JOSÉ
PASSINI
Passinijose@yahoo.com.br
Juiz de Fora, Minas Gerais (Brasil)
Você
sabe quem é,
mas sabe o que é?
A morte amedronta tanto o ser humano, que
este assume posturas as mais variadas, desde
aquelas infantis, em que nega toda a sua
maturidade, até outras em que chega a negar
a sua condição de ser racional. É
profundamente estranho que essa criatura,
que se pavoneia de ser o rei da criação,
se mostre tão dolorosamente despreparada
diante da única certeza comum a todos os
seres humanos.
Ao
interrogarmos uma pessoa onde quer ser
enterrada quando morrer, certamente
ouviremos como resposta a designação de um
local de sua preferência. Ao ser
interrogada sobre o destino da sua alma,
certamente responderá que irá para o céu.
Mas a fragilidade desse posicionamento é
facilmente demonstrável diante de um
simples questionamento: "E se ela não
for para o céu e sim para o inferno, que
isso importa a você, pois é ela
quem vai e não você? Você não disse que
deseja ficar enterrado em tal lugar?"
Essas perguntas causam perplexidade e levam
muitas pessoas, pela primeira vez, a usarem
seu raciocínio no exame do assunto morte.
Depois de algum tempo, costumam aparecer saídas
como esta, ditas até em tom vitorioso:
"Não sou eu quem vai ser enterrado em
tal lugar; é o meu corpo!" Com essa
afirmativa, ao invés de resolver o
problema, agrava-o ainda mais..
O
ar de vitória desaparece logo, ao se
lembrar à pessoa que ela usou dois
possessivos: meu
corpo e minha
alma. Ora, o possessivo, como bem ensinam as
gramáticas, é a palavra que indica posse.
Se há posse, há possuidor. Quem é o
possuidor daquele corpo e daquela alma? Quem
está habilitado a apresentar-se como
proprietário e, conseqüentemente,
reclamar-lhes a posse?
É
exatamente essa falta de racionalidade que
leva o homem a fugir do assunto, portando-se
como a criança que, ao esconder o rosto atrás
das mãos, imagina ter resolvido o problema
do seu esconderijo. Ou como o avestruz que,
segundo dizem, esconde a cabeça sob a
areia, pensando assim fugir do perigo.
A
criatura humana recusa-se a pensar, porque
pensar na morte dói. Meditar, refletir
sobre a questão, só pode revelar-lhe a sua
fragilidade, o seu despreparo diante do
magno assunto.
E
qual a saída para o impasse? A única posição
lógica é aquela de o homem assumir a sua
condição de Espírito imortal, detentor da
posse de um corpo físico, pelo qual ele se
manifesta temporariamente, enquanto esse
corpo tiver vida. É o Espírito que pensa,
que aprende, que odeia, que ama. O corpo é
mero instrumento de uso transitório.
Pode-se até dizer que é descartável. O
Espírito, não. Ele é imortal, indestrutível.
É o arquivo vivo de todas as experiências
vividas durante a romagem terrena.
Com
o fenômeno da morte, o Espírito se afasta
do corpo que já não mais lhe serve como
instrumento, podendo dizer, na ocasião:
"habitei esse corpo, serviu-me ele de
vestimenta durante muitos anos". O
corpo jamais poderá dizer: "Esse espírito
que aí vai foi meu", simplesmente
porque o corpo é matéria morta, que começa
a decompor-se tão logo ocorra a morte.
Ao
conscientizar-se dessa realidade, o homem
passa a ter uma verdadeira consciência de
imortalidade. Quanto mais medita sobre o
assunto – desde que desligado de explicações
de determinados teólogos – tanto mais
adquire um estado de consciência a que se
pode chamar "cidadania
espiritual". Passa a sentir-se imortal.
A morte já não mais se constitui naquele
desastre terrível a bi- ou tripartir-lhe o
ser: "Vou para debaixo da terra, minha
alma vai para o céu e eu para não sei
onde."
Ao
assumir a cidadania espiritual, seus
horizontes se alargam. Já não é apenas um
homem, mas um Ser imortal, cujo destino não
se prende apenas à Terra, vez que se sente
pertencente ao Universo, às "muitas
moradas da casa do Pai", conforme
ensinamentos de Jesus. Assim pensando,
chegamos à conclusão de que somos
essencialmente espíritos, atualmente
encarnados. Um dia deixaremos nosso corpo
terrestre, como Jesus deixou o seu,
conservando apenas o corpo celeste, imortal,
conforme o Mestre, de forma genial ensinou e
exemplificou!
Fica,
entretanto, para muitas pessoas, uma
pergunta que invariavelmente aparece quando
são feitos estes comentários: Se o túmulo
estava vazio e o corpo com que Jesus se
apresentava era espiritual, onde ficara seu
corpo físico? O Mestre, evidentemente, não
podia esclarecer o assunto àqueles com quem
convivera, conforme se comprova em suas
palavras, já citadas: “Ainda
tenho muito a vos dizer, mas não o podeis
suportar agora.” (Jo, 16: 12).
Cumprindo
a promessa de Jesus, o Consolador vem
relembrar as suas lições e explicar muitos
fatos que foram registrados pelos
Evangelistas, mas que, à época, não foram
compreendidos, como as súbitas aparições
de Jesus no cenáculo e na pesca, e o seu
desaparecimento desconcertante diante dos
companheiros de caminhada a Emaús. Tais
fatos, tomados por miraculosos por muitos teólogos,
encontram no Espiritismo explicações
claras e lógicas, não no campo das
especulações teológicas, mas dentro da
objetividade da Ciência, nas pesquisas do
fenômeno de materialização – hoje
chamado ectoplasmia pelos parapsicólogos
– levado a efeito por vários cientistas,
entre os quais se destaca a figura de Sir
William Crookes o célebre físico inglês,
que pôde provar que o Espírito Katie King,
com seu corpo espiritual materializado,
limitava-se dentro do plano material como se
estivesse encarnado, tornando-se visível,
audível e tangível.(“Fatos Espíritas”,
William Crookes; “História do
Espiritismo”, Arthur Conan Doyle).
Quanto
ao desaparecimento do corpo físico de
Jesus, pode-se ler esclarecimento sobre a
dissipação de fluidos remanescentes em cadáveres,
no livro “Obreiros da Vida Eterna”, de
André Luiz (caps. 15 e 16). Trata-se de
operação piedosa levada a efeito por
benfeitores espirituais, que dissipam na
atmosfera os fluidos remanescentes no corpo,
antes do sepultamento, afim de resguardá-lo
de profanação que poderia ser levada a
efeito por Espíritos inferiores.
Fazendo-se
um paralelo, é lícito supor que o próprio
Mestre se haja encarregado de dissipar as
energias remanescentes em seu corpo e, ao
fazê-lo, desmaterializou-o completamente.
É fácil entender que o corpo de Jesus não
poderia ficar no túmulo, pois quando se
divulgasse a notícia que o Mestre
ressurgira da morte, ele seria fatalmente
exposto pelos sacerdotes, a fim de negar a
ressurreição, que, para quase todos, era
apenas física.
E
não seria essa a resposta à pergunta
crucial deixada no ar pelos cientistas que
estudaram exaustivamente o Sudário de
Turim, que apresenta impressa
a figura de um homem, cujas características
coincidem com o que se sabe a respeito do
corpo de Jesus, tanto no que tange às
características físicas, quanto aos
sofrimentos que lhe foram impostos, sem que
hajam eles conseguido saber que tipo de fenômeno
ocorreu na superfície do tecido para fixar,
de maneira impressionante, aquela imagem?
Entretanto,
é inegável que essa impressão no tecido não
foi provocada por radiação, nem por calor,
nem por tintura, nem por pintura. Até hoje
não se sabe o que provocou aquelas impressões
que permitem a um computador restaurar a
figura de um cadáver que fora flagelado e
crucificado, antes de ser deposto sobre
aquele pano.
Concluindo,
pode-se dizer que o Espiritismo, ao
decodificar a mensagem de imortalidade
deixada por Jesus, esclarece-nos a respeito
do que verdadeiramente somos:
Espíritos imortais, temporariamente
encarnados em corpos mortais!