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por Juan Carlos Orozco

 

Por que ainda não conseguimos praticar o amor ensinado por Jesus?


Muitos religiosos cristãos frequentam celebrações, conhecem textos evangélicos, compreendem suas interpretações e rezam com fé.

No entanto, alguns encontram dificuldades em praticar o amor ensinado e exemplificado por Jesus.

Outros chegam até a agir com comportamentos contrários aos princípios cristãos, trilhando caminhos opostos à lei maior do amor.

Há aqueles, também, que somente valorizam aspectos e ritos exteriores, como ocorria com as hipocrisias de escribas, fariseus e lideranças religiosas na época do Cristo.

Diante das hipocrisias, Jesus disse: “Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há de odiar um e amar o outro ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom.” (Mateus, 6: 24)

Não podemos conciliar dois comportamentos contraditórios: servir a Deus e ao jugo dos sentimentos inferiores com apego aos bens materiais da Terra.

Praticar essas ações opostas seria como se existissem duas pessoas dentro de você, exteriorizando personalidades que refletem a luta do bem contra o mal no próprio íntimo.

São pessoas que servem a dois senhores, em que um dos lados falará mais alto, motivando condutas ambíguas, controversas e incoerentes.

Na vida, o ser humano depara-se com inúmeras experiências, fatos e eventualidades que testam, como provas, sentimentos, emoções, respostas, escolhas e decisões, cujos efeitos e consequências são das mais variadas.

Em alguns momentos, conseguimos identificar emoções, fatos e circunstâncias que encaminham para o bem e podem ser aproveitadas como lições valiosas. Identificando o bem, emerge a necessidade de melhorar para evitar as fontes de amarguras.

No sentido oposto, o outro lado interior valoriza bens materiais, paixões e ilusões que fascinam, arrastando o ser para sentimentos inferiores escravizantes com desarmonias morais e espirituais, que provocam quedas.

Como remédio a esses conflitos da alma, Jesus disse: E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertarás” (João, 8: 32). Assim, a verdade divina liberta a alma para a prática do verdadeiro amor.

No entanto, há equívoco de interpretação da palavra “verdade”, em que a pessoa julga ser a dela e não a de Deus, que é eterna, imutável e infinita.

Outro equívoco está em “libertarás”, cujo sentido não pode ser literal e isolado dos demais ensinamentos do Cristo. A libertação do Mestre Jesus é direcionada para a aquisição de atributos e valores morais e espirituais: tesouros celestiais que se alojam no coração.

A verdade divina resume-se na lei maior do amor, no amor fraterno universal ensinado e exemplificado pelo Mestre, que não deixa dúvida de interpretação na ação a ser realizada por nós: amar a Deus, a si mesmo e ao próximo em toda a sua plenitude.

O Espírito Emmanuel, em “Amor e verdade”, sintetiza: “A Verdade é Luz. Entretanto, o Amor é a própria Vida.”

Emmanuel coloca luz da verdade e prática do amor como essenciais para empreender caminhadas sublimes, resumindo nossas tarefas na busca da perfeição, tendo Jesus como modelo, guia e roteiro de vida.

Verdades divinas iluminam a alma e purificam o coração, conduzindo para o caminho do bem, mas é a prática do verdadeiro amor que impulsionará o Espírito para a felicidade da vida eterna.

Então, por que ainda não conseguimos praticar o amor ensinado por Jesus?

Uma das razões poderia ser: mais fácil praticar ensinamentos da Ciência do que praticar ensinamentos morais, porque este último exige o esforço de enfrentar você mesmo para mudar o comportamento.

É a dificuldade de conduzir a luta íntima contra as próprias imperfeições, mediante ações de autodescobrimento, autoconhecimento, força de vontade, conscientização de si mesmo, coragem, uso correto do livre-arbítrio, disciplina, perseverança, vigilância, paciência, equilíbrio e assumir responsabilidades.

Consciência moral decorre da estruturação do mundo moral no íntimo de cada ser.

Caracteriza alguém que considera o sentido da vida dentro de um contexto maior e transcendente. Não se resume às necessidades imediatas de sobrevivência.

A prática do ensinamento moral, livre e consciente, evidencia a internalização do aprendizado com compromisso e responsabilidade.

Para vencer o obstáculo de não praticar o verdadeiro amor, é preciso despertar da hibernação dos valores admiráveis da sua imortalidade para uma reforma íntima, tornando-se mais conscientes de si mesmo e dos recursos latentes à disposição para libertar-se dos sentimentos inferiores contrários às leis de Deus, em razão da própria evolução.

Dominados pelo materialismo reinante, damos abrigo ao egoísmo, ao orgulho, à soberba, à vaidade, ao ódio e ao ressentimento, dentre outros sentimentos inferiores, que mostram a pequenez espiritual em que vivemos, ludibriando-nos na posse de bens materiais e no prazer da riqueza e do poder, tendo como roteiro de vida o “eu”.

Não adianta conhecer a verdade divina se não a praticar com caridade.

“... a fé, se não se traduzir em obras, é morta em si mesma” (Tiago, 2:17).

A libertação pela verdade é longo processo pelo trabalho incessante na prática do puro amor, sem esperar retribuição, reconhecimento ou gratidão.

É o amor pelo amor, que perdoa sem impor condições, tem piedade e misericórdia, não é egoísta e tampouco orgulhoso.

É preciso retirar os obstáculos que impedem a marcha do amor, afastando os sentimentos inferiores remanescentes no inconsciente profundo.

Conscientizar-se do que é, o que necessita fazer e como conseguir o êxito.

Praticar o amor ensinado por Jesus é decorrente de intenso esforço, trabalho, amadurecimento e despertamento da própria consciência, apoiando-se nas experiências vividas que formam a personalidade, criando hábitos, comportamentos e aspirações pelo que se deseja conseguir, enfrentando os desafios até que se estabeleçam as condições para uma nova realidade: a prática do amor com caridade.

O Espírito Emmanuel, no livro Pão Nosso, no Capítulo 16, em “A quem obedeces?”, ensina: “Toda criatura obedece a alguém ou a alguma coisa. (...) O discípulo necessita examinar atentamente o campo em que desenvolve a própria tarefa. A quem obedeces? Acaso, atendes, em primeiro lugar, às vaidades humanas ou às opiniões alheias, antes de observares o conselho do Mestre Divino? É justo refletir sempre, quanto a isso, porque somente quando atendemos, em tudo, aos ensinamentos vivos de Jesus, é que podemos quebrar a escravidão do mundo em favor da libertação eterna.”

Aquele que abre a porta para Jesus e segue suas pegadas caminha para conquistar o reino de Deus dentro de si mesmo.

A edificação do reino divino será decorrente do uso correto do livre arbítrio nas escolhas pelo caminho da verdade, do constante aprimoramento, do indispensável esforço e pela prática dos ensinamentos do Cristo que produz bons frutos.

As vozes do mundo espiritual conclamam os trabalhadores do bem à perseverança, à vigilância e à oração para neutralizar as incursões do mal.

É preciso não ser envolvido e enganado pelos falsos profetas e hipócritas, porque, submetido ao peso das provações, estaremos mais expostos e fragilizados.

Procure vencer a luta dentro de si mesmo, para que prevaleça o caminho do bem em sua vida.

A vinda de Jesus estabeleceu nova ordem de evolução para a Humanidade, alicerçada na lei maior do amor, que desperta, ilumina e liberta a todos que a vivenciam em sua plenitude.

O legado do Cristo é mensagem de amor consubstanciada no seu Evangelho. Desta forma, torna-se necessário seguir suas orientações como roteiro de vida na busca da felicidade prometida.

A marcha evolutiva revela que, por força dos aprendizados moral e espiritual, quanto mais iluminados pelas verdades divinas, praticando-as, mais desfrutaremos do progresso.

Assim, o discípulo de Jesus deve vivenciar plenamente o seu Evangelho, ainda que sob o peso da dor, dos sofrimentos e dos sacrifícios impostos pelas provas e expiações que assolam o Espírito, pois tudo isso é lição e aprendizado no caminho da verdade e da vida eterna em direção ao Pai.

 

Bibliografia:

BÍBLIA SAGRADA.

KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

EMMANUEL (Espírito); psicografado por Francisco Cândido Xavier. Pão nosso. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2018.

EMMANUEL (Espírito); na psicografia de Francisco Cândido Xavier. Verdade e amor. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2015.

SAYÃO, Antônio Luiz. Elucidações evangélicas à luz da Doutrina Espírita. 16ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita