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por Marcus De Mario

Espiritismo: muito além de uma religião


É comum ouvirmos a pergunta “qual é a sua religião?”, ouvindo como resposta “sou espírita”. Com essa informação, logo é perguntado qual é o centro espírita que a pessoa frequenta, ou, caso haja confusão entre o que é e o que não é o Espiritismo, pergunta-se se a pessoa frequenta um centro de mesa branca ou outro, em referência aos cultos afros como a Umbanda e o Candomblé. Ao esclarecimento que a “linha” seguida é Kardec, logo vem a exclamação “ah, você é kardecista!”. Tudo isso é muito comum, mas totalmente equivocado, totalmente errôneo.

O Espiritismo, para começo de conversa, não é simplesmente uma religião, não tem identificação com o catolicismo, o protestantismo, que aqui nas terras brasileiras é conhecido pela denominação de movimento evangélico, ou com os cultos afros, todos merecedores do nosso mais profundo respeito, pois o Espiritismo, antes de ser religião, é uma filosofia com bases científicas.

Entenda-se que o Espiritismo não é uma religião formal, ou seja, ele não possui dogmas, nem rituais, nem sacramentos, nem sacerdócio organizado; não utiliza imagens, incensos, paramentos, vestes especiais; não possui altares, nem símbolos especiais, nem culto a quem quer que seja. O Espiritismo é uma religião em espírito e verdade, que resgata o Evangelho através do estudo dos ensinos morais de Jesus, utilizando os princípios da imortalidade da alma, da reencarnação e da lei divina de progresso. Desse ponto de vista, podemos afirmar que o Espiritismo é uma religião pelas consequências morais de seus princípios, mas, entenda-se bem, não é uma religião formal.

O centro espírita, portanto, não pode ser comparado ou equiparado a uma igreja, pois nada tem a ver com isso. O centro espírita é um núcleo de fraternidade e solidariedade, onde devem reinar a simplicidade e a humildade, propiciando aos adeptos do Espiritismo um lugar de estudo, melhora íntima, intercâmbio com os desencarnados e prática da caridade. Tudo sem nenhum tipo de ritual ou qualquer formalismo, o que não quer dizer que não haja organização e disciplina, sempre necessárias para os bons resultados de uma boa obra.

O Espiritismo ou Doutrina Espírita é um só, não existem “linhas”, ou seja, não existe espiritismo de mesa branca, espiritismo kardecista, espiritismo de umbanda, kardecismo e vai por aí. Não, nada disso existe. Existe apenas o Espiritismo, como o encontramos muito bem estabelecido nas obras assinadas por Allan Kardec, e que trazem, organizados, os ensinos dos Espíritos.

A verdadeira religião do espírita é o amor ao próximo e a prática da caridade a todos. A diferença é que o espírita crê na vida depois da morte; entende a soberania dos desígnios de Deus; sabe que desencarnados e encarnados estão em intercâmbio constante; compreende os mecanismos da lei de causa e efeito; sanciona a reencarnação como instrumento de evolução. O verdadeiro espírita procura sublimar-se, no sentido de desenvolver o sentimento e realizar seu aperfeiçoamento moral.

O espírita, para ser adepto do Espiritismo, não precisa, necessariamente, estar vinculado a um centro espírita. Reconhecemos a importância do centro espírita, sua utilidade, mas não existe nenhum dispositivo, nenhuma regra que diga que para ser espírita deve a pessoa vincular-se a um centro espírita, o que é feito voluntariamente, de livre vontade.

Na conclusão da obra O Livro dos Espíritos, em seu item seis, Allan Kardec afirma que “seria fazer uma ideia bem falsa do Espiritismo acreditar que a sua força decorre da prática das manifestações materiais (…) Sua força está na sua filosofia, no apelo que faz à razão e ao bom senso”.

O Espiritismo é uma ciência que estuda a vida depois da morte e o intercâmbio entre os desencarnados e os encarnados; dessa ciência emerge toda uma filosofia que nos remete a novas ideias sobre a vida; e dessa filosofia temos consequências morais amplas e profundas, com base no Evangelho, compreendido em espírito e verdade. Portanto, faz uma ideia muito falsa do Espiritismo quem acredita que ele é apenas uma religião. E quanto às confusões que se fazem sobre a doutrina, decorrem, na maioria das vezes, da ignorância dos seus princípios, pois muitas pessoas falam do que não conhecem, repetindo o que outros, com pouco ou menos conhecimento, falaram. Aos verdadeiros espíritas compete a missão de esclarecer o que é, verdadeiramente o Espiritismo, e é precisamente o que estamos fazendo.

Como estamos elucidando, existe apenas o Espiritismo, e para conhecê-lo é necessário ler e estudar as obras de Allan Kardec, assim procedendo não faremos mais confusão e deixaremos de utilizar qualquer adjetivo para designar o Espiritismo ou Doutrina Espírita.

Como espírita, respeitamos todas as crenças e todas as religiões que promovem o bem, e somos a favor das manifestações ecumênicas, do ecumenismo, pois as religiões devem se dar as mãos quando se trata de promover a solidariedade, a fraternidade, a paz, a não violência e a caridade, reunindo espíritas, católicos, evangélicos, umbandistas, judeus, islâmicos e outros para o bem comum, mas compreendemos que essa reunião de esforços não significa misturar as crenças, nem confundi-las.

O Espiritismo é o Espiritismo, e nada tem a ver com os cultos afros, sendo que o kardecismo não existe, pois Allan Kardec nunca criou por ele mesmo uma ciência, uma filosofia ou uma religião, visto que os ensinos provêm dos Espíritos, ensinos esses que ele estudou, organizou, deduziu suas consequências e publicou; assim, ele não pode ser considerado criador, fundador ou chefe do Espiritismo.

 

Marcus De Mario é escritor, educador, palestrante; coordena o Seara de Luz, grupo on-line de estudo espírita; edita o canal Orientação Espírita no YouTube; é editor-chefe da Revista Educação Espírita; produz e apresenta programas espíritas na internet; possui 40 livros publicados.        

 

 

     
     

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