JORGE HESSEN
jorgehessen@gmail.com
Brasília, Distrito Federal (Brasil)
Espiritismo,
cento e cinqüenta anos de
convite ao amor
Influenciada pelos ideais do Iluminismo e da
independência norte-americana de 1776, a
Revolução Francesa foi o conjunto de
acontecimentos que, entre maio e dezembro de
1789, proscreveu a estrutura do Antigo
Regime (Ancien Régime) e a autoridade
do clero e da nobreza, alterando o quadro
sociopolítico e religioso da França. Meio
século depois, também no palco do famoso
evento, o professor Rivail, com o concurso
dos Espíritos, publicava o livro que
demarcaria o início de outra grande
revolução aos franceses e ao mundo. Desta
vez uma revolução profunda, contínua e
silenciosa, por ocorrer na intimidade de
cada indivíduo.
Estava
sendo apresentada à Humanidade numa
belíssima manhã de primavera iluminada pelo
Sol, a 18 de abril de 1857, no majestoso
Palais Royal, Rua de Rivoli, Galeria d’
Orleans, 13, na Livraria E. Dentu a
revolucionária publicação de
O Livro
dos Espíritos, contendo os
princípios da Doutrina Espírita. Nesse
proscênio surgia o Espiritismo. Nascia,
juntamente com O Livro dos Espíritos, o
ínclito mestre Allan Kardec.
O Livro dos Espíritos é considerado por
muitos estudiosos como a obra mais avançada
de Filosofia de que se tem notícia, tratando
de assuntos que tocam todos os ramos do
conhecimento. Com ele inaugura-se a "era do
Espírito e da Fé raciocinada". Um dos
pontos altos do livro é o ensinamento lei
das vidas sucessivas, objetivando demonstrar
que o Espírito não encarna uma só vez, mas
tantas e quantas forem necessárias a fim de
se tornar um Espírito perfeito e portador
das mais nobres qualidades morais e
espirituais.
Cento e
cinqüenta anos se passaram e neste momento
em que a divulgação na mídia, em especial no
cinema e na televisão, se destaca como fator
de propaganda doutrinária, constituindo novo
campo de disputa no espaço público, o
Espiritismo vem alargando sua inserção
social entre as camadas de classes sociais
de todos os matizes. Os resultados dessa
difusão identificamos nas pesquisas
realizadas em 1998 pelo Instituto Gallup,
onde se constatou que 45,9%, ou seja, quase
metade dos católicos que dizem freqüentar
semanalmente serviços religiosos afirmam
"acreditar na reencarnação". Noutra pesquisa
realizada em 2000 em cinco metrópoles
brasileiras: 55,7% dos entrevistados
disseram "acreditar em vida após a morte",
sendo que 35,8% destes afirmaram crer na
reencarnação. Isso é reflexo inequívoco da
silenciosa revolução espírita no tecido
social brasileiro.
Doutrina de
educação moral e de liberdade, propõe a
revisão de valores comportamentais,
assumindo-se valores verdadeiros e
imorredouros como a humildade, honestidade,
dignidade, amor ao próximo e outras
virtudes, como sendo a fórmula
revolucionária de melhoria progressiva da
Humanidade.
Nestes 150
anos, quando muitos se movimentam para
comemorações ao longo de 2007, oportuno
advertir que não bastam as manifestações
exteriores alusivas ao sesquicentenário do
Espiritismo e as reuniões de congraçamento
de grande número de pessoas. Mais importante
de tudo será o alcance em profundidade que
essa mensagem de renovação e de esperança se
dê em nós, para que nos movimente a
intimidade, impulsionando-nos no dia-a-dia
para uma vivência em plena consonância com
as proposições de Jesus.
Para esse
mister torna-se imperioso mantenhamos o
Espiritismo com a pureza essencial, aos
moldes do Cristianismo nascente, sem
permitir sejam incorporadas práticas
estranhas ao projeto dos Espíritos
Superiores.
A unidade
doutrinária foi a única e derradeira divisa
de Allan Kardec, por ser a fortaleza
intransponível do Espiritismo. Para
tornarmos o Espiritismo inexpugnável urge
munir-nos contra a infiltração nas fileiras
espíritas de ideologias discutíveis, ligadas
a movimentos incompatíveis com os sãos
princípios e com as finalidades essenciais
da Doutrina. Por essa razão, e por não ser
tarefa das mais fáceis, as federativas
estaduais ainda encontram extremas
dificuldades de realizarem o ideal da
Unificação sonhada por Kardec e Bezerra de
Menezes na Pátria do Evangelho.
Tão firmes
são os fundamentos espíritas que, apesar do
enorme avanço dos conhecimentos científicos
na segunda metade do século XIX e no século
XX, não houve necessidade de ajustar a
Doutrina Espírita a quaisquer verdades ou
descobertas novas. Os espíritas estudiosos
sabem que muitos dos ensinos doutrinários
constituem-se em antevisões de realidades
que só futuramente serão reconhecidas pelos
diversos departamentos científicos a que se
dedica o homem. Isto não significa que o
Espiritismo seja obra pronta e acabada,
porém que não pode e não deve ser mutilada
em seus princípios.
Cento e
cinqüenta anos se passaram de convite ao
amor e à instrução à luz da Terceira
Revelação. Atualmente são milhões, em
todos os quadrantes do Globo, aqueles que
aceitam a convocação, penetram o
conhecimento da vida em sua máxima amplitude
e grandeza, e estão trabalhando
proficuamente para a grande reforma moral,
numa revolução silenciosa, porém constante,
rendendo preito de gratidão ao
Espiritismo, por tudo o que ele já fez pela
humanidade.
Roguemos a Deus cubra de bênçãos o Movimento Espírita mundial, a fim de
que cada Centro Espírita, cada organização
espírita, através dos espíritas, continuem a
brilhar suas luzes, indicando roteiro seguro
para a caminhada do homem não somente para
os próximos 150 anos, mas para os próximos
milênios.
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