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por Anselmo Ferreira Vasconcelos

 

O planeta precisa de “homens-seara”


Embora já tenha sido apresentada ao Evangelho redentor de Jesus há mais de 2.000 anos, instrumento celestial que nos aproxima de Deus e que concomitantemente nos dá alicerce e diretrizes para profundas transformações pessoais, a humanidade ainda hesita, preferindo vagar pelas densas sombras existenciais que moldam o mundo hodierno no qual vivemos. Com efeito, os Maiorais da Espiritualidade, quando indagados a respeito da diferença entre o homem contemporâneo e o do tempo de Jesus, deixam entrever que é praticamente inexistente, pois ainda não avançamos moralmente para um patamar de criaturas civilizadas inspiradas pelo amor do Cristo. Definitivamente, falta-nos ainda suficiente inteligência espiritual para fazermos escolhas mais sadias em nossos passos e decisões. E ao optar pela escuridão, entramos e saímos de sucessivas reencarnações com pouco ou nenhum proveito para os nossos Espíritos.

Posto isto, ao analisar o campo da vida, na obra Palavras da Vida Eterna (psicografia de Francisco Cândido Xavier), o ínclito Espírito Emmanuel, ofereceu uma ampla taxonomia das criaturas humanas, metaforicamente calcada na ideia do cultivo do  próprio “solo” no qual expressam os seus pensamentos, valores intrínsecos, feitos e ações na vida, constituída de homens-calhaus, homens-espinheiros, homens-milhafres, homens-parasitas, homens-charcos, homens-furnas, homens-superfícies, homens-obstáculos, homens-venenos, homens-palhas, homens-sorvedouro, homens-erosões e homens-abismos.

A respeitosa entidade não se deteve em definir as características e perfil de cada um dos tipos acima enumerados. Tal tarefa, aliás, seria desnecessária, pois nossa imaginação consegue, sem grande esforço, vislumbrar o que cada um dos tipos listados abarca na vida real. Indo um pouco além, também não teremos dificuldades em encaixar muitas pessoas que nos rodeiam ou influenciam as nossas vidas na citada descrição, pois estão situadas em todos os segmentos da sociedade. O traço comum entre elas, no entanto, é a acentuada imperfeição de que são dotadas, com especial pendor, obviamente, para um ou outro aspecto comportamental.

Talvez a maior diferença entre os que anseiam pela luz e elas seja o fato de que os primeiros pelo menos já se autoexaminam com maior severidade. Dito de outra forma, talvez já sejam agora mais críticos consigo, não disfarçando suas deficiências morais e vibracionais. Já identificam suas mazelas interiores e se dispõem a enfrentá-las com coragem e sem ilusões. Dessa forma, portanto, gradualmente caminham na trilha dos homens-searas, conforme expressão também cunhada pelo referido mentor.

Ou seja, Emmanuel refere-se aos indivíduos “... que reunindo consigo o solo produtivo do caráter reto, a água pura dos sentimentos nobres, o adubo da abnegação, a charrua do esforço próprio e o suor do trabalho constante, sabem albergar as sementes divinas do conhecimento superior, produzindo as colheitas do bem para os semelhantes”.

Posto isso, ele aconselha-nos a prestar atenção na vasta paisagem que nos circunda, e através da meditação conseguiremos reconhecer, sem dificuldade, que tipo de terreno estamos sendo nós. Tal conselho é muito bem-vindo, considerando que grande parte da humanidade não é afeita ao imperativo do autoexame. Creio que todos temos consciência dos defeitos alheios, mas, não raro, tratamos os nossos com excessiva complacência, não enfrentando-os decisivamente. Certamente há, na esmagadora maioria de nós, o desejo compreensível de viver em paz e em harmonia. Assim sendo, a hora atual requer o labor intenso dos “homens-seara”, como nos tempos do Cristo, para enfrentar as crenças obtusas, as ideias estapafúrdias, os valores mesquinhos e a impiedade que ainda grassam em nosso mundo.  
 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita