verdadeiro
espírita pela
sua
transformação
moral e pelos
esforços que
emprega para
domar suas
inclinações más”,
e Jesus afirmava
que seus
discípulos serão
reconhecidos por
muito se amarem.
Como ser
reconhecido no
isolamento do
mundo, na bolha
de uma crença. A
necessidade de
se viver no
mundo, com
pessoas de
diversas formas
de pensamento, é
essencial, como
forma de
amadurecimento
espiritual e
desenvolvimento
do nosso
discernimento.
Já vimos esse
insulamento em
outras fases da
história e ele
leva a
consequências
desastrosas.
Às vezes
idolatramos a
pessoa que “vive
no centro”, que
só consome
material como o
“selo espírita”,
e que despreza o
mundo,
decepcionada,
mas que esquece
é que na
vivência
cotidiana é que
está a estrada
da nossa
evolução, e que
o Espiritismo
não é credencial
evolutiva, e sim
ferramenta de
auxílio no
avanço como
espírito.
Viver o mundo,
enfrentar o
mundo, e ver no
mundo, para além
dos portões da
casa espírita,
espaços de
crescimento e
aprendizado. Na
casa espírita
nos
fortalecemos,
aprendemos e
refletimos sobre
os desafios
diários, fora
daquele
microcosmo, para
que sejamos
espíritos
melhores ao
final da
encarnação,
enfrentando as
lutas
cotidianas.
O conhecimento
espírita é essa
lente de que
dispomos como
forma de
interpretar o
mundo, nos
auxiliando nos
processos
decisórios, nos
embates, nos
momentos de
alegria e de
dor. Mas para
funcionar,
precisa ser
permeado pela
realidade, para
que não se
converta em
ilusão pela
interpretação de
almas
aprisionadas.