Introdução
Depois de haver exposto em “O Livro dos
Espíritos” a parte filosófica da ciência
espírita, Allan Kardec cuidou em “O Livro dos
Médiuns” da parte prática da referida ciência,
com vistas aos que querem ocupar-se das
manifestações, seja por si mesmos, seja para se
darem conta dos fenômenos que foram chamados a
observar.
Na obra em apreço, ver-se-ão os escolhos que
médiuns e experimentadores podem encontrar e o
meio de evitá-los.
As duas obras, conquanto seja continuação uma da
outra, são até certo ponto independentes; mas,
aos que quiserem ocupar-se seriamente do
assunto, o Codificador recomenda ler primeiro
O Livro dos Espíritos, porque contém os
principais fundamentos, sem os quais algumas
partes d´O Livro dos Médiuns serão talvez
dificilmente compreendidas. (L.M., Introdução.)
Questões objetivas
1. Os progressos do Espiritismo aconteceram a partir de que momento?
O Espiritismo fez grandes progressos desde
alguns anos, mas os fez sobretudo imensos logo
que entrou no caminho filosófico, porque foi
apreciado por pessoas esclarecidas. Hoje ele não
é mais um espetáculo; é uma doutrina da qual não
se riem mais os que zombaram das mesas girantes.
Ao esforçarmo-nos por conduzi-lo e mantê-lo
neste terreno, temos a convicção de lhe
conquistar mais partidários úteis do que
provocando a torto e a direito manifestações das
quais se poderiam abusar. Disso temos todos os
dias a prova pelo número de adeptos conseguidos
pela simples leitura do Livro dos Espíritos.
(L.M, Introdução.)
2. Para falar a alguém sobre Espiritismo é preciso primeiro uma base.
Que base é essa?
Antes de entabularmos qualquer discussão
espírita, importa-nos que averigüemos se o
interlocutor admite a existência da alma e a de
Deus. Essa é a base de todo o edifício. Se ele
responde negativamente ou com evasivas ("Não
sei; eu queria que fosse assim, mas não estou
certo") às perguntas: Crês em Deus? Crês ter uma
alma? Crês na sobrevivência da alma depois da
morte?, seria totalmente inútil ir além, porque
tal intento seria o mesmo que demonstrar as
propriedades da luz a um cego. Ora, as
manifestações espíritas não são outra coisa
senão os efeitos da propriedades da alma. Se o
indivíduo não admite a existência desta,
estaremos perdendo tempo, a não ser que usemos
uma outra ordem de idéias. (L.M., item 4.)
3. Que diz o Espiritismo acerca do sobrenatural e do maravilhoso?
Aos olhos dos que vêem a matéria como a única
potência da natureza, tudo o que não pode ser
explicado pelas leis da matéria é maravilhoso ou
sobrenatural. Para esses, maravilhoso é sinônimo
de superstição e sobrenatural é o que é
contrário às leis da natureza. O Espiritismo não
aceita todos os fatos que são atribuídos ao
maravilhoso e ao sobrenatural. Longe disso,
demonstra a impossibilidade de muitos deles e o
ridículo de certas crenças que são, propriamente
falando, o efeito de uma superstição. Todos os
fenômenos espíritas têm por princípio a
existência da alma, sua sobrevivência ao corpo e
suas manifestações. Esses fenômenos, fundados
numa lei da natureza, não têm nada de
maravilhoso nem de sobrenatural, no sentido
vulgar dessas palavras. Os fatos verídicos
reputados sobrenaturais só o são porque quem
assim os julga não lhes conhece a causa.
Determinando-lhes a causa, o Espiritismo os faz
penetrar novamente no domínio dos fenômenos
naturais. (L.M., itens 10, 13 e 14.)
4. Quais e quantas são as classes de espíritas?
Existem quatro classes principais: 1a)
os espíritas experimentadores, que crêem
pura e simplesmente nas manifestações e acham
que o Espiritismo é uma simples ciência de
observação; 2a) os espíritas
imperfeitos, que também compreendem a parte
filosófica da doutrina e admiram a moral que
dela decorre, mas não a praticam. A influência
do Espiritismo sobre o caráter deles é
insignificante ou nula; eles não mudam nada de
seus hábitos e conservam a avareza, o orgulho, a
inveja ou o ciúme que os caracterizavam antes; 3a)
os verdadeiros espíritas, ou melhor, os
espíritas cristãos, que não se contentam com
admirar a moral espírita, mas a praticam,
aceitando-lhes todas as conseqüências.
Convencidos de que a existência terrestre é uma
prova passageira, trabalham por tirar proveito
destes curtos instantes para caminharem pela via
do progresso, esforçando-se por fazer o bem e
reprimir seus maus pendores. A caridade é, em
todas as coisas, a regra de sua conduta; 4a)
os espíritas exaltados, que aceitam
facilmente e sem reflexão tudo o que provém do
plano espiritual. Exagerados em sua crença,
revelam uma confiança cega e à vezes pueril nas
coisas do mundo invisível. Eles são os menos
indicados para convencer, porque são de muito
boa fé enganados, seja por espíritos
mistificadores, seja por pessoas que lhes
exploram a credulidade. (L.M., item 28.)
5. Que papel incumbe ao espírita de verdade?
Ao espírita de verdade jamais faltará ocasião de
fazer o bem; corações aflitos a aliviar,
consolações a distribuir, desesperos a acalmar,
reformas morais a operar – eis sua missão, na
qual encontrará também sua verdadeira
satisfação. (L.M., item 30.)
6. Para se ensinar Espiritismo, qual é o método melhor?
O melhor método do ensino espírita é dirigi-lo à
razão antes de dirigi-lo à vista. É o que
seguimos em nossas lições e com o qual estamos
muito satisfeitos. O estudo preliminar da teoria
tem uma outra vantagem que é a de mostrar
imediatamente a grandeza do objetivo e do
alcance desta ciência; aquele que começa por ver
uma mesa girar ou bater é mais levado à
zombaria, porque dificilmente se persuade de que
de uma mesa possa sair uma doutrina regeneradora
da Humanidade. Começar pela teoria nos permite
passar todos os fenômenos em revista,
explicá-los, compreender-lhes a possibilidade,
as condições sob as quais podem produzir-se e os
obstáculos que poderão ser encontrados. Qualquer
que seja a ordem sob a qual ele aparecem depois,
nada terão que possa surpreender, poupando-se a
quem quer trabalhar uma série de desenganos.
(L.M., itens 31 e 32.)
7. Ao tempo da codificação do Espiritismo, surgiram vários sistemas de
refutação à doutrina espírita. Quais são esses
sistemas?
Ao todo, os sistemas criados para refutar o
Espiritismo perfazem 13 títulos: sistemas de
negação, isto é, os sistemas dos adversários do
Espiritismo; sistema do charlatanismo, que
atribuem os fenômenos a trapaças; sistemas de
loucura; sistemas de alucinação; sistema do
músculo que estala; sistema das causas físicas;
sistema do reflexo; sistema da alma coletiva;
sistema sonambúlico; sistema demoníaco; sistema
otimista; sistema monospírita; e sistema da alma
material. (L.M., itens 37 a 50.)
(Continua no próximo número.)