CRISTIAN
MACEDO
cristianmacedo@potencial.net
Porto Alegre, Rio Grande do Sul (Brasil)
Os
sábios vencem a culpa
(Sobre
o item 1009 d´O Livro dos Espíritos)
A
culpa dentro de nós
A culpa mora em nossa mente.
Foi colocada lá. Isso faz com que muitas
vezes não consigamos, racionalmente, entendê-la.
Ela não é lógica... ela não é natural.
Diante
de alguns atos, sentimos um mal-estar sem
fundamento lógico. É a sensação do
pecado, logo da culpa.
Não
estou falando dos crimes, das ações
imorais. Estas, pela lógica, você chega à
conclusão de que são erradas e repreensíveis.
Falo dos atos naturais, que são tidos como
pecaminosos e imorais.
Comer
uma torta de morango para alguns é pecado.
Gastar dinheiro em lazer, questionar
autoridades, fazer sexo, jogar futebol,
dizer “não”... para muitos é pecado. Aí
surge o problema, pois (quase) todos fazem
essas coisas “pecaminosas” e
naturalmente se sentem culpados.
Nunca
serão bons, pois os bons são os que se
privam disso tudo. Logo não merecem o céu,
os planos superiores, a felicidade...
A
partir daí surge o masoquismo, pois as
pessoas que alimentam a culpa só se sentem
bem realmente quando sofrem. O sofrimento é
uma espécie de redenção... de purificação.
A consciência se tranqüiliza. “Sofro
para purgar.”
Mas
quem a pôs aqui dentro?
Eram
dois sócios.
Pela
madrugada um deles jogava, nas portas e
paredes das casas de uma cidadezinha, uma
substância imunda e corrosiva. Após feita
a maldade, ele ia embora.
Quando
os moradores despertavam, viam aquela
sujeira em suas portas e janelas e se
perguntavam: como limpar isso? Nada parece
funcionar.
Nisso
chegava um dos sócios e dizia: “Para essa
substância tenho uma fórmula milagrosa.
Fiquem tranqüilos, basta me contratarem”.
Todos
contratavam seus serviços e ficavam
satisfeitos.
Essa
história, Osho utiliza para ilustrar um
fato milenar: os sacerdotes de diversas
religiões inculcam o mal da culpa na mente
dos fiéis para depois apresentarem-se como
os portadores do remédio.
A
culpa, o medo, o risco da possessão diabólica...
são armas utilizadas até hoje na busca de
fiéis.
Os
que deveriam libertar consciências acabam
por fazer de tudo para aprisioná-las.
Poucas
coisas aprisionam mais que o sentimento de
culpa.
Reconstruindo o conceito de culpa
O
sentimento de culpa ligado ao pecado deve
ser abolido.
Chamamos
de culpa a responsabilidade diante de nossos
atos.
Agora,
quando falo “sou culpado”, estou
dizendo: “sou responsável”.
Desta
forma as coisas ficam mais tranqüilas.... Não
vou mais arder eternamente no fogo do
inferno, ou estacionar a vida por que errei.
Tenho
que saber onde errei e procurar corrigir meu
erros.
Ser
responsável é saber que todas as ações
realizadas por nós nos dizem respeito. Não
podemos responsabilizar os outros por nossas
decisões e atos.
Somos
seres livres.
Se
somos livres para fazer, obviamente devemos
compreender que as reações obtidas com
nossos atos estarão conosco.
No
universo existe a lei de ação e reação
e, conforme disse Jesus, cada um recebe
segundo suas obras.
Se
comemos demais a digestão é ruim. Se
comemos de menos enfraquecemos. Se ficamos
expostos ao sol de meio dia, sem filtro
solar, nos queimamos. Se não estudamos para
os testes não somos aprovados. Se
alimentamos a raiva, surge o mal estar,
dores no peito, queimação no estômago,
problemas de toda ordem...
Ação
e reação.
Culpa
e castigo.
Quem
é o culpado?
“É
aquele que, por um desvio, por um falso
movimento da alma, se afasta do objetivo da
criação, que consiste no culto harmonioso
do belo, do bem, idealizados pelo arquétipo
humano, pelo Homem- Deus, por Jesus-Cristo.”
Ser
culpado, ou seja, responsável por “um
falso movimento da alma”, significa ser
responsável por agir contra a ordem
universal... contra a harmonia. O belo e o
bem geram a ordem. O feio e o erro a
desordem.
Que
é o castigo?
“A
conseqüência natural, derivada desse falso
movimento; uma certa soma de dores necessária
a desgostá-lo da sua deformidade, pela
experimentação do sofrimento. O castigo é
o aguilhão que estimula a alma, pela
amargura, a se dobrar sobre si mesma e a
buscar o porto de salvação. O castigo só
tem por fim a reabilitação, a redenção.”
Sofrer
um castigo é “uma certa soma de dores”.
Não somente a dor de barriga, ou a dor de
cabeça. Todas as conseqüências de nossos
atos perturbadores é o que chamamos de
“castigo”.
E
não é um castigo eterno. Pois nenhum erro
é eterno.
O
sábio toma consciência da vida, entendendo
os mecanismos da dor, fazendo de tudo para
evitá-la. Eis o bom exercício da liberdade
e da responsabilidade.