Espiritismo: muito além de uma religião
É comum ouvirmos a pergunta “qual é a sua religião?”,
ouvindo como resposta “sou espírita”. Com essa
informação, logo é perguntado qual é o centro espírita
que a pessoa frequenta, ou, caso haja confusão entre o
que é e o que não é o Espiritismo, pergunta-se se a
pessoa frequenta um centro de mesa branca ou outro, em
referência aos cultos afros como a Umbanda e o
Candomblé. Ao esclarecimento que a “linha” seguida é
Kardec, logo vem a exclamação “ah, você é kardecista!”.
Tudo isso é muito comum, mas totalmente equivocado,
totalmente errôneo.
O Espiritismo, para começo de conversa, não é
simplesmente uma religião, não tem identificação com o
catolicismo, o protestantismo, que aqui nas terras
brasileiras é conhecido pela denominação de movimento
evangélico, ou com os cultos afros, todos merecedores do
nosso mais profundo respeito, pois o Espiritismo, antes
de ser religião, é uma filosofia com bases científicas.
Entenda-se que o Espiritismo não é uma religião formal,
ou seja, ele não possui dogmas, nem rituais, nem
sacramentos, nem sacerdócio organizado; não utiliza
imagens, incensos, paramentos, vestes especiais; não
possui altares, nem símbolos especiais, nem culto a quem
quer que seja. O Espiritismo é uma religião em espírito
e verdade, que resgata o Evangelho através do estudo dos
ensinos morais de Jesus, utilizando os princípios da
imortalidade da alma, da reencarnação e da lei divina de
progresso. Desse ponto de vista, podemos afirmar que o
Espiritismo é uma religião pelas consequências morais de
seus princípios, mas, entenda-se bem, não é uma religião
formal.
O centro espírita, portanto, não pode ser comparado ou
equiparado a uma igreja, pois nada tem a ver com isso. O
centro espírita é um núcleo de fraternidade e
solidariedade, onde devem reinar a simplicidade e a
humildade, propiciando aos adeptos do Espiritismo um
lugar de estudo, melhora íntima, intercâmbio com os
desencarnados e prática da caridade. Tudo sem nenhum
tipo de ritual ou qualquer formalismo, o que não quer
dizer que não haja organização e disciplina, sempre
necessárias para os bons resultados de uma boa obra.
O Espiritismo ou Doutrina Espírita é um só, não existem
“linhas”, ou seja, não existe espiritismo de mesa
branca, espiritismo kardecista, espiritismo de umbanda,
kardecismo e vai por aí. Não, nada disso existe. Existe
apenas o Espiritismo, como o encontramos muito bem
estabelecido nas obras assinadas por Allan Kardec, e que
trazem, organizados, os ensinos dos Espíritos.
A verdadeira religião do espírita é o amor ao próximo e
a prática da caridade a todos. A diferença é que o
espírita crê na vida depois da morte; entende a
soberania dos desígnios de Deus; sabe que desencarnados
e encarnados estão em intercâmbio constante; compreende
os mecanismos da lei de causa e efeito; sanciona a
reencarnação como instrumento de evolução. O verdadeiro
espírita procura sublimar-se, no sentido de desenvolver
o sentimento e realizar seu aperfeiçoamento moral.
O espírita, para ser adepto do Espiritismo, não precisa,
necessariamente, estar vinculado a um centro espírita.
Reconhecemos a importância do centro espírita, sua
utilidade, mas não existe nenhum dispositivo, nenhuma
regra que diga que para ser espírita deve a pessoa
vincular-se a um centro espírita, o que é feito
voluntariamente, de livre vontade.
Na conclusão da obra O Livro dos Espíritos, em
seu item seis, Allan Kardec afirma que “seria fazer
uma ideia bem falsa do Espiritismo acreditar que a sua
força decorre da prática das manifestações materiais (…)
Sua força está na sua filosofia, no apelo que faz à
razão e ao bom senso”.
O Espiritismo é uma ciência que estuda a vida depois da
morte e o intercâmbio entre os desencarnados e os
encarnados; dessa ciência emerge toda uma filosofia que
nos remete a novas ideias sobre a vida; e dessa
filosofia temos consequências morais amplas e profundas,
com base no Evangelho, compreendido em espírito e
verdade. Portanto, faz uma ideia muito falsa do
Espiritismo quem acredita que ele é apenas uma religião.
E quanto às confusões que se fazem sobre a doutrina,
decorrem, na maioria das vezes, da ignorância dos seus
princípios, pois muitas pessoas falam do que não
conhecem, repetindo o que outros, com pouco ou menos
conhecimento, falaram. Aos verdadeiros espíritas compete
a missão de esclarecer o que é, verdadeiramente o
Espiritismo, e é precisamente o que estamos fazendo.
Como estamos elucidando, existe apenas o Espiritismo, e
para conhecê-lo é necessário ler e estudar as obras de
Allan Kardec, assim procedendo não faremos mais confusão
e deixaremos de utilizar qualquer adjetivo para designar
o Espiritismo ou Doutrina Espírita.
Como espírita, respeitamos todas as crenças e todas as
religiões que promovem o bem, e somos a favor das
manifestações ecumênicas, do ecumenismo, pois as
religiões devem se dar as mãos quando se trata de
promover a solidariedade, a fraternidade, a paz, a não
violência e a caridade, reunindo espíritas, católicos,
evangélicos, umbandistas, judeus, islâmicos e outros
para o bem comum, mas compreendemos que essa reunião de
esforços não significa misturar as crenças, nem
confundi-las.
O Espiritismo é o Espiritismo, e nada tem a ver com os
cultos afros, sendo que o kardecismo não existe, pois
Allan Kardec nunca criou por ele mesmo uma ciência, uma
filosofia ou uma religião, visto que os ensinos provêm
dos Espíritos, ensinos esses que ele estudou, organizou,
deduziu suas consequências e publicou; assim, ele não
pode ser considerado criador, fundador ou chefe do
Espiritismo.
Marcus De Mario é escritor, educador, palestrante;
coordena o Seara de Luz, grupo on-line de estudo
espírita; edita o canal Orientação Espírita no YouTube;
é editor-chefe da Revista Educação Espírita; produz e
apresenta programas espíritas na internet; possui 40
livros publicados.
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